Um
cidadão filipino de 29 anos, a residir na cidade austríaca de Klagenfurt,
capital do Estado de Kärnten (Caríntia), foi atacado anteontem (Sábado) por um
terrier cinza e branco, acabando por ser transportado de ambulância para a Clínica
Klagenfurt com lesões de grau indefinido, pondo-se o dono do animal em fuga. “Segundo
a vítima, o cão encontrava-se atrelado, mas o dono não foi capaz de segurá-lo”,
adiantou um polícia. De acordo com a descrição do filipino agredido, o dono do
cão era um homem com cerca de 180 cm de altura, austríaco, esguio, barba por
fazer, notoriamente embriagado, calção escuro, chapéu de palha escuro e frequentador
assíduo da área da estação ferroviária. Face ao ocorrido, outras investigações
estão já a decorrer.
Para
a realidade austríaca, mormente prà Caríntia, onde os índices de criminalidade
são por vezes altos, este é um episódio banal e não irá merecer grande destaque
nos media nacionais e regionais já saturados de noticiar repetidos ataques
caninos, mas para nós que ensinamos cães, a notícia não pode passar
despercebida pela sua importância relativa à sociabilização canina e ao
respeito pelas minorias étnicas, porque só se alcançará verdadeiramente a
igualdade entre os homens quando formos capazes de reconhecer as suas
diferenças e ultrapassá-las. É do conhecimento geral, para além dos cinófobos,
que alguns cães identificam instintivamente como presas certas pessoas e
comportamentos, tais como: crianças a correr e a gritar; ébrios; gente
andrajosa; os sem-abrigo; mendigos; pessoas prepotentes ou com um comportamento
desafiador (neste grupo podem incluir-se também os polícias), as que produzem
algazarra e indivíduos pertencentes a diferentes minorias étnicas,
principalmente africanos, ciganos plurinacionais e indianos, cuja maioria tem
medo de cães ou não nutre por eles grande simpatia, como é o caso dos
muçulmanos (parece que o sentimento é recíproco), cujo número cresce extraordinariamente
da noite para o dia em Portugal. Curiosamente, talvez porque se afastam, os
chineses não incomodam e não são incomodados pelos cães.
Diante
do que dissemos só nos resta trabalhar arduamente com estes grupos de pessoas,
levando os cães para o seu meio, esclarecê-las acerca dos nossos objectivos,
ajudá-las a vencer os seus receios e convidá-las a interagir com os animais,
familiarização que facilitará a sociabilização recíproca e que nos poderá
livrar de alguns “amargos de boca”. Convém esclarecer que “sociabilizado uma
vez, sociabilizado para sempre” é uma inverdade, porque a sociabilização
canina, tal como acontece noutras disciplinas cinotécnicas, é um processo
continuado. Assim, não basta ir uma vez ao Largo do Martim Moniz, subir a
Calçada dos Cavaleiros e descer a Rua do Terreirinho até ao Largo do Chafariz
do Intendente, há que ir à Mouraria tantas vezes quanto a sociabilização dos
cães o exigir. E quem diz a Mouraria, diz outros locais onde for igualmente necessário.
A sociabilização canina não se alcança dentro dos limites de um clube privado ou numa pista de obstáculos, sejam eles desportivos ou tácticos, é alcançada fora de portas, nos desafios do dia-a-dia, onde tudo acontece e os cães são continuamente postos à prova, porque onde estiver o problema é aí que importa encontrar a solução. Por esta razão e com resultados positivos à vista, trabalhamos invariavelmente dentro e fora da escola - não estamos cá para dar caça a filipinos ou a qualquer vítima inocente!
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