Vamos
primeiro ao relato do incidente. Na cidade de Paramaribo, capital o Suriname, ex-colónia
holandesa e o menor país da América do Sul, uma preguiça abandonou o seu
habitat natural, invadiu uma área residencial e acabou por ser atacada por um
cão que a feriu com alguma gravidade. Quando o dono do cão conseguiu separar os
animais, a preguiça ferida subiu a um poste de electricidade e acabou agarrada
aos cabos eléctricos.
Com
muita paciência e calma, o animal acabou por livrar-se daquela situação difícil
graças ao resgate efectuado pelo pessoal do GREEN
HERITAGE FUND SURINAME, que o baptizou com o nome hindu de Krishna
por ter sido resgatado na rua com o nome desta divindade. No Suriname existe
uma grande colónia de indianos, o que à primeira vista parece estranho na América
do Sul, mesmo ali ao lado das Caraíbas, mas tal se deve ao fim da escravatura e
ao posterior recrutamento de trabalhadores asiáticos.
Depois
de resgatada, a preguiça foi levada ao veterinário, que lhe encontrou
ferimentos graves ao redor dos olhos e verificou que mal conseguia mexer a
mandíbula. Krishna foi então estimulada com alimentos macios especiais,
voltando a comer sozinha alguns dias depois. Finalmente foi solta da caixa de
transporte e rumou à floresta tropical a que pertence e donde nunca devia ter
saído. Com alguma sorte, poderá vir a esquecer-se rapidamente da sua perigosa
aventura canina.
Esta
notícia lançou-me imediatamente para o problema da protecção das espécies
ameaçadas e/ou em extinção e da sua relação com a sociabilização canina. Em abono
da verdade ninguém poderá considerar-se um ambientalista e ter um cão mal sociabilizado
ou por sociabilizar, que facilmente dará caça a animais domésticos e selvagens,
contribuindo decisivamente para o desaparecimento dos últimos e para o
desequilíbrio de vários ecossistemas. Todos os cães ao redor de reservas, florestas
parques naturais e áreas protegidas deveriam estar sociabilizados para não
colocarem em risco as espécies protegidas e em extinção. Se assim tivesse
acontecido, a preguiça de Paramaribo não teria sido atacada.
Ademais, por toda a parte e ainda que tarde, a caça começa a ser outra, transitou da captura das espécies cinegéticas para a detecção e perseguição de caçadores furtivos. Ainda que o meu cão nunca venha a visitar uma floresta de chuva ou uma savana, se não estiver verdadeiramente sociabilizado com os restantes animais silvestres à sua volta, poderá pôr em risco grande número de espécies no seu ecossistema, o que já está a acontecer. Diante do acima exposto, para se evitar o paradoxo, qualquer ambientalista que se preze deverá ter o seu cão eficazmente socializado com toda a sorte de animais ao seu redor, a começar com os outros cães.
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