sexta-feira, 4 de setembro de 2020

FORÇAR OU PARAR?

Vamos a uma situação concreta, aquela em que um cão resiste a determinada figura, movimento ou obstáculo, assim como à sua progressão. Diante de situações destas o que fazer, forçar ou parar? O mais acertado é regressar à “primeira forma” (retornar ao procedimento ou exercício anterior àquele em que o animal resiste e no qual se sente à vontade), para que saia animado da lição pela experiência feliz e retorne depois à escola com o ânimo desejável para vencer o exercício em falta. Infelizmente ainda há adestradores que não procedem assim, quiçá pela sua má catadura, nescidade, afecção crónica ou ignorância, profissionais da treta que, abusando da passividade dos donos, acabam por forçar sistematicamente os animais, o que é de todo deplorável por se tratar de um abuso gritante que jamais regressa de mãos vazias.
Nunca é demais lembrar que todos os exercícios de capacitação canina dispensam a violência e carecem da ajuda humana, acção que não se coaduna com o forçar dos animais. Forçar ou obrigar um cão a fazer algo é estabelecer os medos e aversões próprias da experiência negativa, responsáveis pela perca do pleno aproveitamento canino e pelo seu desinteresse. Um cão sujeito a uma “terapia” destas sabe que mal ou bem tem que cumprir o que lhe pedem, partindo quase sempre contrariado pela obrigação e pela desconfiança, como se estivesse a fazer um frete. A somar a isto, os animais assim abusados, ainda podem incorrer em várias lesões, o que não raramente acontece.
O forçar de um cão pode lançá-lo facilmente na desconfiança que obsta à cumplicidade binomial, uma cruel traição que poderá levá-lo a afastar-se de nós para sempre, o que se compreende. Há gente que não sabe quando parar, mas todos necessitamos de aprender a parar quando necessário e isso é mais do que uma necessidade para os adestradores, para que não se convertam em fomentadores de traumas e aversões, que deverão evitar a todo o custo. O sucesso no adestramento vem do amor que procura o conhecimento e não do abuso, da mão que se estende em ajuda e não da vara que empurra.

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