terça-feira, 26 de abril de 2022

A INTELIGÊNCIA EMOCIONAL NO ADESTRAMENTO

 

Se Deus criou o Homem à sua imagem e semelhança, conforme diz a Bíblia, o Homem tem vindo a criar o cão de modo semelhante, ao ponto do animal entender e reflectir as emoções, ambições e preocupações do seu criador. A compreensão das emoções humanas pelos cães é primeiro facilitada pelo seu excepcional olfacto que consegue identificar, mediante diferentes odores químicos, os estados emocionais humanos correspondentes, como é o caso, por exemplo, da detecção e ataque dos cinófobos ou a detecção da tristeza nos donos. Homens e cães possuem inteligência emocional, conseguem reconhecer e avaliar as suas emoções e as dos outros, construindo a partir disso sólidas relações sociais, o que muito releva a transmissão emocional dos conteúdos de ensino no adestramento, porque nos binómios destinados ao trabalho não são só os donos que precisam de ser ajudados, os cães também e provavelmente até mais, para que se constituam num todo indivisível (cara de um, focinho de outro).

Penso que ninguém duvida que os cães agem por vezes em função daquilo que os seus donos são, espelhando emoções iguais ou contrárias às dos seus líderes, dependendo isso do perfil psicológico individual de cada animal, sendo muito conhecidos os seguintes exemplos: gente pacífica tem cães pacíficos; indivíduos instáveis têm cães conturbados; gente agressiva tende a ter cães agressivos, indivíduos demasiado tolerantes acabam surpreendidos por cães abusadores; donos muito inibidos podem gerar cães esquivos, desconfiados e anti-sociais e gente ambiciosa tende a formar cães competitivos. Quando não existe uma verdadeira simbiose emotiva entre donos e cães, esses binómios jamais virão a constituir-se verdadeiramente e poderão vir a ser assolados por sérias confrontações.

Como já vimos e sabemos, quando um dono parte para um obstáculo novo ou difícil na incerteza do cão o vencer, é mais do que certo que o animal vacilará e não o transporá conforme o desejável, porque o animal acaba por espelhar a incerteza presente no seu condutor, pelo que importa exalar sentimentos positivos perante as dificuldades encontradas e proceder à transmissão das emoções necessárias e próprias para os diferentes desempenhos, arrebatamento só possível pela exteriorização do ânimo, pela clareza dos incentivos e pelo auxílio da mímica apropriada, mímica que deverá estar sempre de acordo com a mensagem emocional a transmitir.

Ainda que por vezes não nos lembremos disso ou não o queiramos confessar, porque o assunto é muito sensível (melindroso até) e não estamos cá para denunciar patologias, mas queremos fazer parte da sua solução, sabemos que os cães são para grande número de donos terapeutas extraordinários, porque dotam os seus” líderes” do bem-estar, conforto e equilíbrio que doutro modo dificilmente alcançariam pela recriação do seu “pequeno mundo dos sonhos”. Nestes casos, o apelo e o uso da mensagem emocional levará donos e cães ao acerto e depois ao consequente conserto.

Tal como os cães nos fazem a nós, pelo uso da inteligência emocional, devemos perscrutar através das emoções caninas o que lhes vai pela cabeça. A melhor maneira de nos fazermos compreender a um cão é exteriorizar emocionalmente aquilo que queremos. De que valeria o reforço positivo se tirássemos das diversas recompensas a respectiva entrega e apego emocional? Provavelmente só restaria o frio e mecânico protocolo de alimentar, normalmente destinado aos encarcerados que ansiosamente esperam pela liberdade que sempre tarda. Liberte-se e liberte o seu cão!

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