O
termo alemão “ZUSAMMEN”
usado ora como adjectivo ora como advérbio, que expressa unidade e que
normalmente traduzimos por “junto”, tanto no singular como no plural,
independentemente do género, tem mais força, maior significado e dá outro poder
ao nosso “sempre”, porque também serve para classificar uma unidade inquebrável
e perene, como aquela que procuramos alcançar no adestramento – a unidade
binomial – a comunhão de propósitos entre homens e cães. “IMMER ZUSAMMEN”
(sempre juntos) é o título que melhor expressa o que aconteceu ontem na aula da
tarde, quando a Débora deu início à condução do SRD Kiko em liberdade, passo
deveras importante para consolidar o caminhar conjunto que se deseja para
sempre.
Porque
é castrado, mas não deixa de ser macho, com várias prerrogativas que o
identificam com o seu género, o Kiko não pode dispensar nem a correcção nem a
constante aprovação, porque doutro modo jamais atentará para o que lhe é pedido
e conseguirá realizar a tarefa que lhe for solicitada. De qualquer modo, porque
a menor produção hormonal retira desafio e combatividade, induzindo facilmente
o animal à rendição, as correcções a haver deverão ser suaves ou dissimuladas,
para que o medo não destrone a indispensável experiência feliz. Não estou com
isto a fugir ao conceito de “reforço positivo”, muito pelo contrário, mas a
dissecar a sua aplicação nos cães esterilizados, método que neles é ainda mais
necessário, ao ponto de ser-lhes praticamente imprescindível.
Porque
são menos combativos, suportam menos tensão, optam pela letargia e depressa se
rendem, os animais esterilizados abominam as constantes repetições e depressa
abandonam as tarefas que pretendem incutir-lhes, particularmente as que não são
do seu agrado (contrariados jamais chegarão lá). Para que a aversão destes cães
ao treino não aconteça, o cronograma das aulas deverá ter mais momentos de
supercompensação e momentos de trabalho útil mais curtos, devendo cada um dos
últimos terminar com o acerto dos animais para evitar a sua possível
resistência na retoma das tarefas. Como por norma os esterilizados e a apatia
andam de mãos dadas e a recompensa é o melhor dos estímulos para a cativação do
interesse destes animais, quando importa cativar a sua atenção e pô-los a olhar
para nós – conquistá-los - recorremos invariavelmente à recompensa,
independentemente do seu acerto ou não, porque se não atentarem para o que
dizemos e fizemos, dificilmente seremos compreendidos.
O
reforço positivo já por cá andava antes da sua sistematização e adopção global,
era inclusive uma terapia mais para os donos do que para os cães, uma recorrência
para os binómios deficitários na comunicação, quando os líderes por várias
razões não conseguiam fazer-se entender aos animais, incapacidades individuais
ligadas maioritariamente à ausência de transmissão das emoções por razões
genéticas, culturais, sociais ou traumáticas. A procura dos cães também tem o
seu “quê” de instintivo e irracional, havendo quem queira regressar à infância
através deles (quem se negue a ser adulto), quem queira aumentar a felicidade
que nela encontrou, dar aos animais a que não teve e quem descarregue neles a
miserável que suportou. Os indivíduos que tiveram uma infância traumática, que
nela foram desprezados, tendem a refugiar-se nos cães, mas nem por isso virão a
ser bem-sucedidos quando confrontados com o dualismo das vontades (a sua e a do
animal). Na formação de condutores caninos não há outra idade que mais influa
na sua prestação. Assim, pôr os donos a recompensar os animais, é pô-los de bem
com a vida, consigo próprios e com os seus semelhantes – acabar com a sua
revolta – para além de estimular os cães a segui-los por toda a parte.
Quanto ao nosso recente e mui apreciado binómio Débora/Kiko, a par com a falta de experiência, a Débora tendo apresentado algumas dificuldades no envolvimento emocional com o seu extraordinário companheiro, mostrando-se tímida na transmissão dos estímulos e por demais contida na hora de recompensar. Provavelmente teme desnudar-se ou expor-se, esforço fútil diante da habilidade canina em desmascarar os homens (o Kiko já te tirou a “fotografia”, já te conhece muito bem). Tudo isto terá certamente a ver com a novidade e será ultrapassado em breve. Entretanto, a melhor novidade é… que a Débora já consegue conduzir o “Dr. Kiko” em liberdade, que se deseja “Seite an Seite, immer zusammen”.
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