Singapura continua a ser
uma terra de oportunidades para os homens e agora é-o também para os cães,
porque ali, desde 2014 até à presente data, já foram adoptados 800, 80 deles só
este ano, tudo ao abrigo de uma iniciativa oficial de realojamento de cães,
cujo projecto tem o nome de “ADORE”
(ADO
ption e RE
homing de cães), que é patrocinado pelo Ministério do Desenvolvimento Nacional
e que visa tirar das ruas os cães abandonados de raça indefinida.
Mas nem tudo são rosas,
porque os cidadãos de Singapura resistem em adoptar cães negros graças a um
conjunto de superstições associadas à desgraça e à morte, no que não diferem
dos colonizadores britânicos que outrora governaram o país, também eles com a
mesma relutância relativa aos cães negros, insanidade que me trás à memória a
malfadada divisão operada no Ruanda pelos colonizadores belgas, que dividiram o
povo daquela colónia em tutsis e hútus, divisão tornada cultural que mais tarde resultou num
genocídio.
A adopção de cães naquelas
paragens está ligada ao HOUSING
AND DEVELOPMENTE BOARD, órgão governamental do Ministério do
Desenvolvimento Nacional de Singapura responsável pela habitação social no
país. O Conselho de Habitação e Desenvolvimento (HBD) é
o conselho estatutário do Ministério do Desenvolvimento Nacional responsável
pela habitação pública em Singapura, sendo-lhe creditado a eliminação de
favelas e de outras habitações precárias na década de 60, assim como o
reassentamento dos seus moradores em habitações de baixo custo construídas pelo
estado. Hoje, 82% dos singapurenses vivem em habitações públicas fornecidas
pelo HBD.
Aos moradores nas casas do
estado é-lhes permitido adoptar cães e até têm sido incentivados para tal
através do projecto ADORE,
mas mediante as seguintes condições: o cão terá que ser um rafeiro local, de
tamanho médio ou especial de Singapura (um pouco maior); ter pelo menos 6 meses
de idade e estar esterilizado e, frequentar um curso de obediência básica
ministrado por adestradores credenciados pela AVA (Agri-Food
and Veterinary Authority of Singapore), autoridade responsável pela segurança
alimentar e pela saúde de animais e plantas de Singapura.
Os candidatos a proprietários
caninos deverão observar as seguintes condições: assinar uma
declaração em como observarão nos seus cães o Código de Comportamento
Responsável (CORB); só será permitido um cão registado por apartamento; o cão a
adoptar terá que ter o acordo dos vizinhos; o candidato a proprietário canino
terá que garantir o microchip, a esterilização e a vacinação do cão e o animal
não poderá ser adoptado sem uma licença da AVA.
Caso o inquilino duma habitação HBD
deseje um cão maior, pode adquirir um já treinado e certificado pelo SOSD, organização local
que aderiu ao projecto ADORE e
que se dedica ao resgate, reabilitação, treino e realojamento de cães
abandonados.
Como europeu e sabendo o
que se passa no Velho Continente, sinto-me envergonhado perante tamanho avanço,
eficiência e acerto. Acredito que muito em breve não haverá um só cão a vadiar
pelas ruas de Singapura. Sempre será mais fácil solucionar os problemas dos
cães do que “limpar os macacos do sótão” dos homens, nomeadamente os que
suportam e alimentam mitos e superstições à revelia da ciência e do avanço
tecnológico como os relativos aos cães negros. E quanto aos de Singapura, bem depressa compreenderam que o problema dos cães abandonados não é um problema alheio, mas sim colectivo e que todos temos que fazer parte da sua solução.
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