terça-feira, 15 de março de 2022

MAIS VALIA ESTAR CALADO!

 

Depois do sucesso que Cesar Millan alcançou, penso que todos os países ocidentais têm um “encantador de cães” (o português está ainda a romper o saco amniótico). O alemão chama-se Martin Rütter, nasceu em Duisburg, no estado de Nordrhein-Westfalen, tem 51 anos de idade, um currículo académico superior ao do seu congénere mexicano e é melhor nutrido de carnes. Tal como o latino-americano, é também um prolífero autor e uma vedeta de televisão bastante conceituada, tendo agora no ar um programa intitulado “Die Unvermittelbare”, em exibição na RTL + desde o dia 06 de fevereiro deste ano. Neste programa, Rütter procura realojar cães problemáticos e também os extraordinariamente pesados, o que incluiu um São Bernardo de nome “Mäuschen”, com 66 kg, que passou toda a sua vida (6 anos) preso num canil até chegar a um abrigo de animais, onde dois cidadãos, Sandra Bock e Thiemo Sauer, o foram buscar para adopção. Quando este casal estava a passear o São Bernardo num parque, este caiu sobre outro cão e mordeu-o até á morte, felizmente que as câmeras não mostraram este chocante, desagradável e trágico incidente.

Perante o sucedido, que deveria ter-lhe causado um sério amargo de boca, o profissional de cães alemão comentou. “Algo realmente dramático aconteceu… Mäuschen não está muito bem sociabilizado, não consegue julgar os cães e atacou um cão pequeno no parque, que morreu em consequência dos ferimentos… Eu não acho que tenha sido uma situação negligente. Do meu ponto de vista, foi uma cadeia de circunstâncias que colidiram.” Como Sandra e Thiemo querem manter a seu lado o São Bernardo, Rütter exige-lhes apenas uma condição: “Mäuschen deverá usar açaime nos seus passeios ao ar livre, e isso “para sempre” (casa roubada, trancas à porta).

Independentemente do lugar onde tudo aconteceu, porque a morte do pequeno cão não foi fictícia, estamos perante um escandaloso crime contra a lei do bem-estar animal, que não deve e não pode ser ignorado ou escamoteado. Era mais do que provável que um São Bernardo naquelas condições pudesse atacar outro cão, especialmente para uma pessoa como o senhor Rütter, um profissional no entendimento dos cães. Face ao acontecido e contrariamente ao que disse Martin Rütter, alguém foi negligente e acabou por cometer um crime por negligência – o assassinato de um cão. Poderão acusar-me de falta de solidariedade para com um colega, o que eu sinceramente discordo, porque não me considero seu colega e não posso solidarizar-me com os seus erros. A morte do pequeno cão não aconteceu por uma mera casualidade ou por uma colisão de circunstâncias, mas porque o São Bernardo não tinha e deveria ter o açaime posto, um igual ao que Rütter aconselhou aos novos donos do animal depois do disparate, com a recomendação do cão sair à rua doravante sempre com ele posto. O mundo do espectáculo não se compadece por vezes dos adestradores, confundindo facilmente os cães a ficção com a realidade. Fico a aguarda o final desta história trágico-canina. 

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