domingo, 22 de agosto de 2021

OS INDIANOS NÃO OS DEIXARAM PARA TRÁS

 

Quando os norte-americanos saíram do Vietname de “calças na mão”, em grande parte forçados pela sua própria opinião pública, retirada ocorrida há 46 anos atrás, escreveram uma das páginas mais vergonhosas da história da cinotecnia militar ao deixarem para trás os cães que levaram para aquele conflito, que uma vez nas mãos dos vietnamitas, provavelmente não tiveram nem longa vida nem um fim glorioso. À luz dos direitos dos animais que respeitamos hoje, estamos perante um crime de guerra de autoria repartida pelos dois contendores. Foram levados para aquele conflito cerca de 5.000 cães na sua maioria híbridos ou mestiços provenientes de doações e somente 200 regressaram a casa. É inevitável a comparação entre a retirada de Saigão e a de Cabul, só que desta vez espera-se que todos os cães militares sejam evacuados.

Também as forças armadas indianas tinham cães militares em Cabul para proteger instalações e diplomatas indianos, animais altamente treinados da Polícia Indo-Tibetana (ITBP), que ali prestaram serviço durante 3 anos, evitando vários incidentes. São eles a Maya (uma Labradora), a Roobie (uma Pastora Belga) e o Bobby (um Doberman), que mal começou a repatriação dos diplomatas indianos foram de imediato evacuados com o pessoal da embaixada e com mais 126 comandos de guerra. SS Deswal, director-geral da força disse categoricamente a Ravikant Gautam, encarregado da segurança da embaixada da Índia em Cabul: “Custe o que custar, os soldados K9 não poderão ser deixados para trás.”

Mal se soube que um segundo avião C-17 da Força Aérea Indiana estava a caminho do Aeroporto Hamid Karzai para evacuar todo o pessoal na passada terça-feira, os tratadores da Maya, da Roobie e do Bobby providenciaram o seu transporte. O vôo chegou a Delhi na noite do mesmo dia, depois de uma escala em Jamnagar, após a qual os cães foram levados para o acampamento Chhawla do ITBP no sudoeste de Delhi, que é detentor de um canil especial. 

Um funcionário da Unidade K9 do ITBP disse acerca dos cães recém-chegados, agora com idades compreendidas entre os 5 e os 7 anos: “Eles vão agora descansar e adaptar-se ao clima indiano durante 4 ou 5 semanas” e “Eles desempenharam com sucesso tarefas anti-sabotagem na embaixada da Índia em Cabul nos últimos três anos, verificando cada saco, mala, pacote e  outros artigos que chegavam, bem como vigiar pessoas. Detectaram vários IEDs (dispositivos explosivos improvisados) suspeitos durante esse tempo, salvando a vida não apenas aos diplomatas indianos e pessoal da segurança, como também aos civis afegãos que ali trabalhavam para o governo indiano.” 

Criados e treinados no Centro Nacional de Treino para Cães (NCCD) da elite do ITBP em Bhanu, Panchkula, estes três soldados caninos serão redistribuídos em breve, tendo com destino provável as “Operações Anti-Naxal” (1) em Chhattisgarh. O ITBP foi implantado no Afeganistão em 2002 para garantir a segurança da embaixada indiana em Cabul e os consulados em Jalalabad, Kandahar, Mazar-i-Sharif e Herat. Enquanto os consulados iam fechando de acordo com o avanço Taliban, a Embaixada em Cabul funcionou até à última terça-feira, dia 17 de agosto. Houve muitas tentativas terroristas de violar a segurança da embaixada e os consulados indianos, mas todas foram frustradas pelo ITBP. Para além do acerto operacional do ITBP, que não é de menosprezar, importa enaltecer o cuidado demonstrado pelos seus militares caninos, sem dúvida um exemplo para o mundo.

(1)A insurgência Naxalita é um conflito armado que opõe grupos maoístas, conhecidos como naxalitas ou Naxals, e o governo da Índia .

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