Segundo o Dr. Joël Dehasse,
um veterinário belga especializado no bem-estar e comportamento de cães e gatos,
autor de uma vasta obra literária acerca destes animais de companhia (22 livros
isoladamente e 3 em parceria, obras que vale a pena ler e ter), distinguido em
26 de Abril de 2014 pela “FAFVAC” (Fédération des Associations Francophones des
Vétérinaires pour Animaux de Compagnie) em função do seu trabalho e carreira,
os cães precisam de 3 a 5 horas de actividade diária e não apenas de uma hora na
rua, parecer que veio dar-nos razão: a esmagadora maioria dos donos de cães não
tem condições para os ter!
Mas de que actividade
estaremos nós a falar: a relativa a largar os cães pela porta fora, a de extenuá-los
atrás de uma bola ou de convidá-los para 30 minutos de exercício físico? A
actividade locomotora é indispensável para os cães mas não pode ser a única,
pois há que considerar também a intelectual, a de mastigação e a da voz.
Actividade “intelectual”? – Questionarão alguns. A actividade intelectual é essencial
para o cão se manter sempre alerta e atento. Sim, ele precisa de aprender
coisas novas para pensar, usar e desenvolver as suas faculdades cognitivas,
precisando também de trabalhar, de procurar objectos e diferenciá-los, emendar-se
dos seus erros e aprender novos comandos ou truques.
A actividade da mastigação
é uma necessidade inata e uma actividade natural nos cães que lhes permite cães
gastar energia. A necessidade de mastigar varia de intensidade de raça para
raça e entre indivíduos. Assim, alguns cães precisarão apenas de alguns minutos
diários para isso e outros de períodos até 2 horas. Esta necessidade irá obrigar
os donos a dar-lhes mais objectos para mastigarem, isto se não querem ver a sua
mobília mutilada, a roupa rasgada e os seus sapatos esfrangalhados. Para além
desses objectos ou partir deles, podemos ainda convidar os cães para o
transportes de utensílios (transporte dos chinelos do dono, do saco do lixo,
etc.). Por outro lado, visando também o uso acertado da sua boca, podemos ir
alterando os seus comedouros e bebedouros de apresentação e de utilização para
que trabalhem para comer.
Contrariamente ao que
muitos pensam e para seu desalento quando finalmente descobrem, os cães mantêm
uma actividade vocal que abrange 7 distintas vozes, a saber: bufar, ganir,
gemer, ladrar, latir (ladrar fraco), rosnar e uivar. Também aqui as vozes mais
usadas diferem nos distintos grupos somáticos, nas diferentes raças e nos
indivíduos, havendo uns que ladram demasiado e não uivam e outros que mal
ladram e uivam imenso. Caso um cão goste de ladrar e passe o dia a fazê-lo, ao
invés de o repreender mais importa que seja ensinado a fazê-lo nas
circunstâncias certas ou quando lhe for solicitado, já que o ensino e a
interacção caninos resultam do aproveitamento. Em síntese, todos os cães precisam
diariamente de passeio e treino. Isentá-los ou privá-los disto é condená-los a
comportamentos impróprios e de revolta que espelham a sua insatisfação e
infelicidade.
À imitação dos pais que
mal têm tempo para os filhos, também os proprietários caninos que trabalham
pouco tempo têm para os seus cães, deixando-os horas a fios sozinhos e sem
qualquer actividade ou interacção, ainda que os mais ricos se valham agora dos
recentes e escassos centros de dia e infantários caninos metropolitanos, que
esperamos não serem um negócio chorudo sem grande esforço e/ou um mero depósito
de cães. Não se trata aqui de os mantê-los ocupados mas de fazê-los felizes e
eles só o serão quando verdadeiramente integrados na família que os adoptou.
Infelizmente isso raramente acontece hoje em dia com crianças e cães, que
impedidos de estar com a família a maior parte do tempo, acabam expostos a
influências alheias e sujeitos a outros modelos como vem acontecendo. Lá vem
uma pergunta incómoda: se não tem tempo para o cão, para que foi buscá-lo? E se
gosta assim tanto de animais, não seria mais razoável ter contribuído para um
abrigo de animais, ter sido padrinho de um lobo ibérico ou dum animal do Zoo?
Lembre-se disto: cães e tempo são indissociáveis!
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