segunda-feira, 9 de agosto de 2021

UM FILIPINO AZARADO

 

Um cidadão filipino de 29 anos, a residir na cidade austríaca de Klagenfurt, capital do Estado de Kärnten (Caríntia), foi atacado anteontem (Sábado) por um terrier cinza e branco, acabando por ser transportado de ambulância para a Clínica Klagenfurt com lesões de grau indefinido, pondo-se o dono do animal em fuga. “Segundo a vítima, o cão encontrava-se atrelado, mas o dono não foi capaz de segurá-lo”, adiantou um polícia. De acordo com a descrição do filipino agredido, o dono do cão era um homem com cerca de 180 cm de altura, austríaco, esguio, barba por fazer, notoriamente embriagado, calção escuro, chapéu de palha escuro e frequentador assíduo da área da estação ferroviária. Face ao ocorrido, outras investigações estão já a decorrer.

Para a realidade austríaca, mormente prà Caríntia, onde os índices de criminalidade são por vezes altos, este é um episódio banal e não irá merecer grande destaque nos media nacionais e regionais já saturados de noticiar repetidos ataques caninos, mas para nós que ensinamos cães, a notícia não pode passar despercebida pela sua importância relativa à sociabilização canina e ao respeito pelas minorias étnicas, porque só se alcançará verdadeiramente a igualdade entre os homens quando formos capazes de reconhecer as suas diferenças e ultrapassá-las. É do conhecimento geral, para além dos cinófobos, que alguns cães identificam instintivamente como presas certas pessoas e comportamentos, tais como: crianças a correr e a gritar; ébrios; gente andrajosa; os sem-abrigo; mendigos; pessoas prepotentes ou com um comportamento desafiador (neste grupo podem incluir-se também os polícias), as que produzem algazarra e indivíduos pertencentes a diferentes minorias étnicas, principalmente africanos, ciganos plurinacionais e indianos, cuja maioria tem medo de cães ou não nutre por eles grande simpatia, como é o caso dos muçulmanos (parece que o sentimento é recíproco), cujo número cresce extraordinariamente da noite para o dia em Portugal. Curiosamente, talvez porque se afastam, os chineses não incomodam e não são incomodados pelos cães.

Diante do que dissemos só nos resta trabalhar arduamente com estes grupos de pessoas, levando os cães para o seu meio, esclarecê-las acerca dos nossos objectivos, ajudá-las a vencer os seus receios e convidá-las a interagir com os animais, familiarização que facilitará a sociabilização recíproca e que nos poderá livrar de alguns “amargos de boca”. Convém esclarecer que “sociabilizado uma vez, sociabilizado para sempre” é uma inverdade, porque a sociabilização canina, tal como acontece noutras disciplinas cinotécnicas, é um processo continuado. Assim, não basta ir uma vez ao Largo do Martim Moniz, subir a Calçada dos Cavaleiros e descer a Rua do Terreirinho até ao Largo do Chafariz do Intendente, há que ir à Mouraria tantas vezes quanto a sociabilização dos cães o exigir. E quem diz a Mouraria, diz outros locais onde for igualmente necessário.

A sociabilização canina não se alcança dentro dos limites de um clube privado ou numa pista de obstáculos, sejam eles desportivos ou tácticos, é alcançada fora de portas, nos desafios do dia-a-dia, onde tudo acontece e os cães são continuamente postos à prova, porque onde estiver o problema é aí que importa encontrar a solução. Por esta razão e com resultados positivos à vista, trabalhamos invariavelmente dentro e fora da escola - não estamos cá para dar caça a filipinos ou a qualquer vítima inocente!

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