Hoje vou falar-vos sobre
um Pastor Alemão lobeiro de pêlo comprido que enriquece as nossas fileiras – o
Bohr, esperando esclarecer possíveis dúvidas relativas à sua variedade
cromática e ao particular do seu manto. Em paralelo falarei também da
biomecânica dos lobeiros, dos seus hábitos e modus operandi, assim como de
alguns pormenores deste cão. Com a Primavera radiante que aí vai, aproveitámos
para trabalhar o Bohr e tirar-lhe algumas fotografias alusivas à estação do ano
que atravessamos.
Não há criador de Pastores
Alemães que se preze, daqueles que não descansam até descobrirem todos os
segredos por detrás da raça, que não intente produzir um ou vários lobeiros de
pêlo comprido, porque são pouco comuns, belos, muito apreciados e espelham o
saber dos seus criadores, não sendo por isso de estranhar que os autores mais
conceituados da raça sempre lhes dediquem duas ou três fotos nas suas obras.
A variedade de pêlo comprido
nos Pastores Alemães está menos presente nos lobeiros do que nas restantes
variedades cromáticas, quer elas sejam bicolores ou uniformes. Os lobeiros, por
sua vez, são os únicos que regulam a sua pelagem pelo relógio biológico, sendo
mais escuros nas estações frias e mais dourados nas quentes. Assim, para se
alcançarem pastores lobeiros de pêlo comprido, é preciso encontrar um lobeiro
descendente de um progenitor com o manto assim e depois beneficiá-lo com um
exemplar de pêlo comprido. Destes irão nascerão alguns exemplares lobeiros, não
muitos, de pêlo comprido.
A que devem os lobeiros a
sua procura? Basicamente à sua altíssima capacidade de aprendizagem, excelente máquina
sensorial, superior desempenho atlético, maior autonomia, postura reservada,
cautela, dedicação incondicional, resistência ao suborno, acções dissimuladas,
maior camuflagem e grande rusticidade, o que lhes possibilita trabalhar sem
quebras de rendimento mesmo nos climas mais quentes. Mas alguém dirá: “Eu tenho
um lobeiro e não é nada assim!” – o que infelizmente não é raro acontecer por
via de más selecções e/ou da “venda de gato por lebre”, uma vez que não faltam
lobeiros enxertados nas classes de trabalho, indivíduos cujos progenitores
nunca trabalharam e que não foram seleccionados para isso (meros cães de
conformação).
Ao explicar os pormenores
do Bohr presto os esclarecimentos atrás adiantados e que sistematicamente
são-me requeridos. O Bohr é aquilo a que na gíria da cinotecnia se chama um
“meia-linha”, porque descende em partes iguais das linhas de conformação e de
trabalho, manobra usada tanto pelos criadores de beleza como pelos do trabalho,
os primeiros fazem-no quando importa caracterizar os seus animais e os últimos
para torná-los mais versáteis ou polivalentes (arranjar-lhes préstimo). Porém,
o nascimento do Bohr não obedeceu a nenhum dos casos. Este Pastor é de primeira
barriga, pormenor que dota de menos peso, mais velocidade e maior capacidade
atlética, eventualmente também uma maior desconfiança, que poderá ficar-se a
dever à junção da sua variedade cromática com o seu particular genético.
O Bohr, como todos
lobeiros, convém dizer que tem 1/8 de negro na construção, o que o vincula
ainda mais a este tipo progressão, marcha e galopa de cabeça baixa, dando a
impressão que desliza ou varre território, diminuindo dessa forma a sua
silhueta, o que lhe possibilita abordagens céleres e inesperadas. Devido a ter
o dorso paralelo ao solo, em caso de urgência ou necessidade, tanto para
prestar socorro, como para evadir-se ou escorraçar intrusos, ele consegue
transitar automaticamente do passo para o galope, o que é uma mais-valia em
termos de prontidão. Na companhia do seu condutor tende a usar como sentido
director a visão e quando se encontra isolado a audição. Na procura adapta-se
com mesma facilidade à identificação dos círculos aéreos odoríferos como ao
rastreio de superfície.
Falar do Bohr, descendente
de uma linha laboral com mais de um século, é render homenagem aos lobeiros do
passado, reconhecer o valor dos actuais e apostar em melhores cães no futuro.
Uma coisa é certa – sem a contribuição do lobeiro jamais teríamos os famosos
cães do passado e o Cão de Pastor Alemão jamais seria o mesmo. Voltaremos a
este apaixonante assunto dentro em breve. Para já o que importa é usufruir da Primavera, fazer o Bohr feliz e apostar sempre no seu bem-estar - que grande companheiro temos nós!
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