Os
ucranianos não são anjos caídos do céu nem super-homens, somente gente igual à
nossa, com virtudes e defeitos que se confundem com os nossos, o que estreita
bastante a distância que nos separa (3.310,65 km) e facilitou a sua integração
aqui. Caíram-nos no goto logo que aqui chegaram, por ocasião da queda da
extinta União Soviética, porque agarraram qualquer trabalho, trabalharam
arduamente e foram adiante (1), apesar de mal remunerados e de terem
muitos deles habilitações superiores ao que lhes era exigido. Não tiveram à sua
disposição euro-subsídios, não abraçaram o carteirismo (2) como modo de vida, não se prestaram a pedir
à porta das igrejas, a roubar nas prateleiras dos supermercados e nem contribuíram
para o aumento da população carcerária: comportaram-se como se comportam os
emigrantes portugueses espalhados pelo mundo.
Os
que cá ficaram aprenderam rapidamente a falar o português e de tal maneira o
fizeram que o fazem melhor que os brasileiros, havendo alguns que nem se
suspeita serem ucranianos. Agora, com a invasão da sua terra natal pelas tropas
do Sr. Putin, os homens (3) estão
a partir para combater a chusma invasora, passando procurações e deixando para
trás mulheres e crianças, retaguarda que não os esquece ou abandona, mas que se
veste de azul e amarelo, que empunha bandeiras e que se manifesta nas ruas ao
mesmo tempo que embala e expedita os bens doados pelos portugueses (material
médico, medicamentos, comida, roupa, etc.). Ao considerá-los como uns de nós, o
povo português tem-se mobilizado para ajudá-los e vive pregado nas notícias, a
lamentar a morte de civis inocentes, a apostar na resistência e vitória do povo
ucraniano, a desejar a paz que lhes devolva a autodeterminação e a liberdade.
Numa
declaração emocionada, Inna Ohnivets, embaixadora da Ucrânia em Portugal,
agradeceu recentemente ao povo português nas televisões a sua solidariedade
para com a Ucrânia e os ucranianos, culminando a sua intervenção com: “ Somos
irmãos. Força Portugal, Glória à Ucrânia!” Por tudo isto, logo que começou a
invasão russa, o problema da Ucrânia aproximou ainda mais as duas nações,
tornando-o aqui quase imediatamente num problema doméstico – todos desejamos
que a Rússia saia – ainda que haja uma escassa minoria que não se manifeste por
dívidas ancestrais ao mesmo chiqueiro que criou e amamentou Vladimir Putin, o
que apesar de esperado, não deixa de ser uma vergonha e um insulto à memória
dos que morrem diariamente na Ucrânia de arma na mão ou inocentemente dentro
das suas casas (mulheres e crianças), esperançados na vitória e na reconquista
da liberdade para o seu povo.
O título deste texto “слава україні” (lê-se
“Slava Ukrayini”) significa “Glória à Ucrânia”, exclamação muito ouvida entre
os ucranianos que nas horas difíceis se congregam fervorosamente na defesa da
sua pátria, para eles o melhor dos seus bens e símbolo máximo da sua identidade
enquanto homens livres e dispostos a lutar pelo seu lugar entre as nações.
Glória seja dada à Ucrânia pelos patriotas dispostos a morrer para que ela não
se extinga; Glória à Ucrânia pela força inspiradora dos seus filhos e Glória à
Ucrânia por lutar pela liberdade que também é nossa! Nesta hora de amargura somos
todos ucranianos, estamos solidários com os feridos, choramos a perca de cada
criança, sentimos a dor e a morte de cada mãe e prestamos a mais sentida
homenagem aos soldados desaparecidos - слава україні!
(1)Houve inclusive médicos a trabalhar na construção civil, na agricultura e como empregadas domésticas. (2) Punguismo no Brasil. (3) Alguns com mais de 65 anos de idade.
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