Antes de tudo mais importa
explicar sucintamente o que foi o MIOCENO. MIOCENO ou
MIOCÉNIO é
a quarta época da era geológica Cenozoica e a primeira época do período
Neogeno. O nome desta era veio das palavras gregas μείων (meiōn, “menos”) e
καινός (kainos, “novo”) que significam "menos recente" por ter 18%
menos invertebrados marinhos modernos que o Plioceno. Esta
era remonta entre cerca de 24 milhões e cerca de 5 milhões de anos atrás, sendo
posterior ao OLIGOCENO e
anterior ao PLIOCENO. Divide-se
nas idades Aquitaniana, Burdigaliana, Langhiana, Serravalliana, Tortoniana e
Messiniana (da mais antiga para a mais recente).
Ao contrário de outras
divisões do tempo geológico, não existe um evento mundial que separe o Mioceno
de seu antecessor ou sucessor, sendo identificados apenas vários eventos
regionais, o que implica em dizer que o planeta já se encontrava muito próximo
das suas modernas características. Nesta era a temperatura global continua a
descer e acontece a adaptação final das espécies marinhas, principalmente focas
e baleias. Já no que concerne à fauna e a flora as alterações foram muitas,
tantas que muitos animais não conseguiram adaptar-se e acabaram por
extinguir-se.
O
MIOCENO é muitas vezes mencionado como a “IDADE DAS ERVAS”,
porque é nele que surgem as primeiras gramíneas e outras plantas herbáceas, que
proliferam com o clima quente do Mioceno, dando origem a grandes áreas de pasto
por todos os continentes. A alteração da vegetação causou profundas alterações
na fauna herbívora, que foi obrigada a adaptar-se ao pasto. Por causa desta
alteração inicia-se a decadência dos perissodáctilos (cavalos e rinocerontes) e
a ascensão dos artiodáctilos (bovinos, veados e camelos), assim como os
proboscídeos (elefantes) e os herbívoros dominantes.
Os creodontes são extintos
e substituídos pelos carnívoros actuais, canídeos e felinos, sendo nesta era
que surge o “DENTE
DE SABRE” (subfamília Machairodontinae). O Mioceno foi um
período de moldagem da fauna e da flora do nosso planeta, onde foram dados os primeiros
passos para constituição das dominantes que temos hoje. Assim como aconteceu na
fauna terrestre, também aconteceu na marinha. E dito isto chegamos aos
antepassados há muito extintos de cães e lobos e também à importante descoberta
da “TITICA DE CACHORRO DO
MIOCENO”, excrementos fossilizados que cientificamente têm o
nome de “CROPÓLITOS”,
um nome aparentemente pomposo mas impróprio para se chamar a alguém.
Os cientistas já há muito
que sabiam, pela análise de fósseis, da existência de uma espécie de cão
selvagem a que chamaram de “BOROPHAGUS
PARVUS” (crânio na foto abaixo), um animal do tamanho de um
lobo, que viveu entre os 16 e os 2 milhões de anos atrás, cujo crânio e
mandíbula eram muito semelhantes aos das actuais hienas, indiciando que tal
como elas poderia esmagar ossos, suposição agora comprovada pela descoberta de
14 cropólitos.
Este achado teve lugar na
formação geológica “MEHRTEN”
na Califórnia/USA, local que data do final do Mioceno (entre 5,3 a 6,4 milhões
de anos atrás) e que é conhecido por ser rico em fósseis de Borophagus. Resta
dizer que os cropólitos são ainda mais raros que os ossos e que os excrementos
fossilizados foram catalogados como tendo 2 milhões de anos. Valendo-se de uma
micro-tomografia computadorizada de raios X (micro-CT), os cientistas
conseguiram ver o interior dos cropólitos, descobrindo muitas lascas e
fragmentos de ossos não dissolvidos em todos os espécimes, numa média de 5% da
massa total daqueles excrementos. Na foto seguinte podemos ver uma
micro-tomografia computadorizada de um cropólito de Borophagus que mostra no
seu interior fragmentos ósseos de várias cores.
De acordo com Jack Tseng
(na foto abaixo), um especialista em zoologia, patologia e ciências anatómicas,
em paleobiologia e biologia evolucionária, professor na Universidade de Buffalo
de Nova Iorque, os coprólitos agora encontrados disseram aos investigadores que
os hábitos alimentares do Borophagus não se pareciam com os das hienas
malhadas, como até aqui se pensava, já que estas digerem completamente os ossos
engolidos, restando somente nos seus dejectos pó. Para além de desnudar este
equívoco, os excrementos fossilizados também deram pistas acerca do modo de
vida deste antepassado de lobos e cães, que fazia uso de latrinas comunais, o
que os cientistas consideraram no seu estudo ser um indício de territorialidade.
Tudo leva a crer que o
Borophagus Parvus, para além de ser um ancestral de todos os cães em geral,
seja também o “pai” de todos os molossos, canídeos de mandíbula forte e de
grande força de esmagamento. Como o assunto é apaixonante e ainda há tanto por
descobrir, aguardam-se com expectativa novos desenvolvimentos.
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