Este blogue completa hoje sete anos de
existência, tempo que aproveitámos para ajudar as pessoas a conhecerem-se a si
mesmas para a melhor compreenderem os cães, propósito antrozoológico que nunca
abandonámos, editando debaixo dessa preocupação 1818 artigos, estendendo aos
nossos leitores o mundo do adestramento nu e cru, gratuitamente, sem sofismas e
sem obedecer a tutelas. Trabalho que nos obrigou a acompanhar a par e passo
todas as novidades relativas à cinotecnia e os avanços científicos que
acorreram em seu auxílio. Tratámos múltiplos assuntos sobre cães e dissipámos
dúvidas, respondemos a 3028 emails dos 18000 recebidos e recebemos 200
comentários, correspondência que enriqueceu a nossa experiência e que nos deu a
conhecer canicultores e treinadores de todas as partes do mundo.
Demos
a conhecer raças pouco conhecidas, variedades ignoradas, aconselhámos criadores
e proprietários caninos, recomendámos ninhadas e ajudámos os interessados na
escolha de cachorros. Ainda que não fosse uma das nossas preocupações iniciais,
acabámos por estabelecer contacto com um número razoável de emigrantes
portugueses, que cada vez são mais, gente que acabou por suavizar as saudades
do solo pátrio pela leitura desta publicação. Internamente, através de
reflexão, valemos àqueles que formámos e que nos seguiram as pisadas, convidando-os
a aprofundar o seu conhecimento e a melhorar as suas lições e prestações,
também a outros, porque nunca discriminámos ninguém, a existência deste blogue
prova-o.
Através
desta publicação dividimos experiências, congregámos alunos de diferentes
gerações e alcançámos novos. Contámos episódios reais ocorridos com binómios, dividimos
notícias, lançámos alertas, denunciámos erros comuns, apontámos as soluções
mais simples e tratámos de diferentes linguagens interespécies. Analisámos vários
métodos de ensino, debruçámo-nos sobre a instalação doméstica dos cães,
explicámos o particular dos seus estádios etários, denunciámos os problemas
causados pela consanguinidade e endogamia nas raças actuais, exortámos para a
necessidade da sociabilização canina; indicámos dietas, ensinámos hábitos de
higiene, enfocámos a importância da biomecânica no lobo familiar para o seu uso
consensual, recomendámos material e apelámos à prática da medicina preventiva.
Dedicámos
muitos dos nossos artigos ao cão da nossa eleição: ao Cão de Pastor Alemão,
companheiro fiel que sempre nos acompanhou e valeu, um amigo que não nos
abandonou nas agruras que passámos. Explicámos as suas diferentes linhas e pressupostos
de selecção, desnudámos o seu panorama histórico, denunciámos as suas fraquezas
e adiantámos as suas mais-valias. Debruçámo-nos afincadamente sobre o seu
treino, demos especial enfoque às variedades recessivas nele presentes,
aconselhámos beneficiamentos, valemos a ninhadas, evidenciámos os problemas dos
cães actuais, adiantámos tabelas de crescimento e exaltámos a sua
versatilidade. Condenámos a exclusão da variedade branca da raça, realçámos a
importância da variedade negra e dedicámos artigos a cada uma delas,
nomeadamente à lobeira a quem a raça tanto deve. Poucos escreveram tanto sobre
este cão!
Tratámos
da relação óptima entre tratamento e treino, da recuperação do sentimento
territorial canino, insurgimo-nos contra a castração arbitrária,
desmistificámos raças, adiantámos um sem número de procedimentos pedagógicos,
falámos do escalonamento da matilha escolar, reclamámos da urgência e necessidade
das pistas tácticas, desnudámos a mímica e os rituais caninos, abordámos a
incompatibilidade somática e reconhecemos a disciplina de obediência como
embrião das outras. Explicámos comportamentos, clarificámos as atribuições dos
cães destinados à protecção civil, analisámos o actual desempenho dos binómios
policiais e militares, adiantámos as disposições legais em vigor, delongámo-nos
sobre a disciplina de guarda, dizendo que a prontidão dos ataques deve ser
igual à sua cessação, dedicámos vários artigos à endurance canina e a outras
modalidades binomiais, tanto civis como militares, adiantando que a sorte nos
obstáculos joga-se na sua entrada. Abordámos a pistagem (disciplina que mais
agrada aos cães), alertámos para os perigos de envenenamento e ensinámos
protocolos para que tal não aconteça, tudo em abono da salvaguarda canina que,
a nosso ver, deve ser o primeiro objectivo do adestramento.
Insistimos
na urgência dos cães em se acostumarem aos fenómenos naturais, em se
familiarizarem com os disparos e a toda a sorte ruídos urbanos, de se adaptarem
aos diferentes ecossistemas e a tirar deles os respectivos benefícios. Enfatizámos
o hábito da caminhada diária de uma milha para o bem-estar dos animais, analisámos
detalhadamente a sua morfologia e recomendámos exercícios próprios para o seu
robustecimento, ensinámos estratégias para fortalecer o seu carácter, desnudámos
procedimentos da reeducação canina (descodificação) e insistimos na prática da
natação, porque infelizmente nem todos os cães sabem nadar.
Mas
foi aos homens, enquanto líderes, condutores e responsáveis pelos seus cães,
que dedicámos maior cuidado e atenção, manifestando-lhes, entre outras coisas,
a importância do seu impacto visual, respiração e entoação de comandos no
desempenho laboral dos seus companheiros, incentivando-os em simultâneo ao
exercício de uma liderança activa e profícua, a treinarem os seus cães para
melhor os conhecerem. Debaixo deste propósito adiantámos e explicámos as figuras
básicas da obediência, os modos para o seu alcance, os erros mais comuns e as
correcções necessárias, sublinhando que um cão não tem mais nem menos
obediência: ou têm-na ou não a tem! Dissemos-lhes que a coluna vertebral do
adestramento é composta por dois comandos: “junto” e “aqui”, e que a
assimilação dos restantes sobre eles assenta. Destacámos a importância da
recompensa e dos momentos de supercompensação como os estímulos mais indicados
para a resposta afirmativa canina, alertámos para a disponibilidade que a
aquisição de um cão exige e respondemos a todas as questões, problemas e
desaguisados que nos foram solicitados, visando a excelente coabitação
doméstica e a inserção harmoniosa dos cães na sociedade.
Fizemos
aqui uma pequena síntese do que transmitimos ao longo destes anos, que também
aproveitámos para montar 3 pistas tácticas. Depois do que dissemos e fizemos,
sobra-nos um sentimento de dever cumprido e a obrigação de agradecermos a todos
aqueles que colaboraram connosco, homens e mulheres comuns cujo anonimato não
esconde o muito que nos deram. Sete anos é muito tempo, tanto que perdemos
amigos e binómios que não tornaremos a ver. Resta-nos como consolo e força para
continuar, ver os jovens que ajudámos a crescer, a maioria deles com carreiras
brilhantes nos diversos sectores da sociedade, miúdos que se tornaram grandes
com um cão ao lado. E como não podia deixar de ser, continuamos apaixonados
pelos cães e deles não desistiremos, porque com eles temos vivido e certamente
com eles morreremos.
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