domingo, 25 de junho de 2017

ARQUITECTOS DE BARRACAS PARA CÃES DE GENTE RICA

Todo o arquitecto sonha em seguir a sua vocação e fazer aquilo que gosta: projectar, supervisionar e executar obras relativas ao controlo e desenho do espaço habitado (urbanismo, paisagismo e diversas formas de design). Infelizmente a vida não está fácil para os arquitectos em Portugal, apesar do País necessitar da sua arte como de pão para a boca, poucos são os que alcançam um atelier próprio e que são frequentemente procurados, acabando muitos noutras ocupações profissionais bem diversas da sua especialização (os biólogos, etólogos, veterinários, advogados e outros tantos queixar-se-ão do mesmo).
Um dos textos mais lidos deste blogue, para espanto nosso, é “A CASOTA DO CÃO”, editado em 19/12/2009, que se encontra até hoje no 4º lugar da preferência dos leitores. E espantam-nos que ocupe esse lugar porque a maioria dos cães actuais coabita com os seus donos debaixo do mesmo tecto (pelo menos era isso que julgávamos).
Em Londres está sediada uma empresa que se dedica à construção de barracas de luxo para cães, chama-se “HECATE VERONA” e parece não ter mãos a medir, pensando agora estender o seu negócio para os Estados Unidos e depois fazê-lo a nível global. O preço das “barracas” oscila entre os 35.000 e os 178.680 € e há ao momento vários modelos à escolha dos clientes.
A ideia destas casotas de luxo resultou das seguintes perguntas: O que impede as casas dos cães de serem tão elegantes e bonitas como as dos seus donos? Por que não deverá ser um arquitecto a desenhá-las? O que impedirá que sejam em simultâneo elegantes e práticas (funcionais)? Poderiam estas casas ter portas, janelas, gravuras em miniatura e serem proporcionais aos cães? Já que o cão é um membro da família, não poderá ter uma mansão igual à do seu proprietário onde se possa deitar requintadamente ao ar livre? A resposta a estas perguntas resultou na criação de várias mansões majestosas para cães, cuja aparência real complementa os jardins e os arredores das casas onde se encontram.
A inovação da “Hecate Verona” consiste na mistura entre a tecnologia e o artesanato, dando emprego a arquitectos e artesãos acostumados à construção de iates de luxo, que operam as suas construções a partir do mármore, do alumínio e de madeiras de reconhecida qualidade, tais como o carvalho e a faia. As “casotas-palacete”, que são feitas à medida e cuja fabricação demora de 2 a 4 meses, são resistentes à água e à humidade e os seus pisos e terraços aos riscos.
Fabricadas debaixo do mesmo conceito das “casas inteligentes”, estas luxuosas habitações caninas contam com controlos e automatismos para a iluminação, aquecimento refrigeração e ar condicionado, para além de câmeras e telas habilitadas para a Internet, que garantem de imediato e à distância a interacção entre donos e cães.
Talvez tudo isto nos pareça loucura tomando como parâmetro a realidade que nos cerca e uma tremenda desfaçatez face à miséria que vítima diariamente milhões de pessoas no mundo, uma verdadeira insanidade e um atentado à dignidade humana se considerarmos que até ontem só haviam sido recolhidos para as vítimas do incêndio de Pedrógão Grande cerca de 200.000 €, preço sensivelmente igual ao de uma só casota de luxo topo de gama.
Porém, a ideia pioneira da “Hecate Verona”, criou novos postos de trabalhou, manteve outros e continua a gerar riqueza, dando trabalho a alguns que doutro modo dificilmente o alcançariam. Será que não haverá por cá ninguém capaz de se concorrer com ela? Faltar-nos-ão bons arquitectos, exímios artesãos, jovens ambiciosos ou empresários capazes? Há quem diga que temos tudo menos iniciativa!

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