segunda-feira, 5 de junho de 2017

O SEU CÃO É DESTRO, AMBIDESTRO OU SINISTRO? QUAL A IMPORTÂNCIA DISSO?

Vamos começar pela pergunta final: Para que interessa saber se um cão é destro, ambidextro ou sinistro (canhoto)? Basicamente para melhor se compreender a sua natureza e características particulares, de modo a usá-lo de acordo com a sua vocação ou para refrear-lhe os ímpetos que obstam à sua melhor aceitação e convivência. Segundo um estudo tornado público por investigadores da Universidade de Manchester/UK no ano de 2006, sensivelmente 50% dos cães são destros e 50% deles são canhotos e que existe uma conexão entre o sexo do animal e a sua pata dominante, já que nas fêmeas essa pata costuma ser a direita e nos machos a esquerda (nos cães castrados ou esterilizados precocemente esta distinção desaparece). 
Conclui-se também que os cães destros tendem a ser mais ousados e curiosos, o que os torna mais adequados para cães-guia e que os canhotos tendem a ser mais agressivos. Estas conclusões científicas ajudam-nos a saber quais os cachorros a usar futuramente como cães de serviço, de terapia, busca, resgate e segurança, também para se saber se determinado cão é de propensão mais ou menos agressiva.
Sem nenhuma sombra de soberba, podemos dizer que já há muito havíamos observado as comprovações científicas atrás indicadas, daí termos optado maioritariamente, já na década de 90, pelo sentido dos ponteiros do relógio na instrução circular colectiva, pensando na harmonia do grupo escolar, na indispensável sociabilização inter pares e na higiene das aulas, porque ao fazê-lo estávamos a solicitar o uso da mão direita dos cães. Sempre que falo deste assunto vem-me à memória um franco-atirador, lá para os lados das Caldas da Rainha, que por falta de outros mais qualificados a si mesmo se proclamou adestrador de cães. Levado pela sua ingenuidade e ignorância, o bom do homem dispôs os aparelhos da sua pista improvisada de maneira a serem transpostos contra o sentido dos ponteiros do relógio (contra o movimento de rotação de terrestre) e com os animais à esquerda dos seus condutores, pormenor que obrigava os cães a defecarem e urinarem amiúde durante o treino, tornando aquele recinto num chiqueiro, tudo porque a agressividade dos cães era estimulada pelo uso constante da mão esquerda, impropriedade que os levava a marcar território através das suas excreções. Tal inversão sistemática do sentido de marcha ficou a partir dali conhecida entre nós por “formação para borrar”.
Como o adestramento visa a salvaguarda, o robustecimento e a maior aptidão dos cães, importa equilibrá-los para que aprendam a usar indistintamente as duas mãos de acordo com esses propósitos, pelo que as mudanças de mão e de sentido (“troca” e “roda”) deverão constar de todas as sessões de treino. Não havendo este cuidado, os cães desenvolverão mais um lado do que outro, o que será um sério handicap para quem se verá obrigado a evoluir em duas mãos e nos dois sentidos. Tal desenvolvimento e atrofia anómalos só acontecem entre quem desconhece e não procura a melhoria biomecânica dos animais que indevidamente lhe foram confiados. E quando assim é, fácil é identificar o problema, basta olhar para a garupa dos cães e reparar que se encontra desequilibrada: dum lado musculada e do outro recta, dum lado com os músculos da coxa retesados e juntos à sua linha superior e do outro com eles pouco desenvolvidos e espalmados. Ensinar é algo bem para além dos comuns “truques” muito do agrado dos entusiastas e papalvos.
De volta aos testes para sabermos se um cão é destro, ambidextro ou sinistro, vamos adiantar 11 que necessitam de ser repetidos para se ter absoluta certeza da mão dominante do animal. O primeiro é muito simples e consiste em pedirmos a pata ao cão sem lhe indicarmos qual delas queremos (a pata que ele estender primeiro é a dominante). O segundo consiste em colocarmos numa das nossas mãos fechada um pitéu da sua eleição, não a abrindo até que ele a toque ou puxe com a pata. O terceiro passa por colocarmos um brinquedo da sua preferência debaixo de um móvel ou sofá e verificar qual a mão que estende para o alcançar. O quarto teste vem da observação, no reparar que pata ele levanta primeiro quando se encontra deitado de costas e deseja proteger-se ou convidar-nos para o acariciar. O quinto vem também da observação, quando o cão se ampara em mesas, tampos e cadeiras para alcançar algo que deseja (a mão da força é a dominante: a que o segura).
O sexto é também muito simples, suspende-se um brinquedo numa corda e reparamos qual a mão que o cão vai usar para o alcançar. O sétimo, também tirado a partir da gula, leva-nos a colocar um pouco de manteiga sobre um papel escorregadio. Quando o cão lambe manteiga, o papel escorrega e ver-se-á então obrigado a segurá-lo com uma das patas, a pata usada determinará, se usar sempre a mesma para o efeito, se é destro ou sinistro. O oitavo consiste em observar qual das patas ele usa para abrir ou empurrar portas. O nono também proveniente da observação, visa descobrir qual a pata que usa para arranhar as portas, já que essa será a dominante. O décimo é muito fácil de observar, basta reparar para que lado o cão rodopia antes de defecar, se rodopiar para o lado direito é destro e se rodopiar para o esquerdo é canhoto. E finalmente o onze, que acontece amiudadas vezes com os cães gulosos, consiste em saber que pata o cão usa para o chamar à atenção, pedir festas ou guloseimas. Se projectar sempre a mesma, logo saberá se é destro ou canhoto.
Independente de um cão ser destro ou sinistro, todos terão que ter um desempenho idêntico nas duas mãos para que, ficando uma presa, a outra consiga desembaraçar-se e soltá-la. Quando sabemos qual é a mão dominante de um cão, de imediato ficamos a saber se irá precisar de mais travamento ou de ânimo e também qual das suas mãos irá necessitar de maior ajuda, pois o adestramento é protecção, aproveitamento e transformação.

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