Através do BELFASTLIVE
online fiquei surpreendido e a saber que na Irlanda do Norte, nos últimos oito
meses do ano passado, 542 pessoas e 372 animais de estimação foram atacados por
cães! Diante destes números dá-me ideia que a Rainha de Inglaterra, que eu
tanto prezo e admiro, escolheu para si a pior parte da Irlanda. Feitas as
contas, aproximadamente, mais para mais do que para menos, 2 pessoas e 1 animal
de estimação foram ali atacados diariamente por cães.
Não me venham dizer que
todos estes ataques não foram intencionais e que aconteceram debaixo da estrita
observância da lei, porque se assim fosse, poucos teriam acontecido e não haveria
lugar a coimas, que nesta caso ascenderam a milhares de libras esterlinas. Por
outro lado, a ausência de intenção, tanto eleva o grau de irresponsabilidade como
o de estupidez dos proprietários caninos destes seis Condados do Ulster.
Se entendermos como
terrorismo o uso deliberado de violência, mortal ou não, contra instituições ou
pessoas, como forma de intimidação e tentativa de manipulação para os mais
diversos fins e, como uma atitude intencional geralmente continuada de
intimidação ou intolerância, terroristas não são só os extremistas muçulmanos
ou os “boys” que invadiram anteontem a Academia do SCP em Alcochete, onde
agrediram jogadores, equipa técnica e fisioterapeutas (o que nos deixou muito
bem-vistos por toda a parte), são também os proprietários caninos que, debaixo
dos mais variados propósitos e em contravenção com a lei, permitem ou instigam os
seus cães a atacar terceiros, causando vítimas entre gente inocente e indefesa
de todas idades e nos locais mais inesperados, pelo terror de 4 patas que insistem
em trazer para o meio da rua.
Está claro que a maioria dos
ataques caninos “acidentais” resultam da ignorância, falta de empenho,
despreparo e descuido dos donos, factores muitas vezes associados à sua
inércia, falta de tempo e às indisponibilidades física e económica. Não sei se
há mais ataques acidentais ou intencionais, gostaria de acreditar que o número
dos acidentais fosse bem maior do que o dos intencionais, apesar de ambos
poderem ser letais. Porém, sei que há gente malévola por toda a parte, que
intencionalmente lança os seus cães sobre os demais e que por vezes, “sem saber
como”, acaba por transformar os seus em cobaias, reafirmando o aforismo luso
que diz “virou-se o feitiço contra o feiticeiro”.
Apesar da maldade não ter
idade e de se refinar com o tempo, pelo que nos tem sido dado a observar, a
maioria destes justiceiros, que outra coisa não são do que terroristas urbanos
(na Irlanda do Norte a maioria dos ataques caninos aconteceu nas cidades), têm
idades compreendidas entre os 18 e os 45 anos de idade, apesar da “pancada” ser
precoce nalguns e tardia noutros. Gente que usa o cão como arma para intimidar,
ferir e até matar, unicamente por que lhe dá gozo ou para alcançar os seus intentos
não passa de um terrorista, sendo os ataques dos seus cães uma forma mais ou
menos dissimulada de terrorismo urbano, que tanto pode ferir um como dois ou
três, como aconteceu, agora na República da Irlanda, no passado dia 13 em
Finglas, um subúrbio de Dublin, onde alguém largou dois cães que acabaram por
morder 3 crianças, assunto que tratámos no artigo “PRIMEIRA
COMUNHÃO SANGRENTA”, editado a 14 deste mês.
Tal como acontece no
combate ao terrorismo jihadista, a melhor forma de combater este terrorismo,
tão fratricida como anterior, é combatê-lo antes que aconteça, porque doutro
modo sempre andaremos a correr atrás do prejuízo e a endereçar condolências.
Como é na prevenção que está a solução para o problema, caberá a cada um de nós
informar-se para evitarmos que os nossos cães façam vítimas ou venhamos nós a sê-lo
dos alheios, conhecimento que uma vez adquirido será útil para todos, mesmo
para aqueles que não têm cães ou que os detestam, mas que se vêem obrigados a
cruzar-se com eles no dia-a-dia.
Trata-se aqui de frequentar
um curso de comportamento animal e de obter aproveitamento num curso de
obediência básica canina, juntando a teoria à prática para se compreender entre
outras coisas o “como” e o “porquê” por detrás dos ataques caninos, mais-valias
que possibilitarão um maior conhecimento do comportamento dos cães em geral, um
conhecimento mais detalhado do nosso, a correcta leitura da sua linguagem
mímica e a aquisição de protocolos defensivos capazes de evitar, travar ou
minimizar os eventuais ataques. Esta formação, porque é disso que se trata, deveria
ser obrigatória para quem se propõe ser criador de cães, uma vez que muitos dos
ataques assentam sobre causas genéticas nem sempre procuradas, que voluntária
ou involuntariamente acabam potenciadas.
Ainda no que concerne à
prevenção, convém repensar quais os brinquedos a usar nos cães, já que grande
número deles são potenciadores de mordedura e por isso mesmo indutores aos
ataques, acessórios aparentemente inocentes que instigam os cães à vitória pela
rebeldia e resistência, reavivando neles o instinto predador que desconsidera a
liderança humana. Estamos a falar de mangas, churros, nós de corda e todos os
brinquedos que apenas servem para retraçar. Visando a redução dos ataques e a
utilidade dos cães, melhor será ensinar-lhes a usar os dentes para outras
tarefas complementares que possam valer-nos a nós e aos outros, como o
transporte de objectos, o ligar e desligar interruptores, abrir frigoríficos,
portas e gavetas, etc..
A segurança dos cidadãos é
uma obrigação do Estado e como tal cabe-lhe legislar, fiscalizar e penalizar
também nesta matéria. Se os governos ocidentais têm conseguido minimamente
legislar e penalizar, no que concerne à fiscalização têm sido demasiado brandos
ou pouco aplicados, cabendo-lhes também algum percentual de culpa, quiçá o
maior, no aumento do número de vítimas. Entendemos nós, considerando a
protecção de todos os cidadãos, que pelo menos anualmente, por ocasião da
atribuição das licenças camarárias, todos os cães vissem o seu comportamento
avaliado, só lhe sendo passada a respectiva licença depois de aprovados, porque
com a vida das pessoas não se deve brincar.
Em síntese, a prevenção
deste novo terrorismo irá obrigar à formação e aprovação dos donos, a novos
critérios de selecção, a um diferente acompanhamento e ensino dos cães e a
uma fiscalização mais acérrima, alterações que a castração só por si não
garante e que nalguns casos até agrava os confrontos entre iguais pela
indefinição de género. Escusado será dizer que o termo doravante mais em uso
será a sociabilização. E tudo isto porquê? Porque o número de cães não pára de
aumentar e é preciso “pôr ordem na casa” antes que morra mais gente. Quantas
pessoas morrerão diariamente no mundo à boca dos cães? Não sabemos, apesar de
agora ser mais fácil saber.
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