O mundo está cheio de
hipocrisia e a cinotecnia não escapa à regra. Comecemos pelo mundo. Na recente
viagem de Barack Hussein Obama a Cuba, 88 anos depois de um seu homólogo ali
ter estado, assistimos pela televisão a uma conferência de imprensa dada pelos
presidentes dos dois países. A determinada altura, um jornalista americano
interpelou Raul Castro acerca dos Direitos Humanos em Cuba, pergunta de índole política e polémica, contrária ao espírito reinante naquela visita
presidencial, apostada na reaproximação das duas nações, apesar das diferenças
ideológicas que as separam. Raul Castro, surpreendentemente, porque não o
esperávamos tão astuto, respondeu: “ Não podemos politizar os Direitos Humanos. Dos 61 artigos que a Declaração tem, Cuba cumpre 45 deles. Nenhum país os
cumpre todos e todos desrespeitam alguns deles”. O jornalista yankee “pôs a
viola no saco” e a coisa ficou por ali, pois “quem tem telhados de vidro, não
joga pedras ao do vizinho”. Não obstante, a astúcia do “Mano Castro” não me fez
fã de Cuba e do seu regime.
Também na cinotecnia se
faz vista grossa a muita coisa. Todos estamos de acordo que a violência deverá
ser banida do adestramento, porque ela retarda a formação dos cães, prejudica
as relações com os seus donos ou treinadores, pode causar vários desequilíbrios
psicológicos nos animais, altera o seu comportamento, induze-os a respostas
violentas e ao aumento da agressividade (a lista não acaba aqui). Também temos
uma “Declaração Universal dos Direitos
do Animal” e todos dizemos que cumprimos na íntegra o seu articulado, o que é
uma tremenda mentira, porque todos desrespeitamos alguns dos seus artigos,
consciente ou inconscientemente. E começamos logo por violar o seu 2º
princípio: “Nenhum animal deve ser maltratado” e, ao fazê-lo, violamos ao mesmo
tempo um sem número dos artigos constantes nesta Declaração. Andam por aí uns “garotos”
a balbuciar o “Método do Reforço Positivo” e a sujeitarem os seus cães à
tortura da coleira dos choques eléctricos, acessório que lhes facilita o
treino, é barato mas que dá cabo dos cães, porque atenta contra o seu bem-estar
(maltrata-os), pode causar-lhes lesões físicas e afecta o seu sistema nervoso, levando-os
à desconfiança, ao stress e ao temor, pormenores que os seus fabricantes não
revelam. A pregação destes "eruditos" é desmentida pela prática e não me faz fã ou seguidor das
suas balelas.
E como se isto não bastasse,
ainda há gente que se diz gostar de cães, abominar a violência no adestramento,
zelar pelo cumprimento dos direitos do animal e que os conduz literalmente amordaçados,
lembrando em tudo o método usado para conduzir os camelos mais teimosos ou
sujeitos a maiores esforços, também obrigados a circular de focinho aperreado.
De camelos não entendemos nada, mas sabemos que a boa técnica dispensa estes
acessórios nos cães, assim queiram os donos aprender!
A
violência sobre os cães não acaba por decreto, tampouco a exercida sobre os
homens, porque todos nascemos mais ou menos violentos, capazes de reconhecer a
violência alheia e de negar a nossa. Por isso, condenamos os seus exemplos mais
flagrantes mas não deixamos de procurá-la através de meios cada vez mais
sofisticados (dissimulados), usando-os sobre os outros, quer sejam homens, cães
ou outros animais - hipocrisias! A violência só será banida do adestramento no
dia em que todos os condutores forem humildes e tenham a sensatez de reconhecer
que têm muito a aprender, sobre si e sobre os cães, que estão cá para servir e não para ser servidos!
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