quinta-feira, 30 de abril de 2020

NENHUM É MELHOR DO QUE OUTRO

Recebemos anteontem um email de um leitor que indevidamente confundiu-nos com a polícia, com um centro de treino canino que nos é alheio e com pressupostos de ensino que abominamos. Para que fique bem claro: ESTA PLATAFORMA SOCIAL NÃO APOIA OU RECOMENDA OUTRA ESCOLA PARA ALÉM DAQUELA QUE REPRESENTA – A ACENDURA BRAVA. A determinado momento do email, o seu autor faz saber que o responsável da tal escola “critica quem resgata cães abandonados, como aconteceu com uma aluna sua que resgatou um cão e foi chamada de "estúpida" e ainda o ouviu dizer que quando se encontra um cão na rua, deixa-se o animal onde estava.” Custa-nos a acreditar que alguém com responsabilidades no adestramento possa dizer tamanha barbaridade nos tempos que correm, onde os direitos dos animais são ponto assente e letra de lei.
Mesmo assim, como estamos cá para esclarecer, adiantamos desde já que nenhum cão é melhor do que outro só por ter pedigree e que todos têm ou manifestam habilidades diferentes. Mais, é obrigação do adestramento descobrir essas habilidades individuais e cabe aos adestradores saber usá-las, porquanto estão cá para servir e valorizar todos os cães sem excepção - nunca para impor ou institucionalizar a sua vontade pessoal (celebrámos à pouco a Liberdade e a Democracia). Nesta matéria, todo o “encantador de cães” que não conseguir ver para além dos velhos e caducos pressupostos selectivos caninos iniciados no final do Séc.XIX, que tanto mal fizeram aos cães em termos de saúde e esperança de vida, para além de evidenciar notória incapacidade e ausência de visão, corre no risco de vir a ser sepultado com eles (o mundo não pára!).
É evidente que os cães seleccionados pela endogamia e pela consanguinidade, na sua origem e/ou continuadamente, são animais com habilidades específicas para fins determinados, manifestando nessas aptidões menor margem de erro do que outros, o que não significa que sejam todos aptos e excelentes no desempenho que presidiu à sua criação. Por outro lado e em paralelo, a artificial potenciação de instintos, impulsos e sentidos, perpetrada pela ingerência humana na selecção dos cães, exagero que ultrapassou a sua evolução natural, trouxe consigo um conjunto de incapacidades físicas e psicológicas que a selecção natural canina há muito tem vindo a resolver, sendo os “rafeiros” um claro exemplo disso, o que nos leva a declarar que quanto mais rafeiro for um cão, mais saudável será.
Aqueles que circulam pelo mundo do adestramento há algum tempo sabem que a maioria dos desacatos entre cães e donos, alguns com graves consequências, acontecem com animais padronizados e que estes não são próprios para as “mãos” de toda gente, exigindo como pré-requisitos donos experientes ou com características próprias para conduzi-los, condições que a esmagadora maioria dos rafeiros, quer sejam castrados ou não, raramente exige e que a maioria dos donos não reúne. Se porventura alguém duvidar disto, basta-lhe consultar qualquer lista nacional de ataques caninos, que logo verá quem atacou, mordeu e matou mais, se os “puros” ou os rafeiros (SRD). Apesar de subsistirem excelentes raças caninas próprias para acompanhar crianças como companheiras de brincadeiras e diabruras, não tenho pejo nenhum em dizer e não estou a fugir à verdade, que cachorro por cachorro, sempre optaria por entregar a uma criança pequena um cachorrinho de raça indefinida a pensar no seu bem-estar e integridade.
Mais do que na raça, há que considerar os indivíduos e em todos eles há uma multivariedade de mais-valias. Cães oriundos de abrigos e sem raça específica têm dado excelentes animais de companhia, terapia, detecção, salva-vidas, resgate, salvamento, policiais e até de guerra, ao reunirem as condições exigíveis para esses serviços, muito embora não haja dois iguais, sendo por norma indivíduos de controlo mais fácil ao operarem prontamente tanto a acção como a inacção, o cumprimento das ordens e a sua cessação, o que não deixa de ser uma vantagem considerável no desempenho binomial. Os métodos de treino canino carecem de ser universais, aptos para adestrar qualquer cão, independentemente da sua genealogia ou procedência, porque o que está em causa é o seu bem-estar e sem ele o rendimento dos cães, ao ser menor e nalguns casos até sofrível, acaba por espelhar o desaproveitamento do seu potencial individual e interactivo - é isto que entendemos, fazemos e aconselhamos, tendo consciência que o ensino dos donos é a tarefa mais difícil no adestramento.                                                             

Sem comentários:

Enviar um comentário