terça-feira, 7 de setembro de 2021

IMMER ZUSAMMEN

 

O termo alemão “ZUSAMMEN” usado ora como adjectivo ora como advérbio, que expressa unidade e que normalmente traduzimos por “junto”, tanto no singular como no plural, independentemente do género, tem mais força, maior significado e dá outro poder ao nosso “sempre”, porque também serve para classificar uma unidade inquebrável e perene, como aquela que procuramos alcançar no adestramento – a unidade binomial – a comunhão de propósitos entre homens e cães. “IMMER ZUSAMMEN” (sempre juntos) é o título que melhor expressa o que aconteceu ontem na aula da tarde, quando a Débora deu início à condução do SRD Kiko em liberdade, passo deveras importante para consolidar o caminhar conjunto que se deseja para sempre.

Porque é castrado, mas não deixa de ser macho, com várias prerrogativas que o identificam com o seu género, o Kiko não pode dispensar nem a correcção nem a constante aprovação, porque doutro modo jamais atentará para o que lhe é pedido e conseguirá realizar a tarefa que lhe for solicitada. De qualquer modo, porque a menor produção hormonal retira desafio e combatividade, induzindo facilmente o animal à rendição, as correcções a haver deverão ser suaves ou dissimuladas, para que o medo não destrone a indispensável experiência feliz. Não estou com isto a fugir ao conceito de “reforço positivo”, muito pelo contrário, mas a dissecar a sua aplicação nos cães esterilizados, método que neles é ainda mais necessário, ao ponto de ser-lhes praticamente imprescindível.

Porque são menos combativos, suportam menos tensão, optam pela letargia e depressa se rendem, os animais esterilizados abominam as constantes repetições e depressa abandonam as tarefas que pretendem incutir-lhes, particularmente as que não são do seu agrado (contrariados jamais chegarão lá). Para que a aversão destes cães ao treino não aconteça, o cronograma das aulas deverá ter mais momentos de supercompensação e momentos de trabalho útil mais curtos, devendo cada um dos últimos terminar com o acerto dos animais para evitar a sua possível resistência na retoma das tarefas. Como por norma os esterilizados e a apatia andam de mãos dadas e a recompensa é o melhor dos estímulos para a cativação do interesse destes animais, quando importa cativar a sua atenção e pô-los a olhar para nós – conquistá-los - recorremos invariavelmente à recompensa, independentemente do seu acerto ou não, porque se não atentarem para o que dizemos e fizemos, dificilmente seremos compreendidos.

O reforço positivo já por cá andava antes da sua sistematização e adopção global, era inclusive uma terapia mais para os donos do que para os cães, uma recorrência para os binómios deficitários na comunicação, quando os líderes por várias razões não conseguiam fazer-se entender aos animais, incapacidades individuais ligadas maioritariamente à ausência de transmissão das emoções por razões genéticas, culturais, sociais ou traumáticas. A procura dos cães também tem o seu “quê” de instintivo e irracional, havendo quem queira regressar à infância através deles (quem se negue a ser adulto), quem queira aumentar a felicidade que nela encontrou, dar aos animais a que não teve e quem descarregue neles a miserável que suportou. Os indivíduos que tiveram uma infância traumática, que nela foram desprezados, tendem a refugiar-se nos cães, mas nem por isso virão a ser bem-sucedidos quando confrontados com o dualismo das vontades (a sua e a do animal). Na formação de condutores caninos não há outra idade que mais influa na sua prestação. Assim, pôr os donos a recompensar os animais, é pô-los de bem com a vida, consigo próprios e com os seus semelhantes – acabar com a sua revolta – para além de estimular os cães a segui-los por toda a parte.

Quanto ao nosso recente e mui apreciado binómio Débora/Kiko, a par com a falta de experiência, a Débora tendo apresentado algumas dificuldades no envolvimento emocional com o seu extraordinário companheiro, mostrando-se tímida na transmissão dos estímulos e por demais contida na hora de recompensar. Provavelmente teme desnudar-se ou expor-se, esforço fútil diante da habilidade canina em desmascarar os homens (o Kiko já te tirou a “fotografia”, já te conhece muito bem). Tudo isto terá certamente a ver com a novidade e será ultrapassado em breve. Entretanto, a melhor novidade é… que a Débora já consegue conduzir o “Dr. Kiko” em liberdade, que se deseja “Seite an Seite, immer zusammen”.

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