Provavelmente nunca ouviu
falar deste cão, até porque a maioria dos europeus vê a Ásia e os asiáticos
como um continente longínquo pleno de gente estranha, apesar da Europa e o
Mundo dependerem da Ásia mais do que à partida se pensa. Por isso, a Mongólia e
os mongóis parecem ter desaparecido na história, reaparecendo pontualmente quando
se fala de Gengis Khan ou do Deserto do Gobi. Na Mongólia nasceu e está agora a
voltar por manifesta necessidade, o antigo Cão Pastor do Bankhar Mongol, animal
poderoso que por mais de um século foi usado pelos mongóis como protector dos
seus rebanhos de ovelhas contra os predadores.
Após a Revolução de Xinhai
(1),
quando as tropas soviéticas ocuparam o território mongol (2),
tudo ali sofreu uma tremenda reviravolta, a Mongólia tornou-se num país mais
industrializado e outros métodos de controlo de predadores foram postos em
prática, nomeadamente armas e veneno. Contudo, estes métodos alternativos, para
além de diminuírem a população de Cães Bankhar, comprometeram também a sobrevivência
de várias espécies como o leopardo da neve, águias, ursos pardos e raposas, o
que desequilibrou profundamente este ecossistema. Presentemente, os cientistas
estão a procurar maneiras de aumentar a população do Bankhar Mongol e
reintroduzi-lo como protector de rebanhos, o que para além de poupar o grosso das
ovelhas, reequilibrará gradualmente o ecossistema local.
O uso dos cães Bankhar
mongóis contra predadores é uma tradição na Mongólia que remonta a vários
séculos, sendo estes cães conhecidos pela sua discrição e capacidade de
deter praticamente qualquer tipo de predador. E a tradição está tão arreigada
na cultura pastoril que a saudação típica perante a aproximação a um pastor
era: “Segure o seu cão.” A espinha dorsal da economia mongol são os seus
rebanhos e o uso dos cães Bankhar sempre se mostrou eficaz no controlo das
espécies predadoras de maneira ambientalmente amigável. Como os pastores estão a
relatar que os seus rebanhos estão a sofrer percas maciças diante dos leopardos
e lobos da neve, também eles ameaçados de extinção, a introdução dos cães Bankhar
da Mongólia parece ser a única maneira infalível de garantir o equilíbrio
ecológico. Não existem apenas provas documentais de que os cães são eficazes na
defesa contra os predadores, mas também que outras espécies à beira da extinção
estão a recuperar-se. Segundo o parecer dos cientistas, a perca de solo e de áreas
de pastagem afectaram tanto as comunidades naturais quanto as humanas.
O Bankhar é um típico
molosso quadrado de pêlo comprido, com um comprimento de pelo entre os 8 e os
10cm, de dorso paralelo ao solo e de angulação traseira recta, de fácil
transição do passo para o galope, territorial, preparado para as amplitudes
térmicas mesuráveis na Mongólia (de pêlo duplo), rasgadamente instintivo, com
forte impulso à defesa e que apresenta dimorfismo sexual. As fêmeas medem entre
66 e 74 cm e pesam entre 36 e 41 kg; os machos medem entre 74 e 84 cm e pesam
entre 39 e 57 Kg. Apesar destes cães apresentarem grande variedade de cores no
seu manto, sendo uns bicolores e outros uniformes de côr, as cores mais comuns
são o preto e o mogno. Quanto ao temperamento, os Bankhars, enquanto molossos
primitivos, preferem ser autónomos (seguir os seus instintos) do que interagir,
não sendo agressivos com as pessoas, a não ser que sejam provocados, sendo por isso
conhecidos como sociáveis e confiáveis. Porém, jamais recuarão diante de um
predador e atacá-lo-ão mesmo que recue. Estes cães são atléticos e
geneticamente diversos, Estes cães são atléticos e geneticamente diversos.
Sabe-se que têm uma vida longa, em média entre os 15 e os 18 anos e mesmo velhos
continuam a trabalhar no campo. O percentual de doenças ósseas e outras presentes
nas várias raças caninas é muito diminuto – estes cães gozam de uma saúde
invejável!
Neste momento está em
execução o “The Mongolian Bankhar Dog Project”, projecto lançado em 2011 pelo
biólogo e empresário americano Bruce Elfstrom, com o objectivo de proteger a
cultura natural da Mongólia pela reversão da desertificação que afectou as suas
pastagens, objectivo só alcançável pela criação e treino de cães Bankhar da
Mongólia. Convém dizer que o uso de cães Bankhar não reduz apenas a depredação,
mas encoraja também os predadores a perseguirem as suas presas naturais.
Estudos já realizados mostraram que a presença dos Bankhars reduz a depredação
em 80%.
Como
a população de cães Bankhar é muito baixa quando comparada com a existente há
apenas 100 anos, restaurá-la ao seu status anterior é uma vitória para a raça,
para os pastores e para o sistema ecológico do país. Os cães estão a ser
escolhidos com base nas seguintes características: grande tamanho, alta
velocidade, bom desempenho atlético, temperamento fiável e raízes históricas. Para
além disto espera-se uma esperança de vida média entre os 15 e os 18 anos. Todos
os cães com genes modernos são eliminados do processo, para garantir que apenas
os cães com genes mongóis mais primitivos sejam escolhidos. O programa de
criação de animais a longo prazo desenvolvido pelo MBDP garante em simultâneo a
diversidade genética e a histórica capacidade laboral dos cães. Com 75% do
espaço terrestre da Mongólia é ocupado por pastagens, vislumbra-se nitidamente que
o cão Bankhar da Mongólia está ter uma segunda oportunidade. Depois de muitos
anos a usar métodos alternativos para a eliminação de predadores, os cientistas
finalmente descobriram que apoiar a população destes cães amigáveis, leais e
fisicamente imponentes ajudará os pastores e o delicado ecossistema da
Mongólia. Se tivéssemos por cá um problema semelhante, deixávamos as ovelhas em
paz, arrebanhávamos todos os predadores, sujeitávamo-los à vasectomia e
construíamos uns resorts, a preços acessíveis, para observá-los.
(1) A Revolução Xinhai ou Revolução Hsinhai, também
conhecida como a Revolução de 1911 ou a Primeira Revolução Chinesa, foi o
derrube (10 de Outubro de 1911 - 12 de Fevereiro de 1912) da dinastia Qing e o
estabelecimento da República da China. (2) O Regime
Soviético fez de tudo para que os mongóis se estabelecem-se em cidades e
abandonassem o seu histórico viver nómada.
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