Enquanto os europeus
encaram o bem-estar animal como uma das suas principais preocupações e
indústrias gigantescas giram em torno dos animais de estimação, possibilitando
emprego a muitos e entrada de divisas, há lugares no mundo onde ter um cão é
uma maldição, como ainda acontece no Afeganistão, uma República Islâmica essencialmente
agrícola, primeiro produtor mundial de ópio (estima-se que 80 a 90% da heroína
consumida na Europa provenha do ópio produzido ali), sendo o negócio ilegal desta
droga a sua principal riqueza, riqueza que irá também sustentar actividades
subversivas e terroristas. As mulheres afegãs sustentam uma sociedade que as
discrimina e escraviza, os Direitos Humanos não são considerados, a violência
doméstica é aceite naturalmente, os crimes de honra sucedem-se e para “compor o
ramalhete”, o narcotráfico, o branqueamento de capitais, a fraude e a corrupção
institucionalizaram-se numa terra onde rapidamente se passa de vivo a morto.
No passado dia 07 de
Fevereiro, Sexta-feira, Sahba Barakzai decidiu ir até às montanhas mais perto
de sua casa, na zona oeste do Afeganistão, levando consigo a família (pai e
duas irmãs) e o seu amado cão Aseman, um Husky Siberiano de 7 meses cujo nome
significa “céu”, numa alusão aos seus olhos azuis. Aquela caminhada veio a
transformar-se numa tragédia, quando um grupo não identificado de homens se
aproximou daquela família e matou o cachorro a tiros, dando como justificação
que uma mulher não podia ter um cão?! Mas Sahba suspeita que há algo mais por
detrás da morte do cachorro, que poderá ter sido uma retaliação contra a sua
pessoa, uma vez que ensina karaté a meninas há uma década e fundou um clube de
ciclismo para adolescentes e jovens em Herat, a 3ª maior cidade do Afeganistão.
Convém adiantar que há menos de duas décadas as mulheres estavam proibidas de
ir à escola e de trabalhar, não podendo sair de casa sem um acompanhante
masculino. Setayesh, irmã de Sahba, disse à BBC que ainda é tabu para as
meninas andar de bicicleta em Herat e que parte da comunidade reagiu
inicialmente de modo agressivo, mas sua irmã estava determinada a persistir.
Perante o sucedido com seu
cão, cujos assassinos também confiscaram o cadáver, Shaba parece ter compreendido
o “recado” e deu ouvidos aos receios da família, encerrou os seus clubes
desportivos e decidiu “pôr-se a léguas”, a atravessar a fronteira para o
vizinho Irão, país onde espera estar em segurança. Não obstante, continua
inconformada com a morte de Aseman, que podia ter vivido com ela 14 anos e que
acabou abatido aos sete meses de idade (“coisas” do Afeganistão, já é uma sorte
estar viva!).
Gostar de cães em alguns
lugares pode ser uma maldição, tanto para eles como para os seus donos, porque
poderão vir a ser abatidos por represália ou como forma de intimidação. Onde a
vida dos animais pouco importa, pouco mais importará a vida dos seus donos e
demais gente, e o Afeganistão é um claro exemplo disso, tanto por culpa própria
como pela pressão dos países vizinhos. Há quem diga que ao afegãos nasceram
para a guerra e que por isso são invencíveis. Eu não os vejo assim, acho que os
afegãos não acreditam na paz e nos seus benefícios, persistem no tribalismo e matam
para não ser mortos, tudo para garantirem as migalhas que comem e os chorudos
lucros de quem os arma e envia para a morte. São assim há milhares de anos,
provavelmente ainda antes da “Seidenstraße” (Rota da Seda).
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