sexta-feira, 24 de junho de 2016

RAÇAS HÍBRIDAS DE LOBO: O QUE AS TORNA TÃO DIFERENTES

Porque razões os lobos parecem tão idênticos aos cães e são tão diferentes, nascendo uns para a autonomia e os outros para a cumplicidade, permanecendo os primeiros selvagens e os outros humano-dependentes? Simplesmente porque divergem nas suas primeiras experiências sensoriais e no período crítico da sociabilização. Quando se criam raças híbridas de cão com lobo, quer se queira quer não, os seus filhotes retornam parcialmente ao atavismo, apesar dos lobos que hoje utilizamos não serem os mesmos que deram origem aos cães, que hoje se julgam extintos mas que poderão estar a ser “reencarnados” com a hibridação que agora fazemos. Quem cria cães-lobo, ainda que a maioria dos seus criadores não o saiba, é obrigado a um imprinting com um calendário diferente e mais paciente, devido à presença do lobo que tudo altera e que acaba por comprometer o rendimento destes híbridos, o que equivale a dizer que um cão-lobo é tanto melhor quanto capaz for o seu criador. Para que melhor se compreenda o que acabámos de dizer, vamos sucintamente explicar as diferenças entre cães e lobos nas primeiras semanas de vida, realçando os aspectos sensoriais que dificultam a sua aprendizagem, sociabilização e bem-estar.
Até hoje tem-se cometido o erro de se avaliar o lobo tendo o cão como modelo, pressuposto não-científico que tem dificultado a sua compreensão, porque o lobo difere do seu parente doméstico logo nas primeiras semanas de vida, cuja primeira diferença reside na altura em que ambos começam a caminhar e a explorar, porque os lobos fazem-no logo às duas semanas de idade, quando ainda são cegos e surdos, guiados apenas pelo olfacto (os cachorros fazem-no mais tarde e só depois do contributo do olfacto, da visão e da audição), o que os leva a temer inicialmente o que vêem e ouvem quando finalmente podem usar a visão e audição, sofrendo nesses momentos verdadeiros e compreensíveis choques sensoriais. Logo desse tenra idade eles têm um comportamento diverso, porque enquanto os cachorros dormem e são incapazes de se levantar já os lobinhos andam activamente a explorar, a caminhar com boa coordenação de movimentos e a subir planos inclinados e até pequenas colinas.
Estas diferenças significativas colocam cachorros e lobinhos em trajectórias diferentes no que aos vínculos sociais e à sociabilização interespécies dizem respeito, incluindo-se aqui a sua relação com o homem, o que é simultaneamente importante para quem cria lobos em cativeiro e para quem se dedica à criação de cães-lobo, porque os últimos irão ser mais precoces quando comparados com os cães vulgares pela infusão de sangue lobo.
Para se perceber a importância do que acabámos de dizer e o cuidado a haver com os lobos e os seus híbridos, basta dizer que um cachorro entre as 4 e 8 semanas precisa de 90 minutos para se sociabilizar com um humano, um animal ou outra coisa, para depois deixar de ter medo do que lhe foi apresentado. Já o Lobinho irá necessitar de 24 horas às 3 semanas de idade para o mesmo efeito, apesar de ambos precisarem de mais tempo para um relacionamento mais sólido e profícuo.
Caso os criadores de lobos em cativeiro desejem sociabilizar-se com os filhotes ou sociabilizá-los, opções até aqui desconsideradas pelo respeito ao viver natural do Canis lupus, apesar da reintegração nos seus ancestrais terrenos de caça ser hoje quase impossível, deverão fazê-lo logo às 3 semanas de idade dos lobinhos, isto se tiverem condições para isso: se os pais e a alcateia deixarem. Já os criadores de híbridos não têm outra opção do que acompanhar e sociabilizar as ninhadas o mais cedo possível, exactamente quando os híbridos começarem a andar, porque a influência do lobo neles, mais do que na fisionomia (morfologia), é mais forte ao nível psicológico, particular que vem dificultando a sua sociabilização, aprendizagem e utilidade. Este saber e trabalho não têm vindo a ser observados, ainda que alguns por sensibilidade e palpite já houvessem lá chegado. Quem desejar saber mais detalhes deverá consultar o trabalho da bióloga evolucionária norte-americana Kathryn Lord, da Universidade de Massachusetts Amherst, editado actualmente na revista “Ethology”.  

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