Lá para os lados de
Sheffield, Cidade inglesa pertencente ao Condado de South Yorkshire, tida como
a mais verde de Inglaterra por ter mais de 2 milhões de árvores, existe um
bairro designado por “Page Hall”, aglomerado populacional hoje habitado por
ingleses de baixa condição social, ciganos do Leste Europeu (maioritariamente
eslovacos), paquistaneses e gente do Sudoeste Asiático, onde por várias razões
sempre acontece algo que não devia e novidades que não são bem-vindas. Faz hoje
oito dias, a Polícia de South Yorkshire perseguiu um Skoda prateado que se
deslocava com excesso de velocidade em Longley Lane, cujo condutor não obedeceu
à ordem de parar. A viatura acabou abandonada em Popple Street e o seu
presumível condutor detido pouco tempo depois, sendo mandado para o local um
binómio policial para proceder a uma rusga, por se suspeitar haver propriedade
roubada relacionada com aquele incidente. Por razões ainda por averiguar, uma
jovem de 17 anos, residente naquele local e não relacionada com o caso da
viatura, acabou mordida num braço em Hinde Street, sendo depois transportada
para o hospital. O sucedido à jovem exaltou os ânimos dos residentes e cerca de
100 moradores saltaram para o meio da rua, ajuntamento que obrigou a polícia a
destacar para o local 20 agentes no intuito de restabelecer a ordem. Apesar de
não haver notícia de confrontos, alguns dos amotinados foram detidos (já
estamos acostumados a cegadas destas por cá!).
Uma das reivindicações
daquela gente, revoltada e consternada pelo sucedido à jovem, era o abate do
cão policial, porquanto havia atacado quem não devia. Como episódios destes têm
vindo a repetir-se em Inglaterra, as indemnizações às vítimas nos últimos três
anos atingiram um montante de 800 000 £ (964 587.531€). Ao que tudo
indica, o referido cão não irá ser abatido, apesar doutros o terem sido no
passado. O ocorrido em Sheffield, que acontece diariamente por todo o mundo,
lança-nos para o tema de hoje: os cães policiais deverão ser abatidos por
atacarem cidadãos inocentes?
Entendemos que não, que os
animais ao serem criados, seleccionados e treinados para a repressão são os
menos responsáveis, mesmo quando agem a modo próprio e à revelia dos seus
tratadores, o que pode suceder mas não com a frequência que por vezes nos é
dita, apesar de haver gente que se põe a jeito por ingénua ou deliberada
provocação, cujo número é cada vez menor atendendo ao número de cidadãos que se
dedica ao adestramento canino, o que esporadicamente tem criado alguns amargos
de boca aos adestradores policiais, não raramente condutores de cães com menor presença
ostensiva, equilíbrio, preparo e qualidade, o que não deixa de ser um contra-senso.
Para cúmulo, já aconteceu por cá e acontece um pouco por toda a parte, não é
raro vermos polícias atacados por cães policiais! Alguma coisa vai ter que
mudar na escolha dos cães e nos métodos utilizados, quiçá até na selecção dos
homens, muito embora saibamos que tanto polícias como militares espelham a
qualidade e grau de exigência dos seus comandantes e consequente cadeia de
comando.
Os ataques inusitados
perpetrados por cães policiais resultam maioritariamente das seguintes razões: má
selecção dos cães; distracção, inadequação e despreparo dos seus condutores; treino
apressado, pouco rigoroso, parco de progresso, isento de fiscalização e por
vezes inexistente para as situações que os binómios irão encontrar; métodos de
treino baseados nos instintos que dificultam o travamento dos animais; binómios
desajustados; ausência de condicionamento canino eficaz; critério largo e
exagerada tolerância de quem comanda as companhias cinotécnicas policiais e descontrolo
emotivo dos tratadores por exaustão, confusão de objectivos ou desejo latente
de causar dolo. À conta disto muitos “acidentes” têm acontecido por este mundo fora
e nenhuma destas razões culpabiliza os cães e muito menos justifica ou alguma
vez justificará o seu abate. E mesmo quando os acidentes acontecem, que culpa
têm os cães? Porventura não se espera o domínio do inteligente sobre o
irracional? Cientes desta problemática, não resta aos governos das sociedades
democráticas outra alternativa senão a de indemnizar as vítimas, medida muitas
vezes insuficiente para reparar o mal feito ou a perda ocasionada.
Contudo, não há razão para
alarmes, porque felizmente a ocorrência destes incidentes é ainda rara, o que
não significa que possamos ignorá-la enquanto mal alheio ou que não exijamos das
polícias maior controlo sobre os seus cães, muito menos podemos pactuar quando
os usam arbitrária e abusivamente sobre vítimas inocentes, porquanto vivemos
num “Estado de Direito” e como tal cabe aos tribunais fazer justiça, por isso
têm sobre a sua fachada principal a frase latina “DOMUS
IUSTITIAE”. Seria injusto não referir o importante papel que os cães policiais têm tido no combate ao crime e na luta contra o terrorismo e contra os terroristas, porque o seu uso tem poupado inúmeras vidas humanas, salvaguardado o seu bem-estar e património - protegido a nossa livre sociedade. Ainda bem que Polícia tem cães, oxalá sempre os use com acerto!
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