quarta-feira, 6 de abril de 2022

OS CÃES TAMBÉM PAGAM COM A VIDA O PREÇO DA GUERRA

 

Pode parecer ridículo falar da morte de cães na “Invasão da Ucrânia”, quando milhares de cadáveres humanos permanecem à beira das estradas e no meio de escombros por sepultar, vidas ceifadas por uma potestade que se diz ameaçada e que reduz a cinzas tudo por onde passa, chefiada por um homem com sonhos de grandeza, preso ao passado e com medo do futuro. Mas se os homens pagam com a vida o preço da guerra, os cães não são excepção, morrendo muitos à míngua na esperança de virem a ser saciados. Assim aconteceu também em Borodyanka, um subúrbio no distrito de Bucha, na província de Kiev, onde morreram à fome 335 cães dos 485 de um abrigo, por se encontrarem encerrados nas suas boxes desde o início da guerra (24 de fevereiro) até ao início de abril, altura em que os soldados russos debandaram e os amigos dos animais puderam valer-lhes.

Para além dos cães que morreram abandonados sem ter quem lhes valesse, outros foram mortos impiedosa e intencionalmente pelas forças invasoras na área de Kiev, constituídas por tropas regulares e malditos mercenários tchetchenos, tropa que mata por matar, por diversão e até por prazer, como acontece em quase todos os conflitos onde as leis da guerra acabam por ser esquecidas. A somar à morte dos cães, há que acrescentar também a daqueles que teimosamente intentaram valer-lhes e que sucumbiram no exercício do seu voluntariado em prol dos animais. Como se depreende, vagueiam agora pelas cidades ucranianas em ruínas matilhas de cães desnorteados e esfomeados, muitos deles à procura dos seus donos que a fúria da guerra não poupou, da casa que os abrigou e de alguém que se lembre deles. Os mais afortunados serão alimentados, recolhidos, transferidos e tratados em clínicas veterinárias privadas.

Algures, numa fila interminável de pessoas, numa extensa e improvisada camarata, num comboio superlotado, num autocarro que teima em chegar ao seu destino ou num país distante, há sempre uma criança ucraniana que chora pelo cão que se viu obrigada a deixar para trás, também ele vítima da guerra, recordação de um tempo que apesar de doloroso, todos terão que ultrapassar pela lei da vida. Felizmente para os animais, voluntários ucranianos e internacionais estão a mobilizar-se para proceder à sua recolha, tratamento, transferência e realojamento, missão que não está isenta de riscos devido ao estado de guerra e às consequentes minas que o exército invasor deixou para trás. Слава Україні, мир людям і тваринам (Glória à Ucrânia, paz no mundo para homens e animais).

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