Nas
últimas décadas não houve grandes novidades em matéria de adestramento canino,
muito embora tenho havido um aumento substancial dos serviços destinados aos
cães, devido em parte a uma ou mais fusões interdisciplinares visando a sua utilização
em novos panoramas e necessidades, onde a hibridação atingiu também um lugar de
destaque. Contudo, com as campanhas de esterilização e adopção que estão a
acontecer por toda a parte e a fazer com que a procura de cães com pedigree
diminua, cresce o número de cães esterilizados nos centros de treino caninos, presença
que é simultaneamente o último e o maior desafio colocado aos adestradores do
presente apostados em valer-lhes.
Estes
aninais que acabaram por nunca crescer e cujos interesses são diversos dos esperados
do comum dos cães, têm por isso comportamentos excepcionais, lembrando por
vezes borboletas errantes ou colibris estonteados, muito embora sejam mais
dependentes, menos autónomos e por vezes estranhamente distantes como se
pertencessem a outro mundo. Visando a sua utilidade nos clássicos serviços
destinados aos cães, alguns deles ficarão irremediável e automaticamente
arredados de algumas especialidades, ficando isso a dever à idade em que foram
esterilizados, que influirá também no seu equilíbrio emocional, já que os
dominantes irão tornar-se tolerantes e os submissos piegas.
Como todos os impulsos herdados caninos considerados importantes para o treino sofreram alteração com a castração, assistindo-se à quase destruição de alguns, cada cão deverá ser objecto de estudo para se compreender que impulso ou impulsos tem mais desenvolvidos, para que a partir deles se alcance a união binomial e a parceria desejável para além da tristemente usual política da “algazarra e papo cheio”. Como só a aprovação humana é capaz de motivá-los, a recompensa na maioria dos casos irá substituir e suplantar a tradicional acuidade técnica. Não estamos somente a falar de “reforço positivo”, mas de um processo pedagógico individual que visa a reabilitação dos cães de acordo com o seu potencial. Para que isso aconteça exige-se um treino criativo, a conjugação e complementaridade de vários métodos, diferentes metas e novos critérios de avaliação, cuja aprovação será ratificada pela resposta afirmativa dos animais. Este desafio agiganta-se ainda mais no caso português, cujos cães castrados são na sua maioria descendentes de cães de caça, sobejamente mais instintivos do que interactivos e de molossos com baixa capacidade de aprendizagem.
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