segunda-feira, 17 de fevereiro de 2020

OS CÃES DOS CICLISTAS

Há muito que é sabido, talvez desde o primeiro cão domesticado, que sempre que se inicia um processo de treino canino, acontece uma transferência física e anímica do dono para o cão, espelhando o animal alguns características do seu líder, ao ponto de alguém dizer “cara de um, focinho de outro”. Assim, quando pegamos na trela de um cão alheio e vamos adiante, recebemos quase automaticamente indícios sobre a personalidade, a actividade principal e também do hobby preferido do seu dono. Os ciclistas, atletas inveterados que treinam horas a fio, poderão ver o seu hobby denunciado pelo seu cão? Sim, e vamos já saber como!
Antes de mais e a título de informação, adianta-se para aqueles que se encontram arredados do mundo das bicicletas, que algumas podem custar milhares de euros, mais até que uma dezena de milhares, porque há-as para diferentes fins e gozos, eléctricas, cada vez mais leves, com amortecedores, mudanças eléctricas, travões de disco e sei lá com mais o quê! De volta ao cão dos ciclistas e ao modo como denunciam o hobby dos seus donos, que no caso dos semiprofissionais e profissionais é a sua actividade principal, os cães desta gente tendem a pendurar-se continuadamente na trela, procurando apoios dissimulados e estirando o pescoço para anularem a acção dos estranguladores. Fá-lo-ão por instinto, vontade própria ou por indução?
Como já se suspeitava, fazem-no por indução. O ciclismo é um desporto muito exigente e duro, os seus praticantes são obrigados a grandes esforços e bem depressa são obrigados a dosear as suas energias se querem alcançar as metas pré-determinadas. Quando importa aliviar as pernas, o melhor que há a fazer é agarrar-se às fitas presentes no guiador, tirando-se partido de um troço de percurso favorável e do benefício da gravidade. Por causa disto, os ciclistas não são só pernas, mas também braços. Os que se dedicam às modalidades de BMX e BTT (neste caso tanto no Enduro como no Downhill) são ainda mais forçados a usar e a fazer mais força com braços e mãos, segundo os diferentes equilíbrios que possibilitam o melhor rendimento para o alcance das vitórias.
Este hábito esforçado de usar braços e mãos, ao invés do uso da sensibilidade que repara os erros, acaba por atentar contra a suave e leve condução à trela que o adestramento oferece e reclama, porque os ciclistas estão acostumados a fazer força, não a estranham e acham mais do que natural fazê-lo. E quando assim acontece, os seus cães virão a puxar desalmadamente quem intentar conduzi-los à trela, caso os seus donos não sejam objectos de atempada correcção. Os ciclistas apresentam ainda outra dificuldade peculiar no adestramento, dificuldade que é normalmente agravada com a sua antiguidade na prática da modalidade – a falta de ligeireza de pernas que possibilita a indispensável entrada dos cães em marcha, já que desenvolvem outros músculos para além dos necessários ao vigor da marcha, deslocando-se muitas vezes de modo precário e sintomático. Dito isto, já sabemos com o que devemos insistir junto dos ciclistas em matéria de condução canina – andamento mais célere e maior suavidade de mão!

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