Um leitor colocou-nos a
seguinte questão: “Terão os cães vida para além da morte?”. Aqui está um
assunto que irei escrever no meu caderninho de dúvidas para as tirar quando estiver
finalmente perante Deus, porque sinceramente não sei a resposta e especular de
nada adianta. Certamente haverá por aí alguns teólogos cristãos que dirão que
sim e outros que não, mais baseados no seu entendimento dogmático e
confessional que na clareza da Bíblia a esse respeito, já que para outras
religiões os cães e outros animais alcançaram há muito a eternidade, donde
inclusive protegem ou intercedem pelos homens enquanto deuses ou seus interlocutores.
Através do “Moderndog”
on-line, publicação em língua inglesa direccionada aos donos dos cães modernos,
ficámos a saber que não há muito tempo foi realizado um estudo acerca da vida
para além da morte dos animais, cujos resultados foram publicados na revista “Anthrozoös”,
revista académica de publicação trimestral, cujo tema central são os animais na
sociedade e a sua interacção com os humanos, abrangendo um espaço multidisciplinar
que envolve a medicina veterinária, a sociologia, a psicologia, a saúde, a filosofia,
a ética, etc. O estudo noticiado baseou-se na entrevista de 800
norte-americanos, 45% dos proprietários de animais entrevistados disseram
acreditar na vida para além da morte dos seus companheiros e 37.8% das pessoas
sem qual animal também. 59% dos participantes no estudo revelaram acreditar na
sua vida para além da morte e 75% deles declararam acreditar em idêntico
destino para os animais.
O estudo revelou ainda que
as pessoas tinham díspares crenças para diferentes animais, que as mulheres, os
índios norte-americanos, os nativos do Alasca, os afro-americanos, os budistas,
os habitantes do Sul dos Estados Unidos e os donos de pets são os mais
propensos a acreditar na vida para além da morte dos animais, o que para nós
faz todo o sentido atendendo ao particular religioso destas comunidades, tanto
sincrético quanto animista. Alguns entusiastas têm justificado as suas crenças
relativas à vida para além da morte dos animais numa livre interpretação da profecia escatológica constante no Livro de Isaías, Capítulo
11, versículos 6 e 7, onde se lê (na versão Almeida actualizada): “6. O lobo habitará com o
cordeiro, e o leopardo se deitará junto ao cabrito; o bezerro, o leão novo e o
animal cevado andarão juntos, e um pequenino os guiará. 7. A vaca e a ursa
pastarão juntas, e as suas crias juntas se deitarão; o leão comerá palha como o
boi”.
A incerteza que tenho
quanto à vida dos animais para além da morte, assim como não me isenta de tratá-los
bem, também não me impede de reconhecer que não podemos tratá-los como deuses,
quer estejam vivos ou mortos, porque prestar-lhes culto em vida é uma
escravatura sem sentido e venerá-los depois da morte é embarcar para a loucura
e morrer pouco a pouco. Mas lá que eu gostava de viver eternamente com os meus
cães, gostava! Mas como tudo não passa de um desejo, sinto-me grato a Deus por
me acompanharem nesta vida e por nunca me terem abandonado.
Sem comentários:
Enviar um comentário