Quando
os norte-americanos saíram do Vietname de “calças na mão”, em grande parte
forçados pela sua própria opinião pública, retirada ocorrida há 46 anos atrás,
escreveram uma das páginas mais vergonhosas da história da cinotecnia militar
ao deixarem para trás os cães que levaram para aquele conflito, que uma vez nas
mãos dos vietnamitas, provavelmente não tiveram nem longa vida nem um fim
glorioso. À luz dos direitos dos animais que respeitamos hoje, estamos perante
um crime de guerra de autoria repartida pelos dois contendores. Foram levados
para aquele conflito cerca de 5.000 cães na sua maioria híbridos ou mestiços
provenientes de doações e somente 200 regressaram a casa. É inevitável a
comparação entre a retirada de Saigão e a de Cabul, só que desta vez espera-se
que todos os cães militares sejam evacuados.
Também
as forças armadas indianas tinham cães militares em Cabul para proteger
instalações e diplomatas indianos, animais altamente treinados da Polícia
Indo-Tibetana (ITBP), que ali prestaram serviço durante 3 anos, evitando vários
incidentes. São eles a Maya (uma Labradora), a Roobie (uma Pastora Belga) e o
Bobby (um Doberman), que mal começou a repatriação dos diplomatas indianos
foram de imediato evacuados com o pessoal da embaixada e com mais 126 comandos
de guerra. SS Deswal, director-geral da força disse categoricamente a Ravikant
Gautam, encarregado da segurança da embaixada da Índia em Cabul: “Custe o que
custar, os soldados K9 não poderão ser deixados para trás.”
Mal
se soube que um segundo avião C-17 da Força Aérea Indiana estava a caminho do
Aeroporto Hamid Karzai para evacuar todo o pessoal na passada terça-feira, os
tratadores da Maya, da Roobie e do Bobby providenciaram o seu transporte. O vôo
chegou a Delhi na noite do mesmo dia, depois de uma escala em Jamnagar, após a
qual os cães foram levados para o acampamento Chhawla do ITBP no sudoeste de
Delhi, que é detentor de um canil especial.
Um
funcionário da Unidade K9 do ITBP disse acerca dos cães recém-chegados, agora
com idades compreendidas entre os 5 e os 7 anos: “Eles vão agora descansar e
adaptar-se ao clima indiano durante 4 ou 5 semanas” e “Eles desempenharam com
sucesso tarefas anti-sabotagem na embaixada da Índia em Cabul nos últimos três
anos, verificando cada saco, mala, pacote e outros artigos que chegavam, bem como vigiar
pessoas. Detectaram vários IEDs (dispositivos explosivos improvisados) suspeitos
durante esse tempo, salvando a vida não apenas aos diplomatas indianos e
pessoal da segurança, como também aos civis afegãos que ali trabalhavam para o
governo indiano.”
Criados e treinados no Centro Nacional de Treino
para Cães (NCCD) da elite do ITBP em Bhanu, Panchkula, estes três soldados
caninos serão redistribuídos em breve, tendo com destino provável as “Operações
Anti-Naxal” (1) em
Chhattisgarh. O ITBP foi implantado no Afeganistão em 2002 para garantir a
segurança da embaixada indiana em Cabul e os consulados em Jalalabad, Kandahar,
Mazar-i-Sharif e Herat. Enquanto os consulados iam fechando de acordo com o avanço
Taliban, a Embaixada em Cabul funcionou até à última terça-feira, dia 17 de
agosto. Houve muitas tentativas terroristas de violar a segurança da embaixada
e os consulados indianos, mas todas foram frustradas pelo ITBP. Para além do
acerto operacional do ITBP, que não é de menosprezar, importa enaltecer o
cuidado demonstrado pelos seus militares caninos, sem dúvida um exemplo para o mundo.
(1)A insurgência Naxalita é um conflito armado que opõe grupos maoístas, conhecidos como naxalitas ou Naxals, e o governo da Índia .
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