Hoje,
tanto nas companhias cinotécnicas militares como nas policiais, assim como nos
grupos de trabalho civis, a pergunta acima faz todo o sentido e a resposta é
invariavelmente a mesma: é um “Pastor”, ainda que o exemplar em questão descenda
das três raças, opção que remonta aos anos 80 do século passado, quando a eugenia
negativa, suportada na consanguinidade e na endogamia, estava a comprometer
irremediavelmente o desempenho das raças ditas de trabalho. A princípio a mestiçagem
era feita às escuras e agora resplandece à luz do dia, sendo visível a olho nu.
Estes cruzamentos começaram a despontar e a eclodir um pouco por toda a parte
antes da queda do Muro de Berlim e não teriam acontecido sem os erros do
passado e os avanços da etologia.
Que
não se assustem os mais puritanos, porque esta estratégia para salvaguardar,
preservar e fazer proliferar os cães pastores é um regresso à raíz comum, quando
era mais o que unia as três raças do que aquilo que as separava, separação
centenária que tirou a cada uma delas uma parte que só podia ser encontrada nas
outras, considerando a versatilidade, a interacção, a valentia, a disponibilidade
e a rusticidade, entre outros particulares também importantes para os distintos
serviços historicamente distribuídos aos cães.
Assim,
a existência destes “Pastores” não se encontra cativa ao que os difere dos
outros, mas ao que é comum aos 3 e que os torna excepcionalmente aptos, depois
de legitimados pela depuração do trabalho, enquanto método próprio para a
selecção de cães de utilidade. A selecção dos reprodutores em “Quadro Aberto”
não pode ser arbitrária e baseada em palpites, como tantas vezes sucede, mas
por quem consegue reconhecer e destrinçar neles os instintos e impulsos
herdados que se pretendem perpetuar, no são equilíbrio entre o impulso ao conhecimento
e os restantes considerando a excelente interacção.
Pessoalmente, enquanto criador de Pastores Alemães, não sou adepto desta estratégia, porque entendo que o Pastor Alemão é um todo que se completa nas variedades que foi desprezando e que ainda hoje existem, não sendo por isso necessário retornar à raiz comum de pastores belgas e holandeses para recuperar a sua histórica reputação como cão de utilidade, o que não significa que me oponha a que beneficie as suas raças congéneres ou contribua para o aparecimento de outras, como sempre aconteceu e certamente continuará a acontecer, agora até mais do que nunca. O que importa guardar, tendo em conta que as aparências iludem, é que um cão exteriormente Pastor Alemão pode ser maioritariamente Malinois e vice-versa, e que um cão de aparência similar a um Pastor Holandês pode ter mais de Pastor Belga e de Pastor Alemão do que à partida se imagina. Assim vai o mundo, assim vai canicultura e a cinotecnia.
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