quarta-feira, 30 de maio de 2018

SINGAPURA: PROJECTO ADORE E CÃES NEGROS

Singapura continua a ser uma terra de oportunidades para os homens e agora é-o também para os cães, porque ali, desde 2014 até à presente data, já foram adoptados 800, 80 deles só este ano, tudo ao abrigo de uma iniciativa oficial de realojamento de cães, cujo projecto tem o nome de “ADORE” (ADO ption e RE homing de cães), que é patrocinado pelo Ministério do Desenvolvimento Nacional e que visa tirar das ruas os cães abandonados de raça indefinida.
Mas nem tudo são rosas, porque os cidadãos de Singapura resistem em adoptar cães negros graças a um conjunto de superstições associadas à desgraça e à morte, no que não diferem dos colonizadores britânicos que outrora governaram o país, também eles com a mesma relutância relativa aos cães negros, insanidade que me trás à memória a malfadada divisão operada no Ruanda pelos colonizadores belgas, que dividiram o povo daquela colónia em tutsis e hútus, divisão tornada cultural que mais tarde resultou num genocídio.
A adopção de cães naquelas paragens está ligada ao HOUSING AND DEVELOPMENTE BOARD, órgão governamental do Ministério do Desenvolvimento Nacional de Singapura responsável pela habitação social no país. O Conselho de Habitação e Desenvolvimento (HBD) é o conselho estatutário do Ministério do Desenvolvimento Nacional responsável pela habitação pública em Singapura, sendo-lhe creditado a eliminação de favelas e de outras habitações precárias na década de 60, assim como o reassentamento dos seus moradores em habitações de baixo custo construídas pelo estado. Hoje, 82% dos singapurenses vivem em habitações públicas fornecidas pelo HBD.
Aos moradores nas casas do estado é-lhes permitido adoptar cães e até têm sido incentivados para tal através do projecto ADORE, mas mediante as seguintes condições: o cão terá que ser um rafeiro local, de tamanho médio ou especial de Singapura (um pouco maior); ter pelo menos 6 meses de idade e estar esterilizado e, frequentar um curso de obediência básica ministrado por adestradores credenciados pela AVA (Agri-Food and Veterinary Authority of Singapore), autoridade responsável pela segurança alimentar e pela saúde de animais e plantas de Singapura.
Os candidatos a proprietários caninos deverão observar as seguintes condições: assinar uma declaração em como observarão nos seus cães o Código de Comportamento Responsável (CORB); só será permitido um cão registado por apartamento; o cão a adoptar terá que ter o acordo dos vizinhos; o candidato a proprietário canino terá que garantir o microchip, a esterilização e a vacinação do cão e o animal não poderá ser adoptado sem uma licença da AVA. Caso o inquilino duma habitação HBD deseje um cão maior, pode adquirir um já treinado e certificado pelo SOSD, organização local que aderiu ao projecto ADORE e que se dedica ao resgate, reabilitação, treino e realojamento de cães abandonados.
Como europeu e sabendo o que se passa no Velho Continente, sinto-me envergonhado perante tamanho avanço, eficiência e acerto. Acredito que muito em breve não haverá um só cão a vadiar pelas ruas de Singapura. Sempre será mais fácil solucionar os problemas dos cães do que “limpar os macacos do sótão” dos homens, nomeadamente os que suportam e alimentam mitos e superstições à revelia da ciência e do avanço tecnológico como os relativos aos cães negros. E quanto aos de Singapura, bem depressa compreenderam que o problema dos cães abandonados não é um problema alheio, mas sim colectivo e que todos temos que fazer parte da sua solução.

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