Sempre que saio à rua com
o CPA Black, para além do incómodo de o sujeitar às múltiplas carícias alheias,
alguém surge a contar uma história ou estória de um cão que já teve. Desta vez
ouvimos a do “Rubick”, um Cocker Spaniel negro, apoquentado por hérnias, “que
só lhe faltava falar” e cuja dona entendia como ninguém, uma senhora agora
septuagenária, obesa, extrovertida, doente oncológica e apostada em se fazer
ouvir. Segundo ela, o Rubick era um animal pouco visto e de uma inteligência
extraordinária, ávido de se fazer entender e interagindo de forma notável. Para
que não restassem dúvidas e para comprovar o que havia dito, a dona contou-nos
três episódios protagonizados pelo Cocker que seguidamente adiantamos para os
nossos leitores: o da chucha, o da ida ao veterinário e o do telefone.
Quando os netos da dita
senhora eram bebés e passavam horas aos seus cuidados, o Rubick roubava-lhes as
chuchas e ia para a cama dele sugá-las, como se de outro bebé se tratasse. Como
haviam passado pela boca do cão, eram imediatamente jogadas no lixo. Farta de
deitar dinheiro à rua, porque o cão não desistia dos seus intentos, optou por
comprar-lhe uma chucha, oferta que o Cocker muito apreciou e nunca mais largou,
desistindo das outras que não lhe pertenciam.
Sempre que as hérnias o
apoquentavam e as dores não lhe davam descanso, dirigia-se à mesinha do
telefone, ali permanecia e começava a ganir, como que a dizer prá dona “liga
para o veterinário!” Quando finalmente a via pegar na agenda e depois no
telefone, o cão deixava de ganir e corria para a porta de casa desejoso de ser
socorrido. “Ele não falava mas fazia-se entender” – disse-nos a senhora.
Como era muito apegado à
dona, sempre ficava a ganir quando ela saía de casa, não o fazendo somente
quando a via sair com a mala na mão rumo à escola onde leccionava, o que
obrigava a pobre senhora, sempre que precisava de sair, a fazê-lo com aquela
mala. Como em certos dias o Rubick carregava os seus brinquedos para junto da
mesinha do telefone e noutros não, a dona suspeitou que ele lhe estava a
dar algum recado. Disposta a desfazer o equívoco, decidiu sair de casa com a
mala na mão, dirigiu-se ao café mais perto e ligou para a sua residência. Ao
chegar a casa viu três bonecos junto ao telefone e compreendeu que o cão lhe “estava
a dizer” que alguém lhe havia telefonado naqueles dias!
História ou estória? A
senhora não nos pareceu alterada, senil, alienada ou mentirosa. Que há cães
assim, há... e quem os teve jamais se esquece deles!
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