domingo, 20 de setembro de 2020

É UM PASTOR ALEMÃO, BELGA OU HOLANDÊS?

Hoje, tanto nas companhias cinotécnicas militares como nas policiais, assim como nos grupos de trabalho civis, a pergunta acima faz todo o sentido e a resposta é invariavelmente a mesma: é um “Pastor”, ainda que o exemplar em questão descenda das três raças, opção que remonta aos anos 80 do século passado, quando a eugenia negativa, suportada na consanguinidade e na endogamia, estava a comprometer irremediavelmente o desempenho das raças ditas de trabalho. A princípio a mestiçagem era feita às escuras e agora resplandece à luz do dia, sendo visível a olho nu. Estes cruzamentos começaram a despontar e a eclodir um pouco por toda a parte antes da queda do Muro de Berlim e não teriam acontecido sem os erros do passado e os avanços da etologia.

 

Que não se assustem os mais puritanos, porque esta estratégia para salvaguardar, preservar e fazer proliferar os cães pastores é um regresso à raíz comum, quando era mais o que unia as três raças do que aquilo que as separava, separação centenária que tirou a cada uma delas uma parte que só podia ser encontrada nas outras, considerando a versatilidade, a interacção, a valentia, a disponibilidade e a rusticidade, entre outros particulares também importantes para os distintos serviços historicamente distribuídos aos cães.

Assim, a existência destes “Pastores” não se encontra cativa ao que os difere dos outros, mas ao que é comum aos 3 e que os torna excepcionalmente aptos, depois de legitimados pela depuração do trabalho, enquanto método próprio para a selecção de cães de utilidade. A selecção dos reprodutores em “Quadro Aberto” não pode ser arbitrária e baseada em palpites, como tantas vezes sucede, mas por quem consegue reconhecer e destrinçar neles os instintos e impulsos herdados que se pretendem perpetuar, no são equilíbrio entre o impulso ao conhecimento e os restantes considerando a excelente interacção.

Pessoalmente, enquanto criador de Pastores Alemães, não sou adepto desta estratégia, porque entendo que o Pastor Alemão é um todo que se completa nas variedades que foi desprezando e que ainda hoje existem, não sendo por isso necessário retornar à raiz comum de pastores belgas e holandeses para recuperar a sua histórica reputação como cão de utilidade, o que não significa que me oponha a que beneficie as suas raças congéneres ou contribua para o aparecimento de outras, como sempre aconteceu e certamente continuará a acontecer, agora até mais do que nunca. O que importa guardar, tendo em conta que as aparências iludem, é que um cão exteriormente Pastor Alemão pode ser maioritariamente Malinois e vice-versa, e que um cão de aparência similar a um Pastor Holandês pode ter mais de Pastor Belga e de Pastor Alemão do que à partida se imagina. Assim vai o mundo, assim vai canicultura e a cinotecnia. 

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