Vamos começar pela
pergunta final: Para que interessa saber se um cão é destro, ambidextro ou
sinistro (canhoto)? Basicamente para melhor se compreender a sua natureza e
características particulares, de modo a usá-lo de acordo com a sua vocação ou
para refrear-lhe os ímpetos que obstam à sua melhor aceitação e convivência.
Segundo um estudo tornado público por investigadores da Universidade de
Manchester/UK no ano de 2006, sensivelmente 50% dos cães são destros e 50%
deles são canhotos e que existe uma conexão entre o sexo do animal e a sua pata
dominante, já que nas fêmeas essa pata costuma ser a direita e nos machos a
esquerda (nos cães castrados ou esterilizados precocemente esta distinção
desaparece).
Conclui-se também que os cães destros tendem a ser mais ousados e
curiosos, o que os torna mais adequados para cães-guia e que os canhotos tendem
a ser mais agressivos. Estas conclusões científicas ajudam-nos a saber quais os
cachorros a usar futuramente como cães de serviço, de terapia, busca, resgate e
segurança, também para se saber se determinado cão é de propensão mais ou menos
agressiva.
Sem nenhuma sombra de soberba,
podemos dizer que já há muito havíamos observado as comprovações científicas
atrás indicadas, daí termos optado maioritariamente, já na década de 90, pelo
sentido dos ponteiros do relógio na instrução circular colectiva, pensando na
harmonia do grupo escolar, na indispensável sociabilização inter pares e na
higiene das aulas, porque ao fazê-lo estávamos a solicitar o uso da mão direita
dos cães. Sempre que falo deste assunto vem-me à memória um franco-atirador, lá
para os lados das Caldas da Rainha, que por falta de outros mais qualificados a si mesmo se proclamou adestrador de cães. Levado pela sua ingenuidade e ignorância, o
bom do homem dispôs os aparelhos da sua pista improvisada de maneira a serem
transpostos contra o sentido dos ponteiros do relógio (contra o movimento de
rotação de terrestre) e com os animais à esquerda dos seus condutores, pormenor
que obrigava os cães a defecarem e urinarem amiúde durante o treino, tornando
aquele recinto num chiqueiro, tudo porque a agressividade dos cães era
estimulada pelo uso constante da mão esquerda, impropriedade que os levava a
marcar território através das suas excreções. Tal inversão sistemática do
sentido de marcha ficou a partir dali conhecida entre nós por “formação para
borrar”.
Como o adestramento visa a
salvaguarda, o robustecimento e a maior aptidão dos cães, importa equilibrá-los
para que aprendam a usar indistintamente as duas mãos de acordo com esses
propósitos, pelo que as mudanças de mão e de sentido (“troca” e “roda”) deverão
constar de todas as sessões de treino. Não havendo este cuidado, os cães
desenvolverão mais um lado do que outro, o que será um sério handicap para quem
se verá obrigado a evoluir em duas mãos e nos dois sentidos. Tal
desenvolvimento e atrofia anómalos só acontecem entre quem desconhece e não
procura a melhoria biomecânica dos animais que indevidamente lhe foram
confiados. E quando assim é, fácil é identificar o problema, basta olhar para a
garupa dos cães e reparar que se encontra desequilibrada: dum lado musculada e
do outro recta, dum lado com os músculos da coxa retesados e juntos à sua linha
superior e do outro com eles pouco desenvolvidos e espalmados. Ensinar é algo
bem para além dos comuns “truques” muito do agrado dos entusiastas e papalvos.
De volta aos testes para
sabermos se um cão é destro, ambidextro ou sinistro, vamos adiantar 11 que
necessitam de ser repetidos para se ter absoluta certeza da mão dominante do
animal. O primeiro é muito simples e consiste em pedirmos a pata ao cão sem lhe
indicarmos qual delas queremos (a pata que ele estender primeiro é a dominante).
O segundo consiste em colocarmos numa das nossas mãos fechada um pitéu da sua
eleição, não a abrindo até que ele a toque ou puxe com a pata. O terceiro passa
por colocarmos um brinquedo da sua preferência debaixo de um móvel ou sofá e
verificar qual a mão que estende para o alcançar. O quarto teste vem da
observação, no reparar que pata ele levanta primeiro quando se encontra deitado
de costas e deseja proteger-se ou convidar-nos para o acariciar. O quinto vem
também da observação, quando o cão se ampara em mesas, tampos e cadeiras para
alcançar algo que deseja (a mão da força é a dominante: a que o segura).
O sexto é também muito
simples, suspende-se um brinquedo numa corda e reparamos qual a mão que o cão vai
usar para o alcançar. O sétimo, também tirado a partir da gula, leva-nos a
colocar um pouco de manteiga sobre um papel escorregadio. Quando o cão lambe
manteiga, o papel escorrega e ver-se-á então obrigado a segurá-lo com uma das
patas, a pata usada determinará, se usar sempre a mesma para o efeito, se é destro
ou sinistro. O oitavo consiste em observar qual das patas ele usa para abrir ou
empurrar portas. O nono também proveniente da observação, visa descobrir qual a
pata que usa para arranhar as portas, já que essa será a dominante. O décimo é
muito fácil de observar, basta reparar para que lado o cão rodopia antes de
defecar, se rodopiar para o lado direito é destro e se rodopiar para o esquerdo
é canhoto. E finalmente o onze, que acontece amiudadas vezes com os cães
gulosos, consiste em saber que pata o cão usa para o chamar à atenção, pedir
festas ou guloseimas. Se projectar sempre a mesma, logo saberá se é destro ou
canhoto.
Independente de um cão ser
destro ou sinistro, todos terão que ter um desempenho idêntico nas duas mãos
para que, ficando uma presa, a outra consiga desembaraçar-se e soltá-la. Quando
sabemos qual é a mão dominante de um cão, de imediato ficamos a saber se irá precisar de mais travamento ou de ânimo e também qual das suas mãos irá necessitar de maior ajuda, pois o adestramento é protecção, aproveitamento
e transformação.
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