Fomos nós que criámos os
cães e só nós poderemos acabar com eles. O uso milenar e tradicional dos cães
(pastoreio e caça) há muito que está a ser abandonado, porque os lobos estão em
vias de extinção, os rebanhos de transumância estão a acabar, a actividade
cinegética está a ser bastante contestada e os direitos das espécies são cada
vez mais respeitados. Sobram os “pets”, também eles com a sobrevivência
ameaçada, porque nas sociedades mais evoluídas a taxa de natalidade é diminuta
e cresce o número de idosos. Para agravar a situação, é a classe média que
cria, compra e vende cães, extracto social que mais sofre e paga a factura das
sucessivas crises económicas que ciclicamente afectam as sociedades ocidentais
e democráticas. E, como é do conhecimento geral, os cães não são um produto de
primeira necessidade, constituindo-se em praga os que são abandonados, que por
força do seu número acabarão castrados. No meio de tudo isto, ainda não
arranjámos e não sabemos se algum dia arranjaremos solução para a fome mundial.
Apesar de poucos darem por
isso, o número de cães está baixar nas sociedades actuais, decréscimo associado
ao seu particular demográfico e etário, porque as populações não crescem como
anteriormente e o número de idosos não cessa de aumentar, gente que muitas
vezes não tem como sustentar cães e que quando os tem é assolada pela dúvida: e…
se meu cão me sobreviver, quem cuidará dele? Dúvida, temor e razão que impedem
muitos de procurarem a companhia de um cão (o que é verdade para os cães é-o
também para os gatos).
O
particular das famílias actuais está também a contribuir há já algum tempo para
o fenómeno, atendendo aos sucessivos divórcios e desenlaces, porque essas
separações acabam por levar, quando os há, ao descarte dos cães, geralmente
entregues a um amigo que ao primeiro problema se livrará deles, remetidos para
o abandono e na melhor das hipóteses para um abrigo de animais, onde a sua
castração é condição primordial. Como a maioria dos jovens casais não pensa ter
filhos, substituem-nos normalmente por cães. Caso venham a ser pais e a coabitação
entre os filhos e os animais se tornar difícil, insustentável, conflituosa ou
perigosa, os cães irão ser postos no “olho da rua”! Conhecedores dos problemas
alheios e não querendo passar pelos mesmos “assados”, muitos casais jovens
resistem à adopção ou compra de cachorros.
Todavia, não será para
breve que só veremos cães numa “Quinta Temática” ao lado dos burros e doutros
animais domésticos, porque a utilidade dos cães e só ela os fará sobreviver ao
nosso lado, o que implica em dizer que deverão ser seleccionados e treinados
para os diferentes serviços que não os dispensam e onde os seus préstimos são
reconhecidos, pois a era dos cães de luxo está a chegar ao seu crepúsculo. E se
porventura não se extinguir de vez, não serão os cidadãos que se levantam de
manhã para trabalhar que os reclamarão ou passearão.
Deixámos aqui este alerta
e apontámos a solução para o problema, não porque sejamos profetas ou adivinhos
mas porque a presença dos cães ao nosso lado sempre resultou da sua utilidade e
isso desde os confins da história (tudo leva a crer que antes dela, quando os
homens ainda não haviam descoberto a escrita). Os cães de terapia, os guias, os
auxiliares, os de resgate e salvamento continuarão, os policiais e os de guerra
todos desejamos que não, pois seria sinal de que a humanidade teria aprendido
com os seus erros e abraçado de vez a fraternidade. A verdade é esta: criar
cães sem propósito é um despropósito que nem aos cães serve!
Sem comentários:
Enviar um comentário