terça-feira, 31 de agosto de 2021

TRAGÉDIA NA CALÁBRIA

 

Um pequeno pinhal na zona rural de Satriano, na Calábria, Itália, foi palco de uma terrível tragédia na sexta-feira passada. Um jovem casal que caminhava na floresta foi cercado por uma matilha de cães e atacado. Enquanto o jovem conseguiu chegar em segurança a um prédio abandonado, a fugitiva Simona Cavallaro, de 20 anos (na fto seguinte), foi surpreendida pelos cães selvagens e várias vezes mordida. Quando a equipa de resgate chegou, a jovem de 20 anos já estava morta. Simona Cavallaro tinha encontrado vários amigos na área de Monte Fiorino num pequeno pinhal, onde foram montadas  várias mesas e bancos para um piquenique colectivo. Após o piquenique, a jovem de 20 anos deixou o grupo com o seu namorado e juntos decidiram fazer uma pequena caminhada pelo pinhal.

Segundo uma reconstrução inicial dos Carabinieri e o testemunho do jovem sobrevivente, o casal deparou-se logo com um grande rebanho de ovelhas acompanhado por um grande número de cães. Quando Simona Cavallaro e o jovem, que também tinha 20 anos, viram os cães, ficaram com muito medo. Em simultâneo, os cães avistaram o casal, cercando-o e atacando-o. Simona Cavallaro e o seu namorado tentaram fugir imediatamente. O jovem conseguiu chegar a tempo a um prédio abandonado, trancar-se e usar o smartphone para fazer uma chamada para o número de emergência. No processo, porém, ele perdeu a sua namorada de vista. A matilha de cães selvagens não deu qualquer chance à jovem, que provavelmente queria fugir na direção do carro, mas acabou por internar-se na densa floresta, sendo várias vezes ultrapassada pelos cães selvagens e mordida amiúde. Quando a ambulância e a equipa de resgate chegaram, a jovem já havia sucumbido aos graves ferimentos que sofrera no ataque.

Os Carabinieri de Soverato chegaram ao local do acidente em simultâneo com a equipa de resgate, e junto com o Ministério Público responsável iniciaram uma investigação imediatamente. A autópsia da vítima, ordenada pelo Delegado do Ministério Público, confirmou a suspeita original de que a jovem de 20 anos havia morrido devido à perca de sangue provocada pelas dentadas. No fim-de-semana, os Carabinieri puderam pesquisar o dono dos cães - o pastor Pietro Russomanno, de 44 anos - e, em colaboração com veterinários e autoridades florestais, doze cães, da raça Pastor-Maremanno-Abruzês foram capturados, tendo ainda alguns manchas de sangue da vítima. Segundo as primeiras declarações do pastor de 44 anos, os cães "semi-selvagens" costumavam seguir o rebanho sozinhos. “Ainda estamos à procura de mais cães que também faziam parte da matilha. No entanto, uma investigação preliminar de homicídio por negligência já foi iniciada contra Pietro Russomanno”, adiantaram as autoridades.

A cidade natal de Simona Cavallaro, Soverato, está em choque após a tragédia. “Você não pode ir a um lugar público e perder sua vida desta forma horrível”, disse o seu pai durante o cortejo fúnebre que foi realizado para homenagear a jovem universitária. O drama de Simona Cavallaro gerou um acalorado debate entre a opinião pública italiana. Muitos italianos estão a pedir que o problema dos cães selvagens e vadios, que atacam repetidamente pessoas, seja finalmente resolvido, problema que é mais comum no sul. Várias organizações de bem-estar animal, no entanto, pediram para que a vida dos cães seja poupada. A associação de protecção dos animais (AIDAA) anunciou que nos próximos dias irá requerer a custódia da matilha de cães actualmente apreendida pela autoridades. O objetivo - segundo esta associação - é evitar a morte dos animais e formar um grupo de especialistas capaz de os reeducar (oferecia-me para o fazer se levasse guia de marcha e fosse abonado de alimentação e alojamento).

O pânico e a fuga dos jovens de um território que os cães consideravam seu foi-lhes fatal, porque se comportaram e foram entendidos como intrusos. Ficou demonstrado que o casal tinha pouca experiência e não se sentia muito à vontade perto daqueles animais. Caso tivessem permanecido quietos e terem-se deixado cair no chão em decúbito ventral, não reagindo às possíveis mordiscadelas, tudo não passaria de um grande susto, até porque aqueles cães não estavam preparados para atacar alvos imóveis. O namorado da jovem, ao abandoná-la e tentar safar-se, mostrou pouco carácter e manifesta cobardia (mais valia à jovem tê-lo perdido do que ter perdido a vida). Por causa de casos idênticos, como sempre temos feito, continuamos a dar subsídios de defesa contra possíveis ataques caninos, sejam eles individuais ou colectivos.

ALEMÃO DESCUIDADO IA MORRENDO AFOGADO

 

Apesar de menos do que noutros tempos, alemães é coisa que não falta nas Ilhas Baleares, sendo inclusive a maior comunidade de estrangeiros ali residente (em 2010 eram 36.003 e em 2019 somente 18.922). Quer queiram quer não, sempre acabam por ser notícia quando envolvidos em qualquer incidente, como o ocorrido ontem, segunda-feira, dia 30 de agosto, próximo de Santa Margalida, município espanhol na província e comunidade autónoma das Ilhas baleares, onde um alemão acabou dentro de um poço (na foto seguinte), segundo relata o jornal “Diario de Mallorca”.

O acidente ocorreu numa propriedade nos arredores do município atrás citado, quando um dos cães do alemão caiu dentro de um poço. Ao tentar salvar o animal de morrer afogado, o homem acabou também por cair lá dentro, permanecendo ali ambos por mais de 1 hora até que os moradores ouviram os seus gritos de socorro e chamaram a equipa de resgate. Depois de chamada, a equipa de resgate não demorou e dono e cão encontram-se bem, de acordo com o noticiado pelo “Diario de Mallorca”. Incidentes destes acontecem com frequência e nem sempre têm um final feliz, porque na ânsia de valer aos seus cães em aflição, muitas donos acabam inadvertidamente por desconsiderar a sua própria segurança, tornando-se também eles vítimas, como o sucedido perto de Santa Margalida. Assim, a regra é esta: nenhuma acção de resgate e salvamento dispensa a segurança prévia dos seus executantes.

O ÚLTIMO E MAIOR DESAFIO

 

Nas últimas décadas não houve grandes novidades em matéria de adestramento canino, muito embora tenho havido um aumento substancial dos serviços destinados aos cães, devido em parte a uma ou mais fusões interdisciplinares visando a sua utilização em novos panoramas e necessidades, onde a hibridação atingiu também um lugar de destaque. Contudo, com as campanhas de esterilização e adopção que estão a acontecer por toda a parte e a fazer com que a procura de cães com pedigree diminua, cresce o número de cães esterilizados nos centros de treino caninos, presença que é simultaneamente o último e o maior desafio colocado aos adestradores do presente apostados em valer-lhes.

Estes aninais que acabaram por nunca crescer e cujos interesses são diversos dos esperados do comum dos cães, têm por isso comportamentos excepcionais, lembrando por vezes borboletas errantes ou colibris estonteados, muito embora sejam mais dependentes, menos autónomos e por vezes estranhamente distantes como se pertencessem a outro mundo. Visando a sua utilidade nos clássicos serviços destinados aos cães, alguns deles ficarão irremediável e automaticamente arredados de algumas especialidades, ficando isso a dever à idade em que foram esterilizados, que influirá também no seu equilíbrio emocional, já que os dominantes irão tornar-se tolerantes e os submissos piegas. 

Como todos os impulsos herdados caninos considerados importantes para o treino sofreram alteração com a castração, assistindo-se à quase destruição de alguns, cada cão deverá ser objecto de estudo para se compreender que impulso ou impulsos tem mais desenvolvidos, para que a partir deles se alcance a união binomial e a parceria desejável para além da tristemente usual política da “algazarra e papo cheio”. Como só a aprovação humana é capaz de motivá-los, a recompensa na maioria dos casos irá substituir e suplantar a tradicional acuidade técnica. Não estamos somente a falar de “reforço positivo”, mas de um processo pedagógico individual que visa a reabilitação dos cães de acordo com o seu potencial. Para que isso aconteça exige-se um treino criativo, a conjugação e complementaridade de vários métodos, diferentes metas e novos critérios de avaliação, cuja aprovação será ratificada pela resposta afirmativa dos animais. Este desafio agiganta-se ainda mais no caso português, cujos cães castrados são na sua maioria descendentes de cães de caça, sobejamente mais instintivos do que interactivos e de molossos com baixa capacidade de aprendizagem.

O KIKO FOI À PISTA TÁCTICA

 

Depois de ter introduzido à Pista Táctica milhares de cães com pedigree e não mais do que uma arroba de cães sem raça definida (SRD), ontem entrei nela pela primeira vez com um SRD castrado, o pequeno grande Kiko, amigo que é um dos maiores desafios da minha carreira como adestrador, a quem vou tentar devolver o arrojo, a tenacidade e a competitividade que o bisturi lhe roubou. Não sei até onde poderei chegar com ele, mas tenho a certeza que tudo farei para que vá um pouco mais além. Este camarada, a rondar os 10 kg, mostrou ter uma extraordinária capacidade de resolução, mostrando-se particularmente à vontade nos obstáculos técnicos e nos próprios para o robustecimento de carácter. Na foto acima vemo-lo a ultrapassar o Pneu, obstáculo que venceu à primeira, apesar do seu reduzido tamanho. Nos obstáculos elevadores sentiu-se em casa, vencendo os Bidões com grande naturalidade conforme se pode ver na foto seguinte.

Na sequência dos bidões entrou também à vontade na Passerelle e muito melhor desempenho teria se a sua condutora não se esquecesse que tem que circular na sua frente, fazendo assim justiça ao aforismo que diz: “candeia que vai na frente alumia duas vezes”.

Na introdução aos túneis mostrou-se seguro e agradou-se deles, comportamento que é comum a todos os cães, chegando a aproveitá-los para se escaparem ou esconderem dos seus donos, quando o trabalho proposto não lhes agrada ou têm outros interesses (de “burros” não têm nada!).

Disse no primeiro parágrafo que este SRD mostrou-se particularmente à vontade nos obstáculos técnicos e nos próprios para o robustecimento de carácter, e não menti. No GIF abaixo, sem nunca ter visto Baloiço, foi pelo obstáculo acima sem temor e conseguiu ultrapassá-lo, apesar do aparelho ter sido concebido para cães com o triplo do seu peso.

De uma coisa pode a Débora estar certa – cão não lhe falta – agora só falta adequar a dona ao seu mini Mustang chocolate! Até hoje, o Kiko nunca me desiludiu e espero continuar a merecer a sua confiança.

OS 10 TEXTOS MAIS LIDOS NA ÚLTIMA DÉCADA

 

Os 10 textos mais lidos deste blogue na última década foram: _ OS FALSOS PASTORES ALEMÃES (29.100 leitores), editado em 24/02/2015; _ PASTOR ALEMÃO X MALINOIS: VANTAGENS E DESVANTAGENS (10.200), editado em 15/06/2011; _ HÍBRIDO DE CHOW-CHOW/PASTOR ALEMÃO: MÁQUINA OU DESASTRE (9.980), editado em 11/05/2016; _ O CANIL (8.550) editado em 29/12/2009; _ DOBERMAN: O CÃO QUE É MENOS DO QUE SE SUPÕE E MAIS DO QUE SE IMAGINA, editado em 06/03/2016; _ A CURVA DE CRESCIMENTO DAS DIVERSAS LINHAS DO PASTOR ALEMÃO (5.000) editado em 29/08/2013; _ A CASOTA DO CÃO (4.710), editado em 29/12/2009; _ EU QUERIA UM PASTOR ALEMÃO, DE PREFERÊNCIA TODO PRETO! (4.520), editado em 05/06/2010; _ O CÃO LOBEIRO: UM SILVESTRE ENTRE NÓS (3.350), editado em 26/10/2009 e 10º _ PASTORES ALEMÃES LOBEIROS: O QUE OS TORNA TÃO ESPECIAIS (2.060), editado em 02/11/2015.

segunda-feira, 30 de agosto de 2021

INGRATIDÃO E MALVADEZ

 

No tribunal de Bergerac, localidade francesa situada no departamento de Dordogne, na região de Nouvelle Aquitaine, na sexta-feira passada, dia 27, um homem foi condenado a dois meses de prisão de pena suspensa e ao pagamento de uma multa de 1.500€ por maus tratos a um animal. Em 2018, a sua cadela de 7 anos foi resgatada pela SPA (Société Protectrice des Animaux) segundo informou a rádio France Bleu Périgord. Às portas da morte, esta mastim pesava apenas 32 kg e tinha sido abandonada pelo seu dono sem água e sem comida durante várias semanas. Enviada para um abrigo, a cadela viria a morrer 6 meses depois.

Em 2017, um investigador voluntário visitou a casa deste malvado dono, homem de 28 anos e residente em Tursac, constatando que o animal se encontrava numa garagem sem condições de higiene, sem luz e com os seus cachorrinhos, segundo informou a rádio atrás citada. O seu proprietário servia-se dela para uma criação não declarada. Vítima de uma grave infecção, a pobre cadela foi finalmente esterilizada após anos de reprodução, a uma taxa de duas ninhadas por ano, ocasião que o dono aproveitou para a abandonar. O réu não se fez presente no seu julgamento e permanece inacessível, já que o endereço constante no processo e em poder da justiça não é o correcto. Face a tamanha crueldade, onde ressaltam a ingratidão e a malvadez, considero que o homem merecia uma pena de prisão efectiva e uma multa mais avultada, para além de ficar proibido de voltar a ter qualquer animal. A justiça de Bergerac foi branda! 

HÁ GENTE CAPAZ DE TUDO!

 

Os proprietários caninos fisicamente menos aptos com cães pequenos, miniatura ou toy, têm que ser precavidos para que não lhes surripiem os seus estimados parceiros de 4 patas, como aconteceu no sábado de manhã, num parque da cidade alemã de Bamberg, localizada na região administrativa de Oberfranken, no estado de Bayern, onde um casal, depois de acariciar um cão que se encontrava na companhia do seu proprietário, fugiu com ele. Pouco tempo depois, o dono do cão encontrou os dois ladrões com o animal no centro da cidade, recuperou o cão e denunciou o casal de larápios à polícia, que imediatamente iniciou um processo de averiguações.

Os mais fracos, atendendo à sua condição, são obrigados a ser precavidos para não verem os seus cães roubados, geralmente cobiçados por marginais que acabam por usá-los na mendicância ou vendê-los a quem lhes der mais dinheiro, vindo a ser usados como moeda de troca para aquisição de droga. Assim, traga sempre o seu cãozinho preso à trela, junto a si e em locais bastante frequentados. Caso se sinta vulnerável, procure a companhia de outro proprietário canino seu conhecido. Como há gente capaz de tudo, os cães valem dinheiro e os mais pequenos são muito cobiçados, todo o cuidado é pouco.

PEN FARTHING: A DIFFERENT ROYAL MARINE COMANDO

 

Vamos lá falar de um Royal Marine Comando diferente, precisamente de PAUL “PEN” FARTHING, ex-Comandante da Marinha Real Britânica, que ao invés de ficar famoso pelo número de inimigos que eliminou, tornou-se assim pelos cerca de 200 cães e gatos que resgatou de Cabul. No tempo em que vivemos, com os cães a fazer dos homens seus porta-vozes, indo dessa forma votar, Farthing podia criar um partido político que certamente seria bem-sucedido e até eleito, apesar da Europa estar superpovoada de cães e de lhe faltarem crianças, o que compromete de sobremaneira o seu futuro e força de trabalho, o que aponta para a necessidade crescente de novos emigrantes no Velho Continente.

Quanto ao nosso amigo Pen Farthing, durante a sua comissão no Afeganistão em 2006, como parte das tropas para ali destacadas do 42º Comando Royal Marines, ele e os seus subordinados parecem ter interrompido uma luta de cães de rua na cidade de Nowzad. Mais tarde, um desses cães seria baptizado com o nome da cidade e iria acompanhar Farthing nos seis meses seguintes. Quando terminou a sua missão no Afeganistão, ele tentou trazer aquele cão para a sua casa no Reino Unido e isso inspirou-o a criar a Nowzad Dogs, uma instituição de caridade que procura reunir os soldados com os cães e gatos que os ajudaram e controlar humanamente os animais abandonados em Cabul, instituição que é relatada como pioneira no resgate de animais naquele montanhoso país asiático.

Com a já anunciada mudança de rumo da guerra e com os talibãs em Cabul, viu-se obrigado a tirar do Afeganistão os animais resgatados e o pessoal que deles cuidava, numa altura em que ainda se procede a uma evacuação apressada e em massa de estrangeiros e dos afegãos que com eles trabalharam debaixo do espectro da vingança talibã. Depois de alguns conflitos com autoridades governamentais do Reino Unido, em particular com o Ben Wallace, Ministro da Defesa, que entendia dar a prioridade ao transporte e evacuação de pessoas, no passado dia 28, Farthing consegue finalmente embarcar num avião fretado com os seus 140 cães e 60 gatos, não podendo trazer com eles a sua equipa de cuidadores, pessoal que Farthing espera evacuar posteriormente pelo Paquistão. Pousa no dia seguinte, dia 29 de agosto, no aeroporto de Heathrow em Londres, sendo os animais enviados para canis de quarentena.

Poderá Farthing finalmente descansar e dizer missão cumprida? O Sunday Times, citando um alto funcionário de Whitehall, previu que os animais da instituição de caridade animal Nowzad de Pen, vindos de Cabul, poderão ser condenados à morte, apesar de todos os esforços e controvérsias para tirá-los do Afeganistão, caso estejam crivados de doenças, o que levará o DEFRA (Departamento de Meio Ambiente, Alimentação e Assuntos Rurais) a ter que eliminá-los. Deseja-se ardentemente que não e tal seria até motivo para uma revolução nas Ilhas Britânicas. Como ficaria feliz se um ou mais Pen Farthing se lembrassem de resgatar e conseguissem evacuar 200 crianças afegãs cada um, também se aparecessem alguns que fossem capazes de salvar a totalidade das vidas que os talibãs esperam ceifar. Oxalá/ نأمل!

domingo, 29 de agosto de 2021

HÁ QUEM NÃO GOSTE, MAS O USO DO AÇAIME É VITAL

 

Na paradisíaca Ilha britânica de Wight, a maior ilha do Canal da Mancha, localizada a sul de Southampton e separada da Grã-Bretanha pelo Estreito de Solent, ontem, Sábado, pelas 13h13, a polícia foi chamada para uma ocorrência que envolvia uma briga entre dois cães e uma proprietária canina mordida, com 60 anos de idade, num campo próximo à Godric Road, Pan. Crê-se que o Serviço de Ambulâncias da Ilha de Wight acudiu ao local e forneceu suporte médico à senhora que se encontrava ferida num braço, sendo depois levada ao hospital para tratamento, onde os seus ferimentos não foram considerados muito graves. O cão agressor foi descrito como sendo um Staffordshire Bull Terrier. Entretanto, a Polícia de Hampshire já iniciou investigações acerca deste incidente, que poderia ser evitado se os cães em questão trouxessem açaime.

Continuo sem perceber, porque aqui passa-se o mesmo, qual a relutância que leva muita gente frágil a não açaimar os seus possantes cães, quando os trazem à solta, comportamento que coloca os restantes cidadãos e os seus cães perante uma verdadeira “roleta russa”, somente entregues aos caprichos da sorte, que invariavelmente acaba por ser madrasta para alguém. Cães perigosos e sem qualquer tipo de sociabilização séria, indexados ou não, são verdadeiros crocodilos em miniatura à procura de pessoas ingénuas e cães inocentes. Por este motivo estalam por toda a parte acalorados e dispensáveis conflitos entre proprietários caninos, alguns deles com consequências muito graves para donos e cães. Desculpem-me, mas não consigo conceber que o mundo vá acabar à dentada! Pôr o açaime no seu cão é protegê-lo e proteger a vida dos outros.

SANGUE NA GUELRA E VONTADE DE VENCER

 

Ontem, sem que isso constasse do Plano de Aula, foi ressuscitado o histórico espírito de cumplicidade da Acendura Brava, baseado na união de esforços entre condutores e cães e no princípio “onde estiver um, estará o outro”. Como escola de condutores que é, para além de ensinar cães, a Acendura procura também o robustecimento atlético dos líderes caninos, que em paralelo com os seus parceiros de quatro patas, adquirem a robustez necessária a uma boa prestação cinotécnica, mais-valia que fortalecerá a união binomial e possibilitará um controlo mais eficaz sobre os animais que conduzem. E a nossa aposta tem sido tal, que no passado alguém disse a propósito: “ Aqui até os coxos correm e quem mal andava, passou a caminhar uma milha diária!” Decididamente não somos uma escola para exibicionistas, destinada àqueles que dominados pela vaidade pouco fazem e que muito exigem dos seus cães, somente porque lhes dá gozo. Muito menos chamaremos de bem-vindos os que não têm humildade para aprender, os que gostam de ser excepção ou que procuram tratamento diferenciado, porque persistimos em ser uma equipa coesa, capaz de suprir as dificuldades dos seus membros e nisto permaneceremos irredutíveis. Na foto acima, com muita vontade de vencer e sangue na guelra, vemos o binómio Débora/Kiko (o pequeno SRD já pensa que é Pastor Alemão por treinar com eles) num alegre exercício de cumplicidade emanando saúde e alento. Na foto abaixo, no mesmo exercício e que com igual desempenho, vemos o binómio Pedro Rodrigues/Luna.

A propósito do Pedro Rodrigues, há que dar-lhe os parabéns por estar a cessar exemplarmente os ataques da CPA Luna à distância, facto que ficou provado na sua prestação de ontem. Com a aprovação da Débora, que em nenhum momento se mostrou insegura, procedemos ao seu baptismo, iniciação que continuamos a levar a cabo debaixo do espírito atrás mencionado. Houve muita adrenalina à solta e areia no ar, mas a Débora saiu do ritual ainda mais forte e segura.

Também o Henrique Fabião, filho do José Maria e que cada vez mais se parece com o pai, foi baptizado, mostrando-se seguro mesmo com a CPA Luna em cima e a assobiar-lhe aos ouvidos, A foto seguinte não seria possível sem o excelente controlo do Pedro Rodrigues sobre a cadela lupina.

Está ser cada vez mais difícil separar o José Maria do CPA cinzento Jay, porque é difícil imaginar um sem o outro. Ambos tiveram ontem uma excelente prestação e o Möselring esteve em alta. No exercício de cumplicidade, o José Maria teve que se aplicar a fundo, não porque a idade lhe pese ou a saúde lhe falte, mas porque tem uns tantos quilitos a mais.

O Noé, na foto seguinte a saltar com o CPA Ruky, precisa de dedicar mais tempo à obediência do seu cão, porque o animal não tem contra-indicações, já tem idade para isso e é grande e valente - um verdadeiro leão adormecido – que importa acordar com regras. O Noé mostrou estar em boa forma e ter a robustez necessária para a sua função.

Conduzir uma cachorra CPA negra como a Süße, que é bastante resiliente e que insiste em ter vontade própria, particularmente agora que atingiu a maturidade sexual, não foi uma tarefa fácil para o Henrique, que ainda por cima vive afastado dela, só a vendo quando visita o pai. Não obstante, pese embora as dificuldades, o rapaz conseguiu impor-se como líder. Na foto, a fazer de obstáculo, vemos a Patrícia a sorrir, exemplo da boa disposição que acompanhou o treino de ontem.

Depois de dois “baptismos” estivemos a ponto de celebrar um “casamento” (felicidades para a Inês e o Carlos), quando mandámos a Débora e o Pedro Pereira anular o ataque da CPA Luna, cadela que mostrou uma predilecção especial pelo jovem que se escapava à sua frente. A manobra de defesa do casal de namorados é excelente do ponto de vista estratégico, porque não correram para o mesmo lado e com isso confundiram e diminuíram o ímpeto da cadela perseguidora.

Com a maré a esvaziar, os trabalhos voltaram-se para terra e um deles assentou sobre a execução colectiva e linear dos comandos de “quieto” e “aqui”, tirados a partir da posição de “deita” e com os donos a poucos metros de distância dos animais, atendendo em parte à presença do SRD Kiko, um dos cães recém-chegados à escola, que até se portou muito bem, apesar de se encontrar entre cinco Pastores Alemães.

Com os animais assim posicionados, o Adestrador tentava arrancá-los do seu sítio, quer dando-lhes ordens quer convidando-os para a brincadeira, tanto pela sua frente como pela sua retaguarda, colocando-se entre eles e os donos ou provocando-lhes insegurança.

Conforme se pode ver no GIF seguinte, o CPA Jay foi ainda mais testado ao levar com um par de chinelos em cima, distracção/agressão que não o fez desrespeitar a ordem de imobilização dada pelo seu líder (nunca duvidámos da qualidade deste cão).

No GIF abaixo é possível ver os cães a serem chamados individualmente e cada um na sua vez, a começar pelo lado direito como sempre acontece. Todo se comportam bem e só avançaram mediante ordem, somente o CPA Ruky vacilou um pouco.

Participaram nos trabalhos os seguintes binómios: Débora/Kiko; Henrique/Süße; José Maria/Jay; Noé/Ruky; Paulo/Bohr e Pedro Rodrigues/Luna. Oficiaram-se os “baptismos” da Débora e do Henrique, o Pedro Pereira praticou técnicas de defesa contra ataques caninos e ainda deu uma perninha como fotógrafo, sucedendo o mesmo com a Patrícia Rodrigues. A montagem ficou a cabo do Paulo Jorge, o Jorge Guerreiro não participou das actividades porque esteve a trabalhar no turno da noite e o Henrique, filho do José Maria, deu muito boa conta de si. Os trabalhos decorreram segundo o expectável, com muita alegria e boa disposição.

sexta-feira, 27 de agosto de 2021

INSÓLITO EM ISRAEL

 

Na cidade israelita de Bat Yam, localizada a sul de Telavive, na faixa central da costa mediterrânica de Israel, a polícia local deteve um homem sob suspeita de ter ateado fogo ao seu cão, um Pastor Belga Malinois. A polícia foi chamada por causa de um incêndio e deparou-se com o animal morto a arder, vindo este a ser identificado pelos agentes através do seu microchip.

Inicialmente, após esta descoberta macabra, o dono do cão não se encontrava em casa, vindo a entregar-se à polícia hoje de manhã. Incidentes destes não são muito comuns em Israel, país que aposta no bem-estar animal e onde os cães são por norma respeitados, muito embora haja doidos por toda a parte.

O ESTRANHO CASO DA AROEIRA

 

Anteontem, quarta-feira, na localidade de Aroeira, freguesia da Charneca da Caparica, pelas 22h30, na rua Duarte de Almeida, três pessoas, inquilinos numa moradia, foram atacadas pelo seu próprio cão ao entrem em casa, dois homens e uma mulher, respectivamente com 30, 55 e 25 anos. O cão agressor, presumivelmente um SRD, tinha 10 anos de idade e estava naquela casa quase desde o dia em que nasceu. O animal começou por atacar o homem de 30 anos num ombro e o seu pai, homem de 55 anos, ao tentar socorrer o filho, foi mordido no pescoço. A jovem mulher, que começou por abrir a boca ao cão, acabou também mordida num braço. Devido à gravidade dos seus ferimentos, os homens foram transportados para o Hospital de S. José em Lisboa e a senhora, com ferimentos considerados ligeiros, foi assistida no Hospital Garcia da Orta em Almada. Desconhecem-se até ao momento quais as razões de um ataque tão violento e por isso mesmo inexplicável. As vítimas acabaram por matar o cão ao defenderem-se com uma faca. A notícia foi dada em primeira mão pela CMTV.

Ao tomar conhecimento da notícia fiquei intrigado quanto ao seu desfecho, porque aparentemente não saltam razões à vista para um ataque de natureza tão violenta, atendendo a que foi perpetrado contra os donos e o cão havia crescido com eles. Por mera casualidade, conheço a rua em questão e a moradia onde tudo aconteceu, já por lá passei duas ou três vezes e francamente nunca vi o cão ou dei pela sua presença, tampouco ouvi o seu rosnar. Segundo foi noticiado, o animal tinha a sua papelada toda em dia, o que exclui de imediato a possibilidade da raiva. Pela natureza dos ataques, por muitos considerados assassinos, penso que o cão não seja tão rafeiro quanto à partida se julga, porque “trabalhos” destes são na sua maioria de origem genética e há raças que fazem deles o seu modus operandi quando provocados, feridos, ameaçados, amedrontados ou importunados tanto por estranhos como por dor intensa (um pequeno número deles é também capaz de o fazer para “ajustar contas”). Assim, é bem possível estarmos na presença de um híbrido ou de um mestiço de primeira geração.

Se soubesse qual o tipo de relacionamento que tinham as vítimas com o cão e da existência ou não de anteriores desaguisados, consideraria certamente menos hipóteses e mais depressa descobriria qual a razão deste ataque. Os grandes molossos, geralmente usados como protectores de rebanhos e manadas, tendem a atacar os lobos e outros predadores no pescoço, mas vindos da retaguarda para evitar os seus dentes. Estes cães, que são mais disponíveis até aos 2 anos de idade, quando dominantes ou dispensados de qualquer tipo de controlo, costumam atacar o pescoço das pessoas do mesmo modo quando forçados ou contrariados. Penso, e isto é uma suposição minha (vale o que vale), que a jovem senhora tinha uma relação mais privilegiada e mais próxima do cão, porque tentou abrir-lhe a boca, o que um estranho jamais faria e acabou mordida com menor gravidade, o que não me parece ser fruto do acaso. Com o cão morto, mesmo depois de concluídas as investigações em curso, é possível não se chegar a conclusão nenhuma, porque as “razões” do animal jamais serão ouvidas, já que não pôde ser avaliado. Assim sendo, é possível que tudo fique nos segredos dos deuses e se constitua num mistério para sempre.

JAGDTERRIER: UMA AGRADÁVEL SURPRESA

 

Antes de me pronunciar sobre a raça, vou relatar uma notícia que envolveu um Jagdterrier e que chegou ao meu conhecimento através do site francebleu.fr. O cão, de nome Pablo, com 2 anos de idade, foi de férias com os seus donos até Itália de autocaravana. No caminho de regresso, os donos, Catherine e Roger, ambos sexagenários e moradores em Bezouce, vila francesa na região administrativa da Occitânia, no departamento de Gard, decidiram fazer uma escala em Saint-Martin-de-Belleville, na Sabóia, a 380 km de casa.

O Jagdterrier foi dar uma volta como era seu hábito e nunca mais apareceu. Os donos esperaram horas por ele e até pernoitaram no local sem sucesso. No dia seguinte, o casal decide comunicar o desaparecimento do cão na câmara municipal, antes de rumar à família em Ain (o desaparecimento do Pablo aconteceu na quinta-feira da semana passada). Passaram horas e dias e do Jagdterrier nem notícia! Finalmente, no Sábado à noite, dois dias após ter desaparecido, um amigo do casal que se encontrava responsável pela vigilância da sua casa em Bezouce, envia-lhes uma mensagem com uma foto. Ao reparar nela, Catherine exclamou: “ Reconheci o Pablo lá em cima, mal podia acreditar, foi um verdadeiro momento de felicidade.” Era de facto o Pablo, certamente estafado, mas ainda vivo. Perante tamanha alegria, os sexagenários decidiram voltar para casa imediatamente (contas por alto, o cão deveria ter andado sensivelmente 8 km/h).

Escusado será dizer que os Terriers são os lutadores mais duros e tenazes entre os cães, ainda que alguns pareçam pulgas quando comparados com cães maiores, verdade que levou os russos a criar durante a Guerra Fria o Terrier Negro Russo. O Jagdterrier, cão de origem alemã, também conhecido como German Jagdterrier, Deutscher Jagdterrier, German Hunt Terrier ou apenas Jadg, resultou da hibridação consecutiva com o Old English Wirehaired Terrier e com o Welsh Terrier, cães que lhe garantiram a aparência. 

Para além da contribuição destes, o Jagdterrier tem ainda genes de Pinscher e Teckel, o que diz muito sobre a sua valentia. Pretendia-se com estes cruzamentos selectivos obter um cão com diversos talentos, fácil de ser treinado, vigoroso, que sinalizasse a caçada, que não tivesse medo da água e fosse portador de um forte instinto de caça. A raça, quando comparada com outras, é relativamente recente, sendo o Deutscher Jagdterrier Club E. V. fundado somente em 1926.

Apesar do seu reduzido tamanho (de 33 a 40cm de altura, os machos pesam de 9 a 10 kg e as fêmeas de 7,5 a 8,5 kg), este cão corajoso, resistente e inteligente, que melhora a sua prestação cinegética com o tempo e a experiência, foi criado para ser um cão funcional, próprio para caçar uma variedade enorme de espécies: pequenos roedores, coelhos, texugos, raposas, doninhas e javalis, não se intimidando inclusive a perseguir e a combater ursos, tal é a sua valentia – um verdadeiro exterminador.

Bem, os tempos mudaram e com eles o lugar deste intrépido caçador, que mais rápido do que o esperado inicialmente, saltou dos campos para os apartamentos. Que vantagens apresenta em relação a outros cães com o seu porte para se transformar e ser escolhido como cão de companhia? Basicamente por se adaptar facilmente aos apartamentos, ladrar pouco, ser amigo das crianças (a raça é conhecida por ser brincalhona, enérgica e afectuosa com elas) e mostrar denotada propensão para guardião.

No resto estamos perante um cão mediano, mais para o instintivo do que para o interactivo, por vezes teimoso, carenciado de sociabilidade precoce e que precisa de ser resguardado do frio. Contudo, caso consigamos operar-lhe a troca de alvos e refrear-lhe os instintos, para que tire partido da surpresa, podemos estar na presença de um potencial cão de guarda, uma agradável surpresa com ¼ do peso expectável. Este excelente cão, agora transformado e bem em cão de companhia, parece também talhado para o agility, podendo levar para lá os jovens e os mais activos.

Ao contrário da fábula de La Fontaine acerca da “rã que queria ser boi” e que acabou por rebentar, estamos perante um pequeno cão com muito para dar e por mais tempo, já que a sua esperança de vida útil oscila entre os 12 e os 15 anos. Resta agradecer aos alemães pelo seu pragmatismo ao criarem um cão assim, uma lenda viva contra outros que sobrevivem de lendas.