O Dhole, também conhecido
como Cão Selvagem Asiático (Cuon Alpinus), Raposa Asiática dos Montes, Cão
Selvagem Hindu, Cão Vermelho, Cão Asiático e Caçador de Assobio (porque parece
assobiar, no que lembra o Cão Cantor da Nova Guiné), é um cão mais próximo do
Chacal que do Lobo e aparentado com o Mabeco, canídeo que alguns julgam,
faltando prová-lo, ser o ancestral selvagem do cão ao invés do lobo na já comprovada
dupla origem euro-asiática. Um dos pioneiros a defender essa doutrina foi Brian
Houghton Hodgson, um dos primeiros naturalistas e etnólogos a trabalhar na
Índia Britânica, que em 1857 adiantou ser o Dhole ancestral do cão,
justificando o seu parecer com o facto desde cão selvagem ser domesticável
quando capturado em tenra idade (não se passará o mesmo com os lobos?), sendo
praticamente impossível fazê-lo depois da idade adulta. Sobrevivem 9
subespécies de Dholes (Cão Selvagem Asiático).
O Dhole encontra-se em
risco de extinção, apesar de se encontrar distribuído por grandes áreas geográficas,
nomeadamente em florestas secas, húmidas e tropicais, de pouca densidade
arbórea, com erva alta e abundantes em água e presas. Pequenas matilhas têm
sido encontradas na Rússia Oriental, na Manchúria, nos Himalaias, na Índia,
Burma, China, Coreia, Malásia, Indonésia e até na distante Ilha de Java (na
Rússia e na Índia é considerado como espécie protegida). Trata-se de um cão
médio e leve que apresenta dimorfismo sexual, sendo ligeiramente maior na
Rússia, com 90 cm de comprimento, de 45 a 50 cm de altura, com uma cauda a
oscilar entre os 40 e os 45 cm de comprimento, variando de peso dos 13 para os
20 kg.
As causas relativas à
diminuição do seu número apontam para a destruição de grande parte do seu
habitat natural no continente asiático, para a tremenda explosão demográfica
humana, para o abate sistemático de florestas na procura de madeira e para
abrir caminho à agricultura e ao desenvolvimento, factores que somados têm também
levado à escassez das suas presas e comprometido de sobremaneira a sua
sobrevivência. Doenças como cinomose e a raiva, possivelmente transmitidas por
cães domésticos, são ameaças importantes para a subespécie indiana. Acresce
ainda a caça que lhe é movida pelos humanos (a sua pele é muito apreciada), a
sua baixa taxa de natalidade (as ninhadas são constituídas em média por 3 ou 4
cachorros e raramente por 10) e o facto de normalmente só as fêmeas dominantes
se reproduzirem. A sua época de acasalamento vai do final do Verão (Setembro)
até quase ao final do Inverno (Fevereiro).
Como as fêmeas não fazem tocas (aproveitam normalmente as abandonadas de outros animais) cabe ao grupo e não só
aos seus progenitores cuidar e alimentar as ninhadas, regurgitando comida para
os cachorros depois do seu desmame. Mais tarde, quando tiverem idade suficiente
para isso, os filhotes partirão nas expedições de caça e participarão na
matança. A dieta do Dhole é essencialmente carnívora: toda a sorte de cervos,
roedores, porcos selvagens, lebres, cabras selvagens, carneiros e eventualmente
macacos. À falta destas presas, sobreviverão pela ingestão de frutos
silvestres, insectos e lagartos.
Cão altamente territorial,
cujo território de caça pode alcançar os 84 km2 e que é demarcado pela urina e
pelas fezes, o Dhole mantém uma hierarquia rígida dentro das matilhas, que ao
que tudo indica são maioritariamente constituídas por machos, num total médio
de 5 a 12 indivíduos, podendo alargar-se até aos 40 como já foi observado. Os
Dholes são caçadores diurnos a partir do faro e caçam em matilha, atacando os
vários animais de diferente maneira, sendo capazes de abater presas com um peso
dez vezes superior ao seu. Tanto caçam à linha como usam manobras de cerco e
como são exímios nadadores chegam a encaminhar as suas presas para dentro de
água onde se encontram mais vulneráveis e oferecem menos resistência.
Ocasionalmente escondem a caça e comem-na depois, sendo ainda capazes de dar
saltos verticais ou de se apoiarem somente nas duas patas traseiras para
avistá-la.
O Dhole tem fama e ao que
parece o proveito de ser um caçador devorador e sanguinário, porque 2 ou 3 deles
conseguem matar um veado de 50 kg em menos de 2 minutos, começando a comê-lo
ainda vivo. As presas maiores não morrem do ataque propriamente dito mas das
hemorragias causadas pelo arrancamento dos seus intestinos, cabeça, fígado e
olhos. O hábito de comerem as vísceras das suas presas com elas ainda vivas é a
primeira causa da sua má reputação. Felizmente o ataque a humanos é muito raro.
A competição pela comida não acontece pela luta mas pela maior rapidez na sua
ingestão (um Dhole adulto é capaz de comer 4 kg de carne em apenas uma hora).
Este extraordinário
caçador, que usa o seu assobio característico para reunir as matilhas na
floresta, lembra em tudo uma raposa apesar de não o ser, apresenta um focinho atarracado
e dois dentes molares a menos (um de cada lado) no seu maxilar inferior. A sua
cor é vermelho-ferrugem e a sua cauda negra e farfalhuda, patenteando manchas
brancas no peito, ventre e patas, saindo-lhe também pêlos brancos do interior
das suas orelhas grandes e arredondadas. Tem olhos cor de âmbar e a sua pelagem
é densa, variando a sua intensidade de acordo com as diferentes áreas
geográficas que ocupa, sendo o pelo mais leve e duradouro nos indivíduos mais a
norte. Os cachorros nascem negro-ferrugem e aos 3 meses de idade adquirem a sua
cor definitiva (vermelha). A esperança média de vida do Dhole em cativeiro é de
16 anos.
Depois
de nos debruçarmos sobre o Dhole tirámos as seguintes conclusões: que ainda há
muito para descobrir sobre as origens do cão doméstico; que o Cão Selvagem
Asiático pouco difere dele e que os países com maior extensão territorial e díspares
ecossistemas, devido à multivariedade, podem produzir híbridos diferentes e até
superiores aos que até hoje foram produzidos. Pouquíssimos de nós terão a
oportunidade ver um Dhole em liberdade, alguns vê-lo-ão num zoo e a esmagadora
maioria na internet. Resta-nos a esperança de que não se extinga, ele e outros
animais debaixo do mesma ameaça e risco. Foi um prazer termos trazido o Dhole
até vós, porque ao fazê-lo melhor compreendemos facetas até aqui sem explicação
nos cães que criámos e ainda treinamos, já que a família dos canídeos
explica-se a si mesma e abre-nos novos horizontes sobre o cão doméstico (Lupus
Familiaris).
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