Quando
se trabalham binómios constituídos por portugueses e cães SRD estamos a lidar
com a prata da casa, com um produto genuinamente “made em Portugal”, o que para
certos sectores da nossa canicultura e cinotecnia é uma escolha desastrada e
uma aposta perdida, para além de uma opção de muito mau gosto. Também agarrar
num Cão de Água Português e fazer dele um cão de trabalho alheio ao seu
histórico serviço é, para além de uma perca de tempo, uma verdadeira blasfémia
para os mais conservadores que se sentem nus sem os seus cães de raças
importadas. Mas aquilo que outros abominam e rejeitam é para mim motivo de
redobrada alegria, porque quando maior for o desafio, mais saborosa será a
vitória. As meninas recém-chegadas à escola, que conduzem um SRD e um Cão de
Água Português, são umas verdadeiras amazonas em prol dos seus cães e
dedicam-se ao trabalho afincadamente. Na foto acima vemos a decisão da Inês ao
sair da vala e na seguinte a ensinar o Oliver a andar sobre o tronco.
Depois
de ter ensinado o Oliver a andar sobre o tronco (rapidamente aprendeu o Cão de Água
a fazê-lo), a Inês foi convidada a atravessar a vala com o Oliver “à frente” e “atrás”.
A foto abaixo reporta-se a um dos momentos do “à frente”.
Como
o binómio Débora/Kiko levava uma lição de avanço (o Kiko é um atleta e “pêras”),
assim que o Oliver venceu o tronco, os binómios passaram a trabalhar em
paralelo. Quando as duas condutoras são chamadas a fazê-lo mostram uma radiosa
unidade e emprestam aos exercícios uma qualidade estética única.
Ontem,
o Cão de Água foi introduzido aos saltos verticais pela transposição de um muro
de 60cm. Como o venceu pronta e folgadamente, foi depois convidado para saltar
80cm, salto que executou como o mesmo à vontade do anterior. Na foto seguinte
vemo-lo a sair do muro de 80cm, no momento da saída.
No
GIF abaixo vemos os dois cães a sair de uma pequena vala, preparação que se
prende com a sua necessidade de evasão em caso de acidente, tempestade, cataclismo
ou sequestro. Para além destas aplicações, o exercício presta-se a uma maior
autonomia dos cães, porque mesmo à trela, progridem num plano diferente ao das
suas condutoras, que não ficaram muito bem na fotografia por evoluírem acocoradas
como se as trelas não tivessem o comprimento necessário, o que aumentou a suspeição dos animais.
Estas duas portuguesas com dois cachorros portugueses (um nascido na rua e outro em berço de ouro), apesar dos limites que outros lhes impunham à partida, todos os dias me surpreendem e ultrapassam dificuldades “inesperadas”. Tudo isto graças à surpreendente força do amor que, segundo um cidadão romano de há dois mil anos atrás, “tudo sofre, tudo crê, tudo espera e tudo suporta.” Só o carinho pelos cães poderá suportar os reveses e levar à transcendência binomial.
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