Agora que na maioria dos
países ocidentais os cães deixaram de ser frigoríficos e passaram a ser seres
sensíveis, em caso de divórcio ou separação dos seus donos, a sua tutela, quando
não há consenso entre eles, acaba por ser atribuída por decisão judicial a uns
ou a outros conforme o parecer dos juízes, decidindo também quando é que os restantes
donos poderão visitá-los e conviver com eles. Como seguimos o problema de perto
e internacionalmente, temos tomado conhecimento de decisões judiciais a este
respeito totalmente lesivas para os cães em questão e atentatórias à Declaração
Universal dos Direitos dos Animais. Afinal, com quem deverão ficar os cães,
tendo em conta o seu bem-estar e a ignorância de muitos juízes em tal matéria?
Ao contrário do que muita
gente julga, os cães podem e devem ser ouvidos, dar o seu parecer, porque é a
sua felicidade que está em jogo e não deverão ser vítimas daqueles desenlaces!
Todos sabemos que os cães ficam totalmente baralhados quando obrigados a trocar
de território e de líder, comportando-se como desterrados e abandonados,
privados dum mundo que conheciam e obrigados a adaptar-se a outro que não
pediram, vindo a adaptar-se mais facilmente à novidade do território que à
troca de líder, porque só reconhecem um como tal, são seres sociais, interactivos
e cúmplices. Serão ainda mais desse líder quando foi ele que os passeou e
treinou, que os ajudou a vencer os seus erros, recompensou em função das suas
vitórias e dividiu com eles as tarefas do seu agrado.
Assim, havendo essa
hipótese, melhor seria para o cão ficar com o líder na casa que sempre conheceu.
Caso isso seja impossível, o animal deverá partir com o seu líder para outra
casa, o que tornará a sua adaptação ao novo território mais célere. A terceira
hipótese a considerar e a que menos agrada ao cão, é ficar com o conjugue
não-líder no mesmo território, o que o sossegará mas não impedirá que venha se
sofrer pela ausência do líder e a abraçar um estado de letargia causado pela
ansiedade da separação. Agora, nunca por nunca, deverá partir com o não-líder
para outra casa, porque se sentirá profundamente, confuso e baralhado como se
tivesse sido abandonado, a menos que o líder seja incapaz de assumir essa
responsabilidade, prescinda dela, tenha abraçado outros interesses ou sofrido
um súbito e duradouro distúrbio mental.
O que levará um não-líder
a reclamar um cão, situação em tudo análoga à encontrada na célebre “Justiça de
Salomão” relativa às duas mulheres que reclamavam a mesma criança? Como dificilmente
será o amor pelo animal, há todo um conjunto de sentimentos negativos e
conveniências dos quais se destaca a raiva, o desejo de vingança, a projecção
social, a conservação do status e o vil metal, sem o qual não se vai muito
longe e que pode concretizar muitos sonhos, sendo ao mesmo tempo responsável
por muitas dissensões, desgraças e crimes.
Oxalá aquilo que revelámos
aqui hoje pese doravante no parecer dos juízes: os cães agradecerão!
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