sexta-feira, 27 de agosto de 2021

JAGDTERRIER: UMA AGRADÁVEL SURPRESA

 

Antes de me pronunciar sobre a raça, vou relatar uma notícia que envolveu um Jagdterrier e que chegou ao meu conhecimento através do site francebleu.fr. O cão, de nome Pablo, com 2 anos de idade, foi de férias com os seus donos até Itália de autocaravana. No caminho de regresso, os donos, Catherine e Roger, ambos sexagenários e moradores em Bezouce, vila francesa na região administrativa da Occitânia, no departamento de Gard, decidiram fazer uma escala em Saint-Martin-de-Belleville, na Sabóia, a 380 km de casa.

O Jagdterrier foi dar uma volta como era seu hábito e nunca mais apareceu. Os donos esperaram horas por ele e até pernoitaram no local sem sucesso. No dia seguinte, o casal decide comunicar o desaparecimento do cão na câmara municipal, antes de rumar à família em Ain (o desaparecimento do Pablo aconteceu na quinta-feira da semana passada). Passaram horas e dias e do Jagdterrier nem notícia! Finalmente, no Sábado à noite, dois dias após ter desaparecido, um amigo do casal que se encontrava responsável pela vigilância da sua casa em Bezouce, envia-lhes uma mensagem com uma foto. Ao reparar nela, Catherine exclamou: “ Reconheci o Pablo lá em cima, mal podia acreditar, foi um verdadeiro momento de felicidade.” Era de facto o Pablo, certamente estafado, mas ainda vivo. Perante tamanha alegria, os sexagenários decidiram voltar para casa imediatamente (contas por alto, o cão deveria ter andado sensivelmente 8 km/h).

Escusado será dizer que os Terriers são os lutadores mais duros e tenazes entre os cães, ainda que alguns pareçam pulgas quando comparados com cães maiores, verdade que levou os russos a criar durante a Guerra Fria o Terrier Negro Russo. O Jagdterrier, cão de origem alemã, também conhecido como German Jagdterrier, Deutscher Jagdterrier, German Hunt Terrier ou apenas Jadg, resultou da hibridação consecutiva com o Old English Wirehaired Terrier e com o Welsh Terrier, cães que lhe garantiram a aparência. 

Para além da contribuição destes, o Jagdterrier tem ainda genes de Pinscher e Teckel, o que diz muito sobre a sua valentia. Pretendia-se com estes cruzamentos selectivos obter um cão com diversos talentos, fácil de ser treinado, vigoroso, que sinalizasse a caçada, que não tivesse medo da água e fosse portador de um forte instinto de caça. A raça, quando comparada com outras, é relativamente recente, sendo o Deutscher Jagdterrier Club E. V. fundado somente em 1926.

Apesar do seu reduzido tamanho (de 33 a 40cm de altura, os machos pesam de 9 a 10 kg e as fêmeas de 7,5 a 8,5 kg), este cão corajoso, resistente e inteligente, que melhora a sua prestação cinegética com o tempo e a experiência, foi criado para ser um cão funcional, próprio para caçar uma variedade enorme de espécies: pequenos roedores, coelhos, texugos, raposas, doninhas e javalis, não se intimidando inclusive a perseguir e a combater ursos, tal é a sua valentia – um verdadeiro exterminador.

Bem, os tempos mudaram e com eles o lugar deste intrépido caçador, que mais rápido do que o esperado inicialmente, saltou dos campos para os apartamentos. Que vantagens apresenta em relação a outros cães com o seu porte para se transformar e ser escolhido como cão de companhia? Basicamente por se adaptar facilmente aos apartamentos, ladrar pouco, ser amigo das crianças (a raça é conhecida por ser brincalhona, enérgica e afectuosa com elas) e mostrar denotada propensão para guardião.

No resto estamos perante um cão mediano, mais para o instintivo do que para o interactivo, por vezes teimoso, carenciado de sociabilidade precoce e que precisa de ser resguardado do frio. Contudo, caso consigamos operar-lhe a troca de alvos e refrear-lhe os instintos, para que tire partido da surpresa, podemos estar na presença de um potencial cão de guarda, uma agradável surpresa com ¼ do peso expectável. Este excelente cão, agora transformado e bem em cão de companhia, parece também talhado para o agility, podendo levar para lá os jovens e os mais activos.

Ao contrário da fábula de La Fontaine acerca da “rã que queria ser boi” e que acabou por rebentar, estamos perante um pequeno cão com muito para dar e por mais tempo, já que a sua esperança de vida útil oscila entre os 12 e os 15 anos. Resta agradecer aos alemães pelo seu pragmatismo ao criarem um cão assim, uma lenda viva contra outros que sobrevivem de lendas.

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