Há muito que é sabido,
talvez desde o primeiro cão domesticado, que sempre que se inicia um processo
de treino canino, acontece uma transferência física e anímica do dono para o
cão, espelhando o animal alguns características do seu líder, ao ponto de
alguém dizer “cara de um, focinho de outro”. Assim, quando pegamos na trela de
um cão alheio e vamos adiante, recebemos quase automaticamente indícios sobre a
personalidade, a actividade principal e também do hobby preferido do seu dono.
Os ciclistas, atletas inveterados que treinam horas a fio, poderão ver o seu
hobby denunciado pelo seu cão? Sim, e vamos já saber como!
Antes de mais e a título
de informação, adianta-se para aqueles que se encontram arredados do mundo das
bicicletas, que algumas podem custar milhares de euros, mais até que uma dezena
de milhares, porque há-as para diferentes fins e gozos, eléctricas, cada vez
mais leves, com amortecedores, mudanças eléctricas, travões de disco e sei lá com
mais o quê! De volta ao cão dos ciclistas e ao modo como denunciam o hobby dos
seus donos, que no caso dos semiprofissionais e profissionais é a sua
actividade principal, os cães desta gente tendem a pendurar-se continuadamente
na trela, procurando apoios dissimulados e estirando o pescoço para anularem a
acção dos estranguladores. Fá-lo-ão por instinto, vontade própria ou por indução?
Como já se suspeitava,
fazem-no por indução. O ciclismo é um desporto muito exigente e duro, os seus
praticantes são obrigados a grandes esforços e bem depressa são obrigados a
dosear as suas energias se querem alcançar as metas pré-determinadas. Quando
importa aliviar as pernas, o melhor que há a fazer é agarrar-se às fitas
presentes no guiador, tirando-se partido de um troço de percurso favorável e do
benefício da gravidade. Por causa disto, os ciclistas não são só pernas, mas
também braços. Os que se dedicam às modalidades de BMX e BTT (neste caso tanto
no Enduro como no Downhill) são ainda mais forçados a usar e a fazer mais força
com braços e mãos, segundo os diferentes equilíbrios que possibilitam o melhor
rendimento para o alcance das vitórias.
Este hábito esforçado de
usar braços e mãos, ao invés do uso da sensibilidade que repara os erros, acaba
por atentar contra a suave e leve condução à trela que o adestramento oferece e
reclama, porque os ciclistas estão acostumados a fazer força, não a estranham e
acham mais do que natural fazê-lo. E quando assim acontece, os seus cães virão
a puxar desalmadamente quem intentar conduzi-los à trela, caso os seus donos
não sejam objectos de atempada correcção. Os ciclistas apresentam ainda outra
dificuldade peculiar no adestramento, dificuldade que é normalmente agravada
com a sua antiguidade na prática da modalidade – a falta de ligeireza de pernas
que possibilita a indispensável entrada dos cães em marcha, já que desenvolvem
outros músculos para além dos necessários ao vigor da marcha, deslocando-se
muitas vezes de modo precário e sintomático. Dito isto, já sabemos com o que
devemos insistir junto dos ciclistas em matéria de condução canina – andamento mais
célere e maior suavidade de mão!
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