Recebi
ontem pela noite dentro o seguinte email: “Boa
noite Sr. João. Tenho lido, diariamente o seu blog, não direi que já li tudo mas
a grande maioria dos posts relacionados com o treino já terei passado por eles.
E tenho que lhe dar os parabéns, está ali informação, cultura e saber de uma
vida. Tenho, no entanto, uma questão que gostaria de colocar se não se
importar. - Sendo o meu cachorro filho de 2 cães de "exposição",
mesmo que venha a treinar na sua escola desde os 4 meses, ficará em idade
adulta com a "traseira rebaixada"? (provavelmente será uma questão
idiota mas como não tenho intenção de ter um cão de exposição tenho esta dúvida).
Obrigado.” Diante do que me é questionado, interrogo-me sobre a
veracidade do aforismo português que diz “quem nasce torto, tarde ou nunca se
endireita.”
Caro
leitor, em primeiro lugar quero agradecer-lhe os elogios que me endereçou, que
julgo não ser deles minimamente merecedor. Como nota prévia, antes de responder
à sua questão, permita-me que o elucide sobre a diferença no CPA entre cães de
trabalho e de morfologia, ditos de “beleza”, uma vez que a raça é uma só. Nos
cães de trabalho os progenitores são seleccionados maioritariamente pelo
trabalho e nos de beleza pela sua conformação, na diferença que vai do útil ao “belo”
(há muito tempo que procuramos sem sucesso juntar numa só linha de criação os
dois predicados). Assim, o seu cachorro, atendendo à sua genética, sempre será
um “cão de exposição”, por mais desenvolvida que venha a ser a sua capacidade de
aprendizagem e melhore fisicamente acima das expectativas, porque ele sempre
transmitirá à sua prole os seus genes e não as mais-valias que o trabalho eventualmente
lhe possa oferecer.
Poderá aplicar-se-lhe o provérbio que diz “quem nasce torto, tarde ou nunca se endireita”? Estará condenado a ficar com a “traseira rebaixada” para sempre? Não necessariamente! Desde a origem da raça, e há algum registo fotográfico a comprová-lo, sempre subsistiram indivíduos mais angulados e mais compridos do que outros, pelo que o fenómeno não é de hoje. A partir de determinado momento, por critérios passados, hoje ultrapassados e condenados, por atentarem contra o bem-estar animal, os shows de conformação optaram pelos cães muito angulados e assim tem sido até aos nossos dias.
No
caso do seu cachorro, assim você queira, porque terá que correr atrás do
prejuízo, “quem nasce torto, cedo se pode endireitar”. Como podemos fazê-lo?
Afortunadamente todos os cachorros têm uma fase de maior plasticidade anatómica,
onde o crescimento físico é também acompanhado pelo cognitivo, sendo nessa fase
quase como barro nas mãos de um oleiro. Estou a falar do período que decorre
entre os 2 e os 6 meses, de exercícios domésticos simples (dos 2 aos 4 meses) e
do 1º Ciclo Escolar (dos 4 aos 6 meses), onde a correcção morfológica terá
lugar mediante aparelhos correctores. Os resultados poderão não ser absolutos
(a área dos milagres não é a nossa especialidade), mas a traseira do seu
cachorro não ficará rebaixada, parecerá até que “ganhou molas” graças ao desenvolvimento
muscular alcançado. Tantas e tantas vezes, surpreendentemente para quem não o
espera, o trabalho tem dado aos cães aquilo que a genética tentou
surripiar-lhes.
Espero ter respondido à sua pertinente questão e tê-lo feito compreender a importância e necessidade da precocidade laboral para o seu cachorro. Outrossim, disponho-me desde já a acompanhar o seu crescimento até chegar à altura do treino, para que tudo corra conforme o desejado. Caso o animal se desenvolva acima do expectável, poderá até chegar à escola mais cedo e enveredar pelo pré-treino, o que seria ouro sobre azul. Mande sempre!
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