Já
quase que me havia esquecido do poeta Décimo Júnio Juvenal, o criador do género
satírico romano e da frase acima, “mente sã num corpo são”, tirada do primeiro
verso da sua Sátira X, obrigado que ando à “cultura do agora”, mas ao reparar
no desempenho e concentração das meninas na foto acima, não podia ter
encontrado melhor frase para descrever a sua entrega ao adestramento e a consequente
dedicação dispensada ao ensino dos seus cães. Ontem os trabalhos iniciaram-se
com a recapitulação dos conteúdos de ensino adiantados no dia anterior. Na foto
seguinte vemos a execução do “senta” pelos binómios, com o CAP Oliver bem
enquadrado e em posição de esfinge, enquanto o traquinas do SRD Kiko aproveita
a imobilização para tentar tirar a bola da mão da sua dona e líder.
É
importante que se diga isto, porque parece que há muita gente a ignorá-lo,
deliberadamente ou por ignorância: o treino canino não dispensa a alegria dos
cães e a sua ausência outra coisa não é do que uma manifestação do mais puro
especismo. Na foto abaixo, com as meninas a executar o “junto” e com o Oliver
ligeiramente atrasado, saúda-se o empenho das condutoras, mas mais se saúda a alegria
dos cães patenteada na linguagem mímica das suas caudas. Se andassem ali de
caudas abatidas ou com elas entre as pernas e com as orelhas atiradas para trás,
a figura seria inválida e imprestável por provir da obrigação e não da
cumplicidade que oferece a livre interacção.
Ontem
foi ensinado um novo conteúdo de ensino aos binómios – o comando de “troca” –
que serve simultaneamente para evitar confrontações (com pessoas e cães) e para
proteger os animais de múltiplos perigos ou situações adversas. O ensino do comando
foi faseado nos seus 4 momentos para facilitar a sua assimilação por parte das
condutoras, que na foto abaixo e em sincronia executam o 2º momento do comando.
A
foto seguinte é reveladora e é pedagogicamente interessante. Reporta-se ao 3º
momento do comando de “troca”, quando os cães passam pelas costas dos donos e
trocam finalmente de lado de condução. As duas condutoras foram surpreendidas
em impropriedades diferentes. A Débora, a condutora da frente, não aliviou o
rim e não deu uma passada mais larga para facilitar a passagem do Kiko e a
Inês, a segunda condutora, viu-se obrigada a puxar o Oliver por ausência de
incentivo (esta é apenas a sua 2ª aula).
Verdade
seja dita, a Débora e a Inês parecem talhadas para trabalhar em conjunto, como
se cada uma delas fosse uma extensão da outra, emprestando rara graciosidade
aos exercícios que são-lhes requeridos. Na foto abaixo, de rara beleza, de bom
alinhamento e de uma sincronia assaz notável (até levam o passo certo), vemos
as duas no segundo momento do “troca”. A chamada de atenção para os animais é
simplesmente notável!
Vamos
lá falar do cachorro Cão de Água Português, do Oliver, cachorro com 7 meses de
quem anteontem não recordava o nome e que ontem tive o privilégio de conduzir
por breves momentos. Quando as coisas não se encaixam ou não fazem sentido na
minha cabeça, que já teve dias melhores, sou obrigado a fazer “pontes de burro”,
a associar ao que não quero esquecer conteúdos que me permitam guardá-lo na
memória, por menor ligação que tenham entre si. Ter um Cão de Água Português
chamado Oliver é algo estranho para mim, parece não fazer sentido, muito embora
o nome seja bonito e sonoro (cai bem ao ouvido e não inibe o cão). Para não me
esquecer do nome deste simpático companheiro, tentei recordar-me de todos os
Oliver que conheci ou de quem já tinha ouvido falar. O primeiro que me veio à
memória foi “Oliver Twist”, romance de Charles Dickens que me marcou e que o
cinema imortalizou. “Twist”, por seu lado, é uma dança inspirada no rock and
roll e o constante baloiçar da cauda do nosso Oliver parece recriá-la. Já está,
não me esqueço do nome do cachorro, posso é confundi-lo eventualmente com
Twist?!
No
final da aula, antevendo exercícios vindouros e porque convém mostrar “a luz ao
fundo do túnel” aos cães, que infelizmente não têm perspectiva de futuro,
convidámos as condutoras a dirigir os seus cães sobre uma rampa com as trelas
sobre os ombros e sem lhes tocar, passando a indução da trela para o incentivo
fornecido pela voz. Tudo correu conforme o esperado e a meta foi alcançada.
Participaram nos trabalhos os seguintes binómios: Débora/Kiko e Inês/Oliver (sem “Twist). A reportagem fotográfica esteve a cargo dos dois acompanhantes das meninas, a quem desde já agradecemos a deferência. Resta-me dizer que é um privilégio trabalhar com gente jovem e usufruir da sua boa vontade, disponibilidade e ambição, da transformação dos seus sonhos em realidade – como é bom caminhar com os jovens!
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