sábado, 11 de abril de 2020

O BOHR REENCONTRA A PRIMAVERA

Hoje vou falar-vos sobre um Pastor Alemão lobeiro de pêlo comprido que enriquece as nossas fileiras – o Bohr, esperando esclarecer possíveis dúvidas relativas à sua variedade cromática e ao particular do seu manto. Em paralelo falarei também da biomecânica dos lobeiros, dos seus hábitos e modus operandi, assim como de alguns pormenores deste cão. Com a Primavera radiante que aí vai, aproveitámos para trabalhar o Bohr e tirar-lhe algumas fotografias alusivas à estação do ano que atravessamos.
Não há criador de Pastores Alemães que se preze, daqueles que não descansam até descobrirem todos os segredos por detrás da raça, que não intente produzir um ou vários lobeiros de pêlo comprido, porque são pouco comuns, belos, muito apreciados e espelham o saber dos seus criadores, não sendo por isso de estranhar que os autores mais conceituados da raça sempre lhes dediquem duas ou três fotos nas suas obras.
A variedade de pêlo comprido nos Pastores Alemães está menos presente nos lobeiros do que nas restantes variedades cromáticas, quer elas sejam bicolores ou uniformes. Os lobeiros, por sua vez, são os únicos que regulam a sua pelagem pelo relógio biológico, sendo mais escuros nas estações frias e mais dourados nas quentes. Assim, para se alcançarem pastores lobeiros de pêlo comprido, é preciso encontrar um lobeiro descendente de um progenitor com o manto assim e depois beneficiá-lo com um exemplar de pêlo comprido. Destes irão nascerão alguns exemplares lobeiros, não muitos, de pêlo comprido.
A que devem os lobeiros a sua procura? Basicamente à sua altíssima capacidade de aprendizagem, excelente máquina sensorial, superior desempenho atlético, maior autonomia, postura reservada, cautela, dedicação incondicional, resistência ao suborno, acções dissimuladas, maior camuflagem e grande rusticidade, o que lhes possibilita trabalhar sem quebras de rendimento mesmo nos climas mais quentes. Mas alguém dirá: “Eu tenho um lobeiro e não é nada assim!” – o que infelizmente não é raro acontecer por via de más selecções e/ou da “venda de gato por lebre”, uma vez que não faltam lobeiros enxertados nas classes de trabalho, indivíduos cujos progenitores nunca trabalharam e que não foram seleccionados para isso (meros cães de conformação).
Ao explicar os pormenores do Bohr presto os esclarecimentos atrás adiantados e que sistematicamente são-me requeridos. O Bohr é aquilo a que na gíria da cinotecnia se chama um “meia-linha”, porque descende em partes iguais das linhas de conformação e de trabalho, manobra usada tanto pelos criadores de beleza como pelos do trabalho, os primeiros fazem-no quando importa caracterizar os seus animais e os últimos para torná-los mais versáteis ou polivalentes (arranjar-lhes préstimo). Porém, o nascimento do Bohr não obedeceu a nenhum dos casos. Este Pastor é de primeira barriga, pormenor que dota de menos peso, mais velocidade e maior capacidade atlética, eventualmente também uma maior desconfiança, que poderá ficar-se a dever à junção da sua variedade cromática com o seu particular genético.
O Bohr, como todos lobeiros, convém dizer que tem 1/8 de negro na construção, o que o vincula ainda mais a este tipo progressão, marcha e galopa de cabeça baixa, dando a impressão que desliza ou varre território, diminuindo dessa forma a sua silhueta, o que lhe possibilita abordagens céleres e inesperadas. Devido a ter o dorso paralelo ao solo, em caso de urgência ou necessidade, tanto para prestar socorro, como para evadir-se ou escorraçar intrusos, ele consegue transitar automaticamente do passo para o galope, o que é uma mais-valia em termos de prontidão. Na companhia do seu condutor tende a usar como sentido director a visão e quando se encontra isolado a audição. Na procura adapta-se com mesma facilidade à identificação dos círculos aéreos odoríferos como ao rastreio de superfície.
Falar do Bohr, descendente de uma linha laboral com mais de um século, é render homenagem aos lobeiros do passado, reconhecer o valor dos actuais e apostar em melhores cães no futuro. Uma coisa é certa – sem a contribuição do lobeiro jamais teríamos os famosos cães do passado e o Cão de Pastor Alemão jamais seria o mesmo. Voltaremos a este apaixonante assunto dentro em breve. Para já o que importa é usufruir da Primavera, fazer o Bohr feliz e apostar sempre no seu bem-estar - que grande companheiro temos nós!

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