Todo o arquitecto sonha em
seguir a sua vocação e fazer aquilo que gosta: projectar, supervisionar e executar
obras relativas ao controlo e desenho do espaço habitado (urbanismo, paisagismo
e diversas formas de design). Infelizmente a vida não está fácil para os
arquitectos em Portugal, apesar do País necessitar da sua arte como de pão para
a boca, poucos são os que alcançam um atelier próprio e que são frequentemente
procurados, acabando muitos noutras ocupações profissionais bem diversas da sua
especialização (os biólogos, etólogos, veterinários, advogados e outros tantos
queixar-se-ão do mesmo).
Um dos
textos mais lidos deste blogue, para espanto nosso, é “A CASOTA DO CÃO”, editado em 19/12/2009, que se encontra até hoje no
4º lugar da preferência dos leitores. E espantam-nos que ocupe esse lugar
porque a maioria dos cães actuais coabita com os seus donos debaixo do mesmo
tecto (pelo menos era isso que julgávamos).
Em Londres está sediada
uma empresa que se dedica à construção de barracas de luxo para cães, chama-se “HECATE VERONA”
e parece não ter mãos a medir, pensando agora estender o seu negócio para os
Estados Unidos e depois fazê-lo a nível global. O preço das “barracas” oscila
entre os 35.000 e os 178.680 € e há ao momento vários modelos à escolha dos
clientes.
A
ideia destas casotas de luxo resultou das seguintes perguntas: O que impede as casas
dos cães de serem tão elegantes e bonitas como as dos seus donos? Por que não
deverá ser um arquitecto a desenhá-las? O que impedirá que sejam em simultâneo
elegantes e práticas (funcionais)? Poderiam estas casas ter portas, janelas, gravuras
em miniatura e serem proporcionais aos cães? Já que o cão é um membro da
família, não poderá ter uma mansão igual à do seu proprietário onde se possa
deitar requintadamente ao ar livre? A resposta a estas perguntas resultou na
criação de várias mansões majestosas para cães, cuja aparência real complementa
os jardins e os arredores das casas onde se encontram.
A inovação da “Hecate
Verona” consiste na mistura entre a tecnologia e o artesanato, dando emprego a
arquitectos e artesãos acostumados à construção de iates de luxo, que operam as
suas construções a partir do mármore, do alumínio e de madeiras de reconhecida
qualidade, tais como o carvalho e a faia. As “casotas-palacete”, que são feitas
à medida e cuja fabricação demora de 2 a 4 meses, são resistentes à água e à
humidade e os seus pisos e terraços aos riscos.
Fabricadas debaixo do
mesmo conceito das “casas inteligentes”, estas luxuosas habitações caninas
contam com controlos e automatismos para a iluminação, aquecimento refrigeração
e ar condicionado, para além de câmeras e telas habilitadas para a Internet, que
garantem de imediato e à distância a interacção entre donos e cães.
Talvez tudo isto nos
pareça loucura tomando como parâmetro a realidade que nos cerca e uma tremenda
desfaçatez face à miséria que vítima diariamente milhões de pessoas no mundo,
uma verdadeira insanidade e um atentado à dignidade humana se considerarmos que
até ontem só haviam sido recolhidos para as vítimas do incêndio de Pedrógão
Grande cerca de 200.000 €, preço sensivelmente igual ao de uma só casota de
luxo topo de gama.
Porém, a ideia pioneira da
“Hecate Verona”, criou novos postos de trabalhou, manteve outros e continua a
gerar riqueza, dando trabalho a alguns que doutro modo dificilmente o
alcançariam. Será que não haverá por cá ninguém capaz de se concorrer com ela?
Faltar-nos-ão bons arquitectos, exímios artesãos, jovens ambiciosos ou
empresários capazes? Há quem diga que temos tudo menos iniciativa!
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