quarta-feira, 15 de junho de 2016

GIVE ME A GOOD REASON PLEASE

Os cães continuam incompreensivelmente a matar crianças nas Ilhas Britânicas e não compreendemos porquê. Até hoje ninguém nos deu uma razão válida que justifique a posse de cães com grande potência de mordedura a não ser o facto de “gostarem” deles, o que é subjectivo e de pouca ou nenhuma explicação. Não temos preconceitos contra o Pit Bull, o Staffordshire Terrier e outros cães agora considerados unanimemente como altamente perigosos, porque sabemos que são treináveis, já os treinámos e grande número deles surpreendeu-nos pela positiva. Mas se não temos preconceitos contra eles, o mesmo não se pode dizer em relação aos seus donos, primeiros responsáveis pela sua escolha e educação. Chocados com o que se passa por esse mundo fora, decidimos empreender um estudo sobre os proprietários destes cães, interpelando todos os que connosco se cruzaram durante 2 meses, num total de 152 pessoas, número a que somámos os 27 binómios que treinámos, o que perfaz um total de 179 indivíduos de ambos os sexos, sendo 170 do género masculino e 9 do género feminino.
Todos os entrevistados negaram ter aqueles cães para causar dolo a alguém e todos se confessaram apaixonados por aquelas raças, porque as acham “fixes”, meigas, dedicadas e cúmplices dos seus donos, apesar de 90% deles ter um cão destes pela 1ª vez. Enquanto 85% dos inquiridos procurou um cão assim, 15% adquiriram-nos por oferta (nalguns casos quase por imposição). O grupo etário mais numeroso destes proprietários caninos tem idades compreendidas entre os 15 e os 25 anos (85), logo seguido pelo grupo dos 25 aos 35 anos (79). Dos 35 aos 45 anos encontrámos 11 proprietários e dos 45 aos 55 somente 4. Não encontrámos nenhum dono destes com idade superior aos 55 anos. Todos os cães, de ambos os sexos, tinham mais de 10 meses de idade e quando inquirimos se haviam sido objecto de algum tipo de treino convencional, apenas 36 frequentam ou haviam frequentado uma escola canina, ainda que 1/6 deles tivessem sido coagido a isso.
Quando lhes perguntámos se costumavam circular com os seus cães atrelados e com açaime, segundo as disposições legais em vigor, apesar de não havermos encontrado nenhum que as estivesse a cumprir na íntegra, 8 deles responderam afirmativamente. Todos se mostraram revoltados contra o uso do açaime e 106 costumam soltar os seus cães nos espaços públicos, maioritariamente à noite, caso ninguém proteste e a polícia não esteja por perto.
Inquiridos depois sobre a sociabilização dos seus cães com outros, 117 adiantaram que os seus pupilos têm tendência para “se armar em parvos”, apresentando dificuldades em brincar com outros cães, perseguindo-os e lutando pela posse dos brinquedos, mesmo que não sejam os seus. Quanto à animosidade contra pessoas, apenas 5 confirmaram essa tendência nos seus cães, apesar de 15 acharem que os seus fiéis amigos são ciumentos e por demais zelosos dos pertences dos donos. Quanto ao relacionamento dos cães com as crianças, 60% nunca tiveram essa experiência, 30% afirmaram que é satisfatório e 10% não confiam nos cães para tanto. 53 dos inquiridos disse fomentar o aumento da potência de mandíbula dos animais. Para que as entrevistas reflectissem a verdade e não a conveniência, não nos identificámos e dissemo-nos proprietários de um pequeno Pit Bull que nos foi oferecido, que queríamos saber mais sobre a raça e que andávamos por ali a buscar conhecimento e conselhos, estratégia bastante para todos se sentirem à vontade e falarem sem reservas.
Feitas as contas, dos proprietários de Pit Bull, de Staffordshire e seus mestiços que entrevistámos, 95% foram homens e 5% mulheres. 90% não tiveram experiência prévia com cães dessas raças; 85% procurou intencionalmente um cão assim; os adolescentes e os jovens adultos são quem mais os procura (91%); apenas 20% dos cães foram objecto de ensino, incluindo-se nestes aqueles que foram coagidos ao processo pedagógico; 90.7% dos donos não cumpre integralmente com as disposições legais; 59% solta os cães nos espaços públicos; 65% destes cães apresentam problemas de sociabilização entre iguais; 11% mostram hostilidade aos humanos; 30% relacionam-se bem com crianças e 29% são convidados sistematicamente a potenciar a sua força de mordedura. Adianta-se ainda que 20% dos cães eram castrados e 50% estavam descritos como rafeiros (sem raça definida) no seu cartão de identificação. Estes resultados foram obtidos em três Concelhos dos arredores de Lisboa, cujos resultados eleitorais costumam ser iguais aos nacionais.
Diante destes dados e doutros que ainda não mencionámos, o condutor médio de pitt bulls e staffordshires nos arrabaldes de Lisboa pertence ao género masculino, é nacional, solteiro, tem entre 15 e 35 anos, é estudante ou tem um emprego precário, procurou intencionalmente um cão com essas características pela 1ª vez, não pensa educá-lo, não cumpre voluntária e assiduamente as disposições legais em vigor, solta o seu cão assim que pode, não opera a sua sociabilização, não pensa castrá-lo e geralmente tem-no identificado como rafeiro. Apesar do panorama ser pouco animador, o caso inglês é mais grave que o nosso, pese embora o maior peso da castração por lá, que pelos vistos, dependendo da idade em que é feita, de pouco ou nada adianta. Se aqui não temos o número de vítimas (feridos e mortos) que vem ocorrendo na Grã-Bretanha, tal se deve à brandura do nosso Povo, a uma legislação mais dura e à afincada fiscalização das forças da ordem (GNR e PSP), a quem coube um papel dissuasor determinante, pondo inclusive cobro às lutas de cães, à sua indústria e negócio.
O perfil do comum proprietário inglês destes cães é diverso do português (dizemos isto através dos casos que vêm a público e das notícias que nos chegam através de amigos ali residentes), porque a sua posse não se restringe aos solteiros, distribui-se por gente de todas as idades, é histórica e não extemporânea, sendo estes cães considerados próprios para as famílias, o que esporadicamente resulta na agressão e morte de crianças e adultos, como foi o caso da menina Molly-Mae Wotherspoon, de seis meses de idade, agora levado a tribunal em Northampton, cuja mãe tinha em casa um American Pit Bull que despedaçou esta criança até à morte, o que infelizmente não é tão raro suceder no Reino Unido. A posse de Pit Bulls e seus híbridos ali remete-se na sua maioria a pessoas urbanas de baixo extracto social, rudimentares de cultura e hábitos, de alguma forma mal enraizadas na sociedade, instáveis e algumas delas a viver em bairros problemáticos, no que não diferem dos portugueses com igual preferência (sobram miseráveis, alienados e pobres de espírito por todo o lado).
Tanto lá como cá, os proprietários de Pit Bulls sentem-se descriminados, descriminação que a nosso ver mais se deve a eles mesmos do que à população que os rodeia, porque optaram por cães de luta, passíveis de causar grande dolo e até mortes, intimidando justificadamente quem com eles se cruza ou é obrigado a coabitar. Se o seu objectivo não é o de intimidar e causar vítimas, pergunta-se: porque não os treinam convenientemente, não apostam na sua sociabilização, não castram os mais agressivos e não cumprem com as leis em vigor? Não será a falta destas condições que mais contribuirá para o mau nome destes cães? Não temos nada, mesmo nada, contra aqueles que os educam, controlam eficazmente, sociabilizam e cumprem com as disposições legais! Quem assim não procede, jamais conseguirá esconder o desejo subjacente de causar mal aos outros, até porque se há um cão meigo e amigo de fazer a vontade aos donos, o Pit Bull é certamente um deles!
Bem sabemos que nem todos nascemos líderes, que muitos de nós apresentam sérias dificuldades em liderar, que a valentia, a robustez, a clarividência, a destreza e o sangue-frio não sobram para todos. E se assim é, como poderá qualquer um controlar um cão instintivamente agressivo, há muito seleccionado para isso, robusto e com grande potência de mordedura? Poderão dormir descansados os demais cidadãos e os outros proprietários caninos?
Como ainda não descobrimos nada que um cão de luta tenha que os outros não tenham ou outro propósito para que houvesse sido criado, também não conseguimos descortinar uma razão válida para a sua preferência, sendo obrigados a pensar que há gente que procura deliberadamente cães maus, quiçá pelo mau conselho da idade (imaturidade), por candura, por desaguisados sociais e psicológicos, por revolta e necessidade de afirmação ou a braços com patologias de vária ordem, incluindo-se nelas o desejo de fazer mal (malvadez). Sonhar é bom, desde que não nos afaste da realidade e se transforme num pesadelo para os outros. Enquanto seres sociais responsáveis somos obrigados a pensar e tudo fazer pelo bem-estar do grupo onde estamos inseridos e, adquirir um cão de luta, dificilmente se prestará a esse propósito, a menos que venhamos a descobrir um fim útil e universal para as suas características peculiares.

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