Aos
sábados da parte da tarde, num canal de televisão privado, num programa realizado
em casa de um cantor, num bonito arrabalde de Lisboa onde não faltam burros e
cães, adianta-se um número de telefone para quem quiser falar com a vedeta, que
não é nada do meu agrado, mas que parece agradar a muitos, a troco de se habilitar
a uma choruda quantia de dinheiro. O programa chama-se Alô, alô qualquer coisa
e é a meu ver um imbecilidade cheia de sorrisos. Sem saber como, o meu telefone
parece também ter entrado para a lista das chamadas de valor acrescentado,
porque numa tarde, quando me encontrava com mais dois binómios a fazer a milha
diária, alguém através do telemóvel faz-me o seguinte pedido: “Eu queria que me
indicasse um canito que fosse bom para mim!” O meu interlocutor não era uma pessoa que
me fosse próxima, nunca o vi mais gordo nem mais magro, a não ser por
breves instantes em duas ocasiões, factos que não o impediram de procurar
conselhos gratuitos e de querer ver o seu pedido satisfeito.
Há
uns anos atrás, após completar o adestramento do seu cão, uma aluna de características
coléricas perguntou-me que tipo de Pastor Alemão seria o indicado para ela. A
resposta foi pronta e breve: “Nenhum!” Ao cavalheiro da chamada por telemóvel
disse-lhe que não o conhecia suficientemente bem, que não lhe conhecia as
mais-valias e que diante disso não tinha como aconselhar-lhe um cão, resposta
que apesar de correcta parece não ter sido do seu agrado, porque já vão alguns
meses e não voltou a importunar-me, o que se saúda. Não há cães feitos à medida
para ninguém, nem mesmo pessoas e muito menos haverá para quem não tem nada
para dar. Apesar dos cães serem um fenómeno de adaptação, mesmo assim exigem
algumas condições cuja ausência pode dificultar ou impedir a sua aquisição. Só
depois de eu saber o que tenho para dar a um cão é que parto para a sua escolha
ou não, porque doutro modo posso estar a atentar contra as características
individuais do animal e por conseguinte contra o seu bem-estar.
Nem todos os cães são indicados para todas as pessoas, chegando alguns à inversão de papéis com os donos e outros a quem nem se lhes pode levantar a voz, uns manifestamente teimosos e outros de propensão agressiva, pelo que uns podem exigir donos experientes e outros não, mas nenhum dispensa a temperança, a paciência, o cuidado aturado e a afeição. Exactamente como o “dono ideal”, o “cão ideal” ainda não veio – está para chegar! Importa, pois, coadunar o perfil psicológico do dono com o do cão para que se completem e não andem em constante confrontação (às turras). À parte disto, porque a aquisição de um cão é um projecto da família, há que considerar todos os membros do agregado familiar na hora de escolher o cão, para que vá ao encontro das expectativas de todos e não se constitua num problema acrescido. Convém relembrar que há cães que necessitam de mais exercício físico que outros, alguns que têm maiores necessidades energéticas e outros ainda, poucos, que só estão bem dentro de casa. Como um cão para ser feliz precisa de um dono feliz, há que escolher o cão em função do dono. Assim, quando não conheço o eventual dono de um cão, não lhe posso aconselhar nenhum e muito menos pelo telefone.
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