Foi
preciso vir o impiedoso Covid-19, para a cidade de Shenzhen proibir o consumo
de cães e gatos, a primeira em toda a China. Esta medida foi implementada dentro
de uma repressão mais ampla ao comércio e consumo de espécies selvagens, uma
consequência directa da prevenção contra o coronavírus.
As
autoridades desta cidade do sul da China disseram que a proibição de comer
carne de cão e de gato entrará em vigor no dia 1º de Maio deste ano. Foram
vários os motivos que levaram a esta decisão, entre eles está o facto de “cães
e
gatos estabelecerem uma relação muito mais próxima com os seres humanos do que
todos os outros animais, e proibir seu consumo é uma prática comum nos países
desenvolvidos e também em Hong Kong e Taiwan", segundo disseram as
autoridades da cidade à agência Reuters.
Como
todos sabemos, os cães são comidos em várias partes da Ásia, mas para o centro
de Prevenção e controlo de Doenças de Shenzhen “as aves, animais e peixes
disponíveis são suficientes” para satisfazer as necessidades da sua população, junto
com tartarugas e sapos que não foram objecto de proibição, apesar do consumo
destes ter gerado muitas controvérsias no passado mês de Fevereiro.
Não
obstante, a campanha para proibir o consumo de animais selvagens recebeu rasgados
elogios por parte de grupos locais ligados ao bem-estar animal.
Desgraçadamente, esta proibição de Shenzhen dificilmente terá algum efeito,
pelo menos imediato, sobre o tradicional e muito contestado Festival de Carne
de Cão de Yulin, que acontece a centenas de quilómetros de distância desta
cidade, desde 2009 e durante o Solstício do Verão, com uma duração de 10 dias e
onde costumam ser consumidos entre 10 a 15 mil cães, normalmente acompanhados
de Líchia (1).
A
China está a mudar e ninguém sabe onde irá parar o “Império do Meio”. Há mais de 200
anos, em 1816, Napoleão Bonaparte afirmava que a China não estava condenada à
decadência. “Quando a China acordar, o mundo tremerá", disse. O escritor
gaulês Alain Peyrefitte, um pensador, político, diplomata e ensaísta, que foi
também Ministro da Justiça, Ministro da Educação e Ministro da Cultura da
França, 157 anos depois, recuperou a frase do “Imperador dos Franceses” para
título de um livro célebre, onde profetizava que os chineses, por serem muitos,
acabariam inevitavelmente por dominar o mundo.
Dominem o mundo ou não, há que dar os
parabéns às autoridades de Shenzhen pela sua aproximação aos direitos dos
animais. Tomara que venha a ser um exemplo e que outras cidades da China proíbam
também o consumo de carne de gatos e cães.
(1)Fruto
pequeno e avermelhado de uma árvore tropical da família das sapindáceas (Litchi
chinensis), de origem asiática.
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