quinta-feira, 17 de maio de 2018

SE ISTO NÃO É TERRORISMO, O QUE É?

Através do BELFASTLIVE online fiquei surpreendido e a saber que na Irlanda do Norte, nos últimos oito meses do ano passado, 542 pessoas e 372 animais de estimação foram atacados por cães! Diante destes números dá-me ideia que a Rainha de Inglaterra, que eu tanto prezo e admiro, escolheu para si a pior parte da Irlanda. Feitas as contas, aproximadamente, mais para mais do que para menos, 2 pessoas e 1 animal de estimação foram ali atacados diariamente por cães.
Não me venham dizer que todos estes ataques não foram intencionais e que aconteceram debaixo da estrita observância da lei, porque se assim fosse, poucos teriam acontecido e não haveria lugar a coimas, que nesta caso ascenderam a milhares de libras esterlinas. Por outro lado, a ausência de intenção, tanto eleva o grau de irresponsabilidade como o de estupidez dos proprietários caninos destes seis Condados do Ulster.
Se entendermos como terrorismo o uso deliberado de violência, mortal ou não, contra instituições ou pessoas, como forma de intimidação e tentativa de manipulação para os mais diversos fins e, como uma atitude intencional geralmente continuada de intimidação ou intolerância, terroristas não são só os extremistas muçulmanos ou os “boys” que invadiram anteontem a Academia do SCP em Alcochete, onde agrediram jogadores, equipa técnica e fisioterapeutas (o que nos deixou muito bem-vistos por toda a parte), são também os proprietários caninos que, debaixo dos mais variados propósitos e em contravenção com a lei, permitem ou instigam os seus cães a atacar terceiros, causando vítimas entre gente inocente e indefesa de todas idades e nos locais mais inesperados, pelo terror de 4 patas que insistem em trazer para o meio da rua.
Está claro que a maioria dos ataques caninos “acidentais” resultam da ignorância, falta de empenho, despreparo e descuido dos donos, factores muitas vezes associados à sua inércia, falta de tempo e às indisponibilidades física e económica. Não sei se há mais ataques acidentais ou intencionais, gostaria de acreditar que o número dos acidentais fosse bem maior do que o dos intencionais, apesar de ambos poderem ser letais. Porém, sei que há gente malévola por toda a parte, que intencionalmente lança os seus cães sobre os demais e que por vezes, “sem saber como”, acaba por transformar os seus em cobaias, reafirmando o aforismo luso que diz “virou-se o feitiço contra o feiticeiro”.
Apesar da maldade não ter idade e de se refinar com o tempo, pelo que nos tem sido dado a observar, a maioria destes justiceiros, que outra coisa não são do que terroristas urbanos (na Irlanda do Norte a maioria dos ataques caninos aconteceu nas cidades), têm idades compreendidas entre os 18 e os 45 anos de idade, apesar da “pancada” ser precoce nalguns e tardia noutros. Gente que usa o cão como arma para intimidar, ferir e até matar, unicamente por que lhe dá gozo ou para alcançar os seus intentos não passa de um terrorista, sendo os ataques dos seus cães uma forma mais ou menos dissimulada de terrorismo urbano, que tanto pode ferir um como dois ou três, como aconteceu, agora na República da Irlanda, no passado dia 13 em Finglas, um subúrbio de Dublin, onde alguém largou dois cães que acabaram por morder 3 crianças, assunto que tratámos no artigo “PRIMEIRA COMUNHÃO SANGRENTA”, editado a 14 deste mês.
Tal como acontece no combate ao terrorismo jihadista, a melhor forma de combater este terrorismo, tão fratricida como anterior, é combatê-lo antes que aconteça, porque doutro modo sempre andaremos a correr atrás do prejuízo e a endereçar condolências. Como é na prevenção que está a solução para o problema, caberá a cada um de nós informar-se para evitarmos que os nossos cães façam vítimas ou venhamos nós a sê-lo dos alheios, conhecimento que uma vez adquirido será útil para todos, mesmo para aqueles que não têm cães ou que os detestam, mas que se vêem obrigados a cruzar-se com eles no dia-a-dia.
Trata-se aqui de frequentar um curso de comportamento animal e de obter aproveitamento num curso de obediência básica canina, juntando a teoria à prática para se compreender entre outras coisas o “como” e o “porquê” por detrás dos ataques caninos, mais-valias que possibilitarão um maior conhecimento do comportamento dos cães em geral, um conhecimento mais detalhado do nosso, a correcta leitura da sua linguagem mímica e a aquisição de protocolos defensivos capazes de evitar, travar ou minimizar os eventuais ataques. Esta formação, porque é disso que se trata, deveria ser obrigatória para quem se propõe ser criador de cães, uma vez que muitos dos ataques assentam sobre causas genéticas nem sempre procuradas, que voluntária ou involuntariamente acabam potenciadas.
Ainda no que concerne à prevenção, convém repensar quais os brinquedos a usar nos cães, já que grande número deles são potenciadores de mordedura e por isso mesmo indutores aos ataques, acessórios aparentemente inocentes que instigam os cães à vitória pela rebeldia e resistência, reavivando neles o instinto predador que desconsidera a liderança humana. Estamos a falar de mangas, churros, nós de corda e todos os brinquedos que apenas servem para retraçar. Visando a redução dos ataques e a utilidade dos cães, melhor será ensinar-lhes a usar os dentes para outras tarefas complementares que possam valer-nos a nós e aos outros, como o transporte de objectos, o ligar e desligar interruptores, abrir frigoríficos, portas e gavetas, etc..
A segurança dos cidadãos é uma obrigação do Estado e como tal cabe-lhe legislar, fiscalizar e penalizar também nesta matéria. Se os governos ocidentais têm conseguido minimamente legislar e penalizar, no que concerne à fiscalização têm sido demasiado brandos ou pouco aplicados, cabendo-lhes também algum percentual de culpa, quiçá o maior, no aumento do número de vítimas. Entendemos nós, considerando a protecção de todos os cidadãos, que pelo menos anualmente, por ocasião da atribuição das licenças camarárias, todos os cães vissem o seu comportamento avaliado, só lhe sendo passada a respectiva licença depois de aprovados, porque com a vida das pessoas não se deve brincar.
Em síntese, a prevenção deste novo terrorismo irá obrigar à formação e aprovação dos donos, a novos critérios de selecção, a um diferente acompanhamento e ensino dos cães e a uma fiscalização mais acérrima, alterações que a castração só por si não garante e que nalguns casos até agrava os confrontos entre iguais pela indefinição de género. Escusado será dizer que o termo doravante mais em uso será a sociabilização. E tudo isto porquê? Porque o número de cães não pára de aumentar e é preciso “pôr ordem na casa” antes que morra mais gente. Quantas pessoas morrerão diariamente no mundo à boca dos cães? Não sabemos, apesar de agora ser mais fácil saber.

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