O Canal é o inglês, dito
da Mancha para o vulgo, cuja passagem mais estreita vai dar aos rochedos de
Dover, símbolo da insularidade e nacionalidade britânicas. O mau tempo é para
os cães daquelas paragens, agora fustigados pelo “Alabama Rot”, uma infecção
fúngica mortal, doença misteriosa que surgiu primeiro nos galgos da América e
já disseminada desde 2012 por 27 municípios de Inglaterra e do País de Gales.
Até à
presente data já foram confirmados 78 casos, sendo 14 registados nos primeiros
quatro meses deste ano. A doença, que só afectou os galgos na América, na
Grã-Bretanha não escolhe raça, sexo ou idade (a Joana que se cuide com o
Radar). De momento não há nenhum tratamento específico para esta maleita, cuja
causa ou causas são desconhecidas e o comum tratamento de suporte só teve sucesso
entre 20 a 30% dos afectados, restando evitar o contágio nas áreas afectadas ou
afastar-se delas, o que numa ilha não é tarefa fácil. A doença está
identificada como “idiopathic cutaneous and renal glomerular vasculopathy
(CRGV)” (peçam ao vosso veterinário assistente que troque isto por miúdos e vos adiante qual a designação em português).
O seu primeiro sinal
manifesta-se numa ferida na pele, que geralmente fica vermelha, mais comum abaixo
dos joelhos e dos jarretes, acompanhada por um inchaço característico como se
duma úlcera se tratasse. Os veterinários britânicos continuam as investigações
e a fazer o mapeamento das zonas endémicas, para além de porem à disposição dos
interessados um guia muito útil disponível on-line, onde indicam os locais já confirmados
com a presença da doença e dão pistas para a identificação dos seus sinais
(sintomas).
E como em matéria de cães
temos mau tempo no Canal, avisam-se os galgueiros e os demais importadores de
cães a não importarem animais das Ilhas Britânicas (desconhecemos ao momento
qual o parecer e esclarecimentos dados pelo Ministério da Agricultura e Pescas
e pela Direcção Geral de Veterinária), muito embora isso pouco adiante para quem
os importou depois de 2012. E como um mal nunca vem só, depois da “Encefalopatia
Espongiforme Bovina” (Doença das Vacas Loucas) chega-nos também da Grã-Bretanha
o “Alabama Rot”. Não obstante, ainda há quem continue a dizer que é de Espanha
que “não vem bom vento nem bom casamento”. Tanto para o bem quanto para o mal,
dificilmente uma ilha sobreviverá sozinha, por isso aguardamos com rara
expectativa qual o parecer do povo britânico acerca da sua continuidade ou não
na União Europeia e isto sem pensar nos reflexos que a eventual saída da Inglaterra terá
para os muitos emigrantes portugueses que ali vivem. Pode ser que venha um
vento de feição, capaz de colar Dover a Bruxelas e trazer Londres atrás, já exausta de tanto navegar à bolina.
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