terça-feira, 5 de abril de 2022

PASSAGEM DE NÍVEL FATAL

 

Existem locais neste mundo que são apenas conhecidos quando neles ocorre algum desastre ou tragédia, como sucede, entre outros, com o município alemão de Kriftel, no distrito de Main-Taunus, no estado do Hessen, onde existe uma passagem de nível fatal que já tirou a vida a 4 pessoas desde 2012 até à presente data. Na noite do passado domingo, um homem com deficiência visual e o seu cão foram atropelados por um comboio, morrendo ambos no local do acidente. A vítima humana, um homem de 74 anos, foi identificado como sendo o deputado distrital Werner Moritz-Kiefert, o que levou o administrador distrital a descrever a morte do septuagenário como “uma grande perda humana para o distrito de Main-Taunus”. Resta dizer que o falecido estava particularmente comprometido com os interesses dos cidadãos com deficiência. Desde que aconteceu a primeira morte naquela passagem de nível, em 2012, que os vereadores distritais vêm tentando torná-la mais segura, o que vagamente me lembra as “Obras de Santa Engrácia”.

Segundo números recentes existem 35 mil cegos em Portugal e quase 590 mil pessoas com perda parcial de visão, motivo mais do que suficiente para que não nos esqueçamos da sua existência e das obrigações que a sociedade deverá ter para com eles, nomeadamente as autoridades autárquicas a quem cabe facilitar a vida a estes cidadãos deficientes, tantas vezes esquecidos e por isso mesmo mais dependentes e sujeitos aos mais variados perigos, por ausência de acessos próprios e seguros, assim como pela escassez de informações em braille. Diante dos perigos que correm e face aos poucos acidentes que sofrem, estou quase convencido que Deus é português! No milénio em que estamos, há muito que já deveríamos ter banido, de uma vez por todas, as passagens de nível que invariavelmente ceifam vidas por todo o lado. Até que desapareçam, antes de atravessá-las, somos obrigados a parar, a escutar e a olhar, o que para os cegos não é tarefa fácil face ao barulho que se faz sentir nas grandes metrópoles, que também os impede de ouvir. 

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