Recebemos anteontem um
email de um leitor que indevidamente confundiu-nos com a polícia, com um centro
de treino canino que nos é alheio e com pressupostos de ensino que abominamos.
Para que fique bem claro: ESTA PLATAFORMA SOCIAL NÃO APOIA OU RECOMENDA OUTRA
ESCOLA PARA ALÉM DAQUELA QUE REPRESENTA – A ACENDURA BRAVA. A determinado momento
do email, o seu autor faz saber que o responsável da tal escola “critica quem
resgata cães abandonados, como aconteceu com uma aluna sua que resgatou um cão
e foi chamada de "estúpida" e ainda o ouviu dizer que quando se
encontra um cão na rua, deixa-se o animal onde estava.” Custa-nos a acreditar
que alguém com responsabilidades no adestramento possa dizer tamanha
barbaridade nos tempos que correm, onde os direitos dos animais são ponto
assente e letra de lei.
Mesmo assim, como estamos
cá para esclarecer, adiantamos desde já que nenhum cão é melhor do que outro só
por ter pedigree e que todos têm ou manifestam habilidades diferentes. Mais, é
obrigação do adestramento descobrir essas habilidades individuais e cabe aos
adestradores saber usá-las, porquanto estão cá para servir e valorizar todos os
cães sem excepção - nunca para impor ou institucionalizar a sua vontade pessoal
(celebrámos à pouco a Liberdade e a Democracia). Nesta matéria, todo o “encantador
de cães” que não conseguir ver para além dos velhos e caducos pressupostos selectivos
caninos iniciados no final do Séc.XIX, que tanto mal fizeram aos cães em termos
de saúde e esperança de vida, para além de evidenciar notória incapacidade e ausência
de visão, corre no risco de vir a ser sepultado com eles (o mundo não pára!).
É evidente que os cães seleccionados
pela endogamia e pela consanguinidade, na sua origem e/ou continuadamente, são animais
com habilidades específicas para fins determinados, manifestando nessas
aptidões menor margem de erro do que outros, o que não significa que sejam
todos aptos e excelentes no desempenho que presidiu à sua criação. Por outro
lado e em paralelo, a artificial potenciação de instintos, impulsos e sentidos,
perpetrada pela ingerência humana na selecção dos cães, exagero que ultrapassou
a sua evolução natural, trouxe consigo um conjunto de incapacidades físicas e
psicológicas que a selecção natural canina há muito tem vindo a resolver, sendo
os “rafeiros” um claro exemplo disso, o que nos leva a declarar que quanto mais
rafeiro for um cão, mais saudável será.
Aqueles que circulam pelo
mundo do adestramento há algum tempo sabem que a maioria dos desacatos entre
cães e donos, alguns com graves consequências, acontecem com animais
padronizados e que estes não são próprios para as “mãos” de toda gente, exigindo
como pré-requisitos donos experientes ou com características próprias para
conduzi-los, condições que a esmagadora maioria dos rafeiros, quer sejam
castrados ou não, raramente exige e que a maioria dos donos não reúne. Se porventura
alguém duvidar disto, basta-lhe consultar qualquer lista nacional de ataques
caninos, que logo verá quem atacou, mordeu e matou mais, se os “puros” ou os
rafeiros (SRD). Apesar de subsistirem excelentes raças caninas próprias para
acompanhar crianças como companheiras de brincadeiras e diabruras, não tenho
pejo nenhum em dizer e não estou a fugir à verdade, que cachorro por cachorro,
sempre optaria por entregar a uma criança pequena um cachorrinho de raça
indefinida a pensar no seu bem-estar e integridade.
Mais do que na raça, há
que considerar os indivíduos e em todos eles há uma multivariedade de
mais-valias. Cães oriundos de abrigos e sem raça específica têm dado excelentes
animais de companhia, terapia, detecção, salva-vidas, resgate, salvamento,
policiais e até de guerra, ao reunirem as condições exigíveis para esses
serviços, muito embora não haja dois iguais, sendo por norma indivíduos de
controlo mais fácil ao operarem prontamente tanto a acção como a inacção, o
cumprimento das ordens e a sua cessação, o que não deixa de ser uma vantagem
considerável no desempenho binomial. Os métodos de treino canino carecem de ser
universais, aptos para adestrar qualquer cão, independentemente da sua
genealogia ou procedência, porque o que está em causa é o seu bem-estar e sem
ele o rendimento dos cães, ao ser menor e nalguns casos até sofrível, acaba por
espelhar o desaproveitamento do seu potencial individual e interactivo - é isto
que entendemos, fazemos e aconselhamos, tendo consciência que o ensino dos
donos é a tarefa mais difícil no adestramento.
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