quarta-feira, 29 de junho de 2016

OS CÃES POLICIAIS DEVERÃO SER ABATIDOS POR ATACAREM CIDADÃOS INOCENTES?

Lá para os lados de Sheffield, Cidade inglesa pertencente ao Condado de South Yorkshire, tida como a mais verde de Inglaterra por ter mais de 2 milhões de árvores, existe um bairro designado por “Page Hall”, aglomerado populacional hoje habitado por ingleses de baixa condição social, ciganos do Leste Europeu (maioritariamente eslovacos), paquistaneses e gente do Sudoeste Asiático, onde por várias razões sempre acontece algo que não devia e novidades que não são bem-vindas. Faz hoje oito dias, a Polícia de South Yorkshire perseguiu um Skoda prateado que se deslocava com excesso de velocidade em Longley Lane, cujo condutor não obedeceu à ordem de parar. A viatura acabou abandonada em Popple Street e o seu presumível condutor detido pouco tempo depois, sendo mandado para o local um binómio policial para proceder a uma rusga, por se suspeitar haver propriedade roubada relacionada com aquele incidente. Por razões ainda por averiguar, uma jovem de 17 anos, residente naquele local e não relacionada com o caso da viatura, acabou mordida num braço em Hinde Street, sendo depois transportada para o hospital. O sucedido à jovem exaltou os ânimos dos residentes e cerca de 100 moradores saltaram para o meio da rua, ajuntamento que obrigou a polícia a destacar para o local 20 agentes no intuito de restabelecer a ordem. Apesar de não haver notícia de confrontos, alguns dos amotinados foram detidos (já estamos acostumados a cegadas destas por cá!).
Uma das reivindicações daquela gente, revoltada e consternada pelo sucedido à jovem, era o abate do cão policial, porquanto havia atacado quem não devia. Como episódios destes têm vindo a repetir-se em Inglaterra, as indemnizações às vítimas nos últimos três anos atingiram um montante de 800 000 £ (964 587.531€). Ao que tudo indica, o referido cão não irá ser abatido, apesar doutros o terem sido no passado. O ocorrido em Sheffield, que acontece diariamente por todo o mundo, lança-nos para o tema de hoje: os cães policiais deverão ser abatidos por atacarem cidadãos inocentes?
Entendemos que não, que os animais ao serem criados, seleccionados e treinados para a repressão são os menos responsáveis, mesmo quando agem a modo próprio e à revelia dos seus tratadores, o que pode suceder mas não com a frequência que por vezes nos é dita, apesar de haver gente que se põe a jeito por ingénua ou deliberada provocação, cujo número é cada vez menor atendendo ao número de cidadãos que se dedica ao adestramento canino, o que esporadicamente tem criado alguns amargos de boca aos adestradores policiais, não raramente condutores de cães com menor presença ostensiva, equilíbrio, preparo e qualidade, o que não deixa de ser um contra-senso. Para cúmulo, já aconteceu por cá e acontece um pouco por toda a parte, não é raro vermos polícias atacados por cães policiais! Alguma coisa vai ter que mudar na escolha dos cães e nos métodos utilizados, quiçá até na selecção dos homens, muito embora saibamos que tanto polícias como militares espelham a qualidade e grau de exigência dos seus comandantes e consequente cadeia de comando.
Os ataques inusitados perpetrados por cães policiais resultam maioritariamente das seguintes razões: má selecção dos cães; distracção, inadequação e despreparo dos seus condutores; treino apressado, pouco rigoroso, parco de progresso, isento de fiscalização e por vezes inexistente para as situações que os binómios irão encontrar; métodos de treino baseados nos instintos que dificultam o travamento dos animais; binómios desajustados; ausência de condicionamento canino eficaz; critério largo e exagerada tolerância de quem comanda as companhias cinotécnicas policiais e descontrolo emotivo dos tratadores por exaustão, confusão de objectivos ou desejo latente de causar dolo. À conta disto muitos “acidentes” têm acontecido por este mundo fora e nenhuma destas razões culpabiliza os cães e muito menos justifica ou alguma vez justificará o seu abate. E mesmo quando os acidentes acontecem, que culpa têm os cães? Porventura não se espera o domínio do inteligente sobre o irracional? Cientes desta problemática, não resta aos governos das sociedades democráticas outra alternativa senão a de indemnizar as vítimas, medida muitas vezes insuficiente para reparar o mal feito ou a perda ocasionada.
Contudo, não há razão para alarmes, porque felizmente a ocorrência destes incidentes é ainda rara, o que não significa que possamos ignorá-la enquanto mal alheio ou que não exijamos das polícias maior controlo sobre os seus cães, muito menos podemos pactuar quando os usam arbitrária e abusivamente sobre vítimas inocentes, porquanto vivemos num “Estado de Direito” e como tal cabe aos tribunais fazer justiça, por isso têm sobre a sua fachada principal a frase latina “DOMUS IUSTITIAE”.  Seria injusto não referir o importante papel que os cães policiais têm tido no combate ao crime e na luta contra o terrorismo e contra os terroristas, porque o seu uso tem poupado inúmeras vidas humanas, salvaguardado o seu bem-estar e património - protegido a nossa livre sociedade. Ainda bem que Polícia tem cães, oxalá sempre os use com acerto!

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