Exulta
o País de alegria porque Paulo Pichardo, um cubano naturalizado português,
alcançou no triplo salto uma medalha de ouro para Portugal, dedicando-a à nação
que o acolheu, a quem está muito grato e na qual se sente muito bem. Sem querer
desmerecer o feito deste grande atleta, longe disso, penso que temos mais
razões para estarmos tristes do que alegres, atendendo à nossa prestação
olímpica, bem para trás de países cujo nome só se ouve nesta ocasião e que os
menos versados em geografia ignoram qual a sua localização. Será o homem
português limitado atleticamente ao ponto de só servir para dar chutos na bola?
Eu penso que não e julgo saber algumas das razões que levam ao seu histórico
insucesso nas olimpíadas.
Ainda
que o insucesso olímpico português se possa dever em parte a razões históricas
e sociais, porque há 50 anos atrás só praticava desporto “quem não tinha mais
nada que fazer”, a ginástica não contava para a média das notas escolares e os pavilhões
gimnodesportivos não abundavam, os seus maiores responsáveis são os grandes
clubes nacionais, que apostados nos avultados ganhos do futebol e servindo-se
generosamente do dinheiro dos contribuintes, não dão a mesma importância e
apoio às restantes modalidades desportivas, ditas amadoras, que apenas
subsistem pela carolice de uns tantos espalhados pelo País. Sem contar com o “saco
azul” dos clubes e com os roubos milionários dos seus dirigentes (há quem diga
que se servem dos seus emblemas para lavar dinheiro), só as comissões dadas aos
agentes dos futebolistas dariam para suportar condignamente, todas ou quase
todas, as modalidades olímpicas em Portugal, dando assim condições aos seus
praticantes e atletas de abraçar o sonho olímpico e de levantar mais alto o
estandarte nacional, feito que dificilmente alcançarão a partir de esmolas.
Curiosamente
e a propósito de desporto, exceptuando o canoísta e medalha de bronze olímpico
de Ponte de Lima, Fernando Ismael Pimenta, os restantes medalhados portugueses
são todos de etnia africana ou seus descendentes, o que obviamente se saúda,
mas que não explica plenamente a ausência de atletas portugueses de origem
europeia. Talvez esteja aqui a passar-se o que já aconteceu nos Estados Unidos,
onde irlandeses e africanos encontraram no boxe um meio para a sua ascensão
social. Verdade seja dita e por mais estranho que pareça, vejo mais gente
jubilada a praticar desporto na rua do que jovens, preferindo os últimos
concorrer aos ginásios e carregar-se de músculos, nem que para isso tenham que beber
cocktails miraculosos e perlimpimpins injectáveis de trágicas consequências,
por norma ministrados à boca calada. É por demais evidente que há muita gente
que se serve dos ginásticos para se manter saudável e em boa forma física, que
nada tem a ver com estas macacadas (serão macacadas ou goriladas?).
Tanto a sociedade civil como o Estado devem instar com os maiores clubes nacionais para que dediquem maior atenção e meios às modalidades olímpicas, que não se resumem somente ao atletismo, apoiando-as substantivamente para que os nossos atletas possam mostrar o seu real valor e enaltecer-nos a todos enquanto País e grei catapultada para o futuro. Se assim não suceder, passaremos a vida a adorar os outros e a saber de cor os seus hinos de tanto os ouvir.
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