quarta-feira, 16 de março de 2016

SETE ANOS É MUITO TEMPO!

Este blogue completa hoje sete anos de existência, tempo que aproveitámos para ajudar as pessoas a conhecerem-se a si mesmas para a melhor compreenderem os cães, propósito antrozoológico que nunca abandonámos, editando debaixo dessa preocupação 1818 artigos, estendendo aos nossos leitores o mundo do adestramento nu e cru, gratuitamente, sem sofismas e sem obedecer a tutelas. Trabalho que nos obrigou a acompanhar a par e passo todas as novidades relativas à cinotecnia e os avanços científicos que acorreram em seu auxílio. Tratámos múltiplos assuntos sobre cães e dissipámos dúvidas, respondemos a 3028 emails dos 18000 recebidos e recebemos 200 comentários, correspondência que enriqueceu a nossa experiência e que nos deu a conhecer canicultores e treinadores de todas as partes do mundo.
Demos a conhecer raças pouco conhecidas, variedades ignoradas, aconselhámos criadores e proprietários caninos, recomendámos ninhadas e ajudámos os interessados na escolha de cachorros. Ainda que não fosse uma das nossas preocupações iniciais, acabámos por estabelecer contacto com um número razoável de emigrantes portugueses, que cada vez são mais, gente que acabou por suavizar as saudades do solo pátrio pela leitura desta publicação. Internamente, através de reflexão, valemos àqueles que formámos e que nos seguiram as pisadas, convidando-os a aprofundar o seu conhecimento e a melhorar as suas lições e prestações, também a outros, porque nunca discriminámos ninguém, a existência deste blogue prova-o.
Através desta publicação dividimos experiências, congregámos alunos de diferentes gerações e alcançámos novos. Contámos episódios reais ocorridos com binómios, dividimos notícias, lançámos alertas, denunciámos erros comuns, apontámos as soluções mais simples e tratámos de diferentes linguagens interespécies. Analisámos vários métodos de ensino, debruçámo-nos sobre a instalação doméstica dos cães, explicámos o particular dos seus estádios etários, denunciámos os problemas causados pela consanguinidade e endogamia nas raças actuais, exortámos para a necessidade da sociabilização canina; indicámos dietas, ensinámos hábitos de higiene, enfocámos a importância da biomecânica no lobo familiar para o seu uso consensual, recomendámos material e apelámos à prática da medicina preventiva.
 Dedicámos muitos dos nossos artigos ao cão da nossa eleição: ao Cão de Pastor Alemão, companheiro fiel que sempre nos acompanhou e valeu, um amigo que não nos abandonou nas agruras que passámos. Explicámos as suas diferentes linhas e pressupostos de selecção, desnudámos o seu panorama histórico, denunciámos as suas fraquezas e adiantámos as suas mais-valias. Debruçámo-nos afincadamente sobre o seu treino, demos especial enfoque às variedades recessivas nele presentes, aconselhámos beneficiamentos, valemos a ninhadas, evidenciámos os problemas dos cães actuais, adiantámos tabelas de crescimento e exaltámos a sua versatilidade. Condenámos a exclusão da variedade branca da raça, realçámos a importância da variedade negra e dedicámos artigos a cada uma delas, nomeadamente à lobeira a quem a raça tanto deve. Poucos escreveram tanto sobre este cão!
Tratámos da relação óptima entre tratamento e treino, da recuperação do sentimento territorial canino, insurgimo-nos contra a castração arbitrária, desmistificámos raças, adiantámos um sem número de procedimentos pedagógicos, falámos do escalonamento da matilha escolar, reclamámos da urgência e necessidade das pistas tácticas, desnudámos a mímica e os rituais caninos, abordámos a incompatibilidade somática e reconhecemos a disciplina de obediência como embrião das outras. Explicámos comportamentos, clarificámos as atribuições dos cães destinados à protecção civil, analisámos o actual desempenho dos binómios policiais e militares, adiantámos as disposições legais em vigor, delongámo-nos sobre a disciplina de guarda, dizendo que a prontidão dos ataques deve ser igual à sua cessação, dedicámos vários artigos à endurance canina e a outras modalidades binomiais, tanto civis como militares, adiantando que a sorte nos obstáculos joga-se na sua entrada. Abordámos a pistagem (disciplina que mais agrada aos cães), alertámos para os perigos de envenenamento e ensinámos protocolos para que tal não aconteça, tudo em abono da salvaguarda canina que, a nosso ver, deve ser o primeiro objectivo do adestramento.
Insistimos na urgência dos cães em se acostumarem aos fenómenos naturais, em se familiarizarem com os disparos e a toda a sorte ruídos urbanos, de se adaptarem aos diferentes ecossistemas e a tirar deles os respectivos benefícios. Enfatizámos o hábito da caminhada diária de uma milha para o bem-estar dos animais, analisámos detalhadamente a sua morfologia e recomendámos exercícios próprios para o seu robustecimento, ensinámos estratégias para fortalecer o seu carácter, desnudámos procedimentos da reeducação canina (descodificação) e insistimos na prática da natação, porque infelizmente nem todos os cães sabem nadar.
Mas foi aos homens, enquanto líderes, condutores e responsáveis pelos seus cães, que dedicámos maior cuidado e atenção, manifestando-lhes, entre outras coisas, a importância do seu impacto visual, respiração e entoação de comandos no desempenho laboral dos seus companheiros, incentivando-os em simultâneo ao exercício de uma liderança activa e profícua, a treinarem os seus cães para melhor os conhecerem. Debaixo deste propósito adiantámos e explicámos as figuras básicas da obediência, os modos para o seu alcance, os erros mais comuns e as correcções necessárias, sublinhando que um cão não tem mais nem menos obediência: ou têm-na ou não a tem! Dissemos-lhes que a coluna vertebral do adestramento é composta por dois comandos: “junto” e “aqui”, e que a assimilação dos restantes sobre eles assenta. Destacámos a importância da recompensa e dos momentos de supercompensação como os estímulos mais indicados para a resposta afirmativa canina, alertámos para a disponibilidade que a aquisição de um cão exige e respondemos a todas as questões, problemas e desaguisados que nos foram solicitados, visando a excelente coabitação doméstica e a inserção harmoniosa dos cães na sociedade.
Fizemos aqui uma pequena síntese do que transmitimos ao longo destes anos, que também aproveitámos para montar 3 pistas tácticas. Depois do que dissemos e fizemos, sobra-nos um sentimento de dever cumprido e a obrigação de agradecermos a todos aqueles que colaboraram connosco, homens e mulheres comuns cujo anonimato não esconde o muito que nos deram. Sete anos é muito tempo, tanto que perdemos amigos e binómios que não tornaremos a ver. Resta-nos como consolo e força para continuar, ver os jovens que ajudámos a crescer, a maioria deles com carreiras brilhantes nos diversos sectores da sociedade, miúdos que se tornaram grandes com um cão ao lado. E como não podia deixar de ser, continuamos apaixonados pelos cães e deles não desistiremos, porque com eles temos vivido e certamente com eles morreremos.  

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