Antes
de me pronunciar sobre a raça, vou relatar uma notícia que envolveu um Jagdterrier
e que chegou ao meu conhecimento através do site francebleu.fr. O cão, de nome
Pablo, com 2 anos de idade, foi de férias com os seus donos até Itália de autocaravana.
No caminho de regresso, os donos, Catherine e Roger, ambos sexagenários e
moradores em Bezouce, vila francesa na região administrativa da Occitânia, no
departamento de Gard, decidiram fazer uma escala em Saint-Martin-de-Belleville,
na Sabóia, a 380 km de casa.
O
Jagdterrier foi dar uma volta como era seu hábito e nunca mais apareceu. Os
donos esperaram horas por ele e até pernoitaram no local sem sucesso. No dia
seguinte, o casal decide comunicar o desaparecimento do cão na câmara municipal,
antes de rumar à família em Ain (o desaparecimento do Pablo aconteceu na
quinta-feira da semana passada). Passaram horas e dias e do Jagdterrier nem
notícia! Finalmente, no Sábado à noite, dois dias após ter desaparecido, um
amigo do casal que se encontrava responsável pela vigilância da sua casa em
Bezouce, envia-lhes uma mensagem com uma foto. Ao reparar nela, Catherine
exclamou: “ Reconheci o Pablo lá em cima, mal podia acreditar, foi um
verdadeiro momento de felicidade.” Era de facto o Pablo, certamente estafado,
mas ainda vivo. Perante tamanha alegria, os sexagenários decidiram voltar para
casa imediatamente (contas por alto, o cão deveria ter andado sensivelmente 8
km/h).
Escusado
será dizer que os Terriers são os lutadores mais duros e tenazes entre os cães,
ainda que alguns pareçam pulgas quando comparados com cães maiores, verdade que
levou os russos a criar durante a Guerra Fria o Terrier Negro Russo. O
Jagdterrier, cão de origem alemã, também conhecido como German Jagdterrier,
Deutscher Jagdterrier, German Hunt Terrier ou apenas Jadg, resultou da
hibridação consecutiva com o Old English Wirehaired Terrier e com o Welsh
Terrier, cães que lhe garantiram a aparência.
Para
além da contribuição destes, o Jagdterrier tem ainda genes de Pinscher e Teckel,
o que diz muito sobre a sua valentia. Pretendia-se com estes cruzamentos
selectivos obter um cão com diversos talentos, fácil de ser treinado, vigoroso,
que sinalizasse a caçada, que não tivesse medo da água e fosse portador de um
forte instinto de caça. A raça, quando comparada com outras, é relativamente
recente, sendo o Deutscher Jagdterrier Club E. V. fundado
somente em 1926.
Apesar
do seu reduzido tamanho (de 33 a 40cm de altura, os machos pesam de 9 a 10 kg e
as fêmeas de 7,5 a 8,5 kg), este cão corajoso, resistente e inteligente, que
melhora a sua prestação cinegética com o tempo e a experiência, foi criado para
ser um cão funcional, próprio para caçar uma variedade enorme de espécies:
pequenos roedores, coelhos, texugos, raposas, doninhas e javalis, não se
intimidando inclusive a perseguir e a combater ursos, tal é a sua valentia – um verdadeiro
exterminador.
Bem,
os tempos mudaram e com eles o lugar deste intrépido caçador, que mais rápido
do que o esperado inicialmente, saltou dos campos para os apartamentos. Que
vantagens apresenta em relação a outros cães com o seu porte para se
transformar e ser escolhido como cão de companhia? Basicamente por se adaptar facilmente
aos apartamentos, ladrar pouco, ser amigo das crianças (a raça é conhecida por
ser brincalhona, enérgica e afectuosa com elas) e mostrar denotada propensão
para guardião.
No
resto estamos perante um cão mediano, mais para o instintivo do que para o
interactivo, por vezes teimoso, carenciado de sociabilidade precoce e que
precisa de ser resguardado do frio. Contudo, caso consigamos operar-lhe a troca
de alvos e refrear-lhe os instintos, para que tire partido da surpresa, podemos
estar na presença de um potencial cão de guarda, uma agradável surpresa com ¼ do
peso expectável. Este excelente cão, agora transformado e bem em cão de
companhia, parece também talhado para o agility, podendo levar para lá os jovens
e os mais activos.
Ao contrário da fábula de La Fontaine acerca da “rã que queria ser boi” e que acabou por rebentar, estamos perante um pequeno cão com muito para dar e por mais tempo, já que a sua esperança de vida útil oscila entre os 12 e os 15 anos. Resta agradecer aos alemães pelo seu pragmatismo ao criarem um cão assim, uma lenda viva contra outros que sobrevivem de lendas.
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