segunda-feira, 13 de junho de 2016

TERÃO OS CÃES OS DIAS CONTADOS?

Fomos nós que criámos os cães e só nós poderemos acabar com eles. O uso milenar e tradicional dos cães (pastoreio e caça) há muito que está a ser abandonado, porque os lobos estão em vias de extinção, os rebanhos de transumância estão a acabar, a actividade cinegética está a ser bastante contestada e os direitos das espécies são cada vez mais respeitados. Sobram os “pets”, também eles com a sobrevivência ameaçada, porque nas sociedades mais evoluídas a taxa de natalidade é diminuta e cresce o número de idosos. Para agravar a situação, é a classe média que cria, compra e vende cães, extracto social que mais sofre e paga a factura das sucessivas crises económicas que ciclicamente afectam as sociedades ocidentais e democráticas. E, como é do conhecimento geral, os cães não são um produto de primeira necessidade, constituindo-se em praga os que são abandonados, que por força do seu número acabarão castrados. No meio de tudo isto, ainda não arranjámos e não sabemos se algum dia arranjaremos solução para a fome mundial.
Apesar de poucos darem por isso, o número de cães está baixar nas sociedades actuais, decréscimo associado ao seu particular demográfico e etário, porque as populações não crescem como anteriormente e o número de idosos não cessa de aumentar, gente que muitas vezes não tem como sustentar cães e que quando os tem é assolada pela dúvida: e… se meu cão me sobreviver, quem cuidará dele? Dúvida, temor e razão que impedem muitos de procurarem a companhia de um cão (o que é verdade para os cães é-o também para os gatos).
O particular das famílias actuais está também a contribuir há já algum tempo para o fenómeno, atendendo aos sucessivos divórcios e desenlaces, porque essas separações acabam por levar, quando os há, ao descarte dos cães, geralmente entregues a um amigo que ao primeiro problema se livrará deles, remetidos para o abandono e na melhor das hipóteses para um abrigo de animais, onde a sua castração é condição primordial. Como a maioria dos jovens casais não pensa ter filhos, substituem-nos normalmente por cães. Caso venham a ser pais e a coabitação entre os filhos e os animais se tornar difícil, insustentável, conflituosa ou perigosa, os cães irão ser postos no “olho da rua”! Conhecedores dos problemas alheios e não querendo passar pelos mesmos “assados”, muitos casais jovens resistem à adopção ou compra de cachorros.
 Na célebre política forçada de “vão-se os anéis, ficam os dedos”, os cães de raça de pouca ou nenhuma utilidade, particularmente os de raça grande porque são mais dispendiosos, exigem mais espaço e exercício diário, acabarão com pouca ou nenhuma procura, dados ou vendidos a um preço simbólico e os reprodutores arredados da reprodução, até ao alcance de melhores dias. Além disto e é cada vez mais frequente, quando morre um cão numa casa dificilmente virá a ser substituído por outro. Convém dizer que este problema não se circunscreve apenas a Portugal, que a crise económica é global e que a procura de cães é menor um pouco por toda a parte.
Todavia, não será para breve que só veremos cães numa “Quinta Temática” ao lado dos burros e doutros animais domésticos, porque a utilidade dos cães e só ela os fará sobreviver ao nosso lado, o que implica em dizer que deverão ser seleccionados e treinados para os diferentes serviços que não os dispensam e onde os seus préstimos são reconhecidos, pois a era dos cães de luxo está a chegar ao seu crepúsculo. E se porventura não se extinguir de vez, não serão os cidadãos que se levantam de manhã para trabalhar que os reclamarão ou passearão.
Deixámos aqui este alerta e apontámos a solução para o problema, não porque sejamos profetas ou adivinhos mas porque a presença dos cães ao nosso lado sempre resultou da sua utilidade e isso desde os confins da história (tudo leva a crer que antes dela, quando os homens ainda não haviam descoberto a escrita). Os cães de terapia, os guias, os auxiliares, os de resgate e salvamento continuarão, os policiais e os de guerra todos desejamos que não, pois seria sinal de que a humanidade teria aprendido com os seus erros e abraçado de vez a fraternidade. A verdade é esta: criar cães sem propósito é um despropósito que nem aos cães serve! 

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