segunda-feira, 7 de março de 2016

LEMBRO-ME BEM DO KOLUMBOS

Esta semana recebemos um email que nos fez lembrar do Kolumbos, um Pastor Alemão de pêlo comprido que comprámos, oriundo maioritariamente dos Canis El Tous e Gibraltar, manso, pequeno, robusto e de aprumos impecáveis, não fora oriundo da linha estética e de ter averbado no seu pedigree uma ascendência repleta de campeões de beleza. Segundo o que nos fizeram saber, tanto ele como a cadela que o acompanhou já morreram e a pessoa que os adoptou pergunta agora se não temos outros iguais para adopção. A cadela era uma Pastora Alemã branca que nos foi dada e que durante muitos anos dividiu a box com o cão. Aproveitamos a ocasião para esclarecer que há 12 anos abandonámos a criação e não temos ao momento qualquer cão ao nosso encargo. Cedê-lo não foi fácil e demos o Kolumbos atendendo à sua idade, estado de saúde e menor préstimo, também porque merecia descansar e encontrar um lar que lhe desse a atenção que reclamava e merecia.
Perguntar-nos-ão qual a razão que nos levou a adquirir um cão de linha estética, já que sempre nos dedicámos à criação e treino de cães de trabalho. Segundo todos sabemos, ainda que alguns façam orelhas moucas e até façam alarde disso, a endogamia e a consanguinidade são flagelos que a breve trecho comprometerão qualquer linha de criação, erro em que nunca incorremos e que tornou ainda mais dispendiosa a nossa opção pela canicultura. Fomos buscar o Kolumbos não só com esse intento mas com outro que mais cedo ou mais tarde acabará por atormentar os criadores que se dedicam exclusivamente à criação de cães de trabalho: a descaracterização. É sabido que os cães de trabalho, quando cruzados consecutivamente entre si, tendem a selar o dorso, a ter angulações traseiras com menor angulação, a adquirir aqui e ali uma estrutura côncava e menos convexa, pelo menos nos que se vejam e não resultem de cocktails milagrosos, porque nos mais pequenos o fenómeno é pouco visível. Diante desta situação, importa recorrer aos bons ofícios dos cães da linha estética, pois importa padronizar e foi por isso que fomos buscar o Kolumbos, função que cumpriu cabalmente, já que para outras era de pouco préstimo.
Quando ocorreu o último grande incêndio na Tapada Real de Mafra, com a escola rodeada de chamas e em vias de ser devorada pelo fogo, não nos sobrou outro remédio do que evacuar os cães (à volta de 35), também as ovelhas e o burro de que éramos proprietários (só ficaram a avestruz, os patos e as galinhas), rumo ao quintal de um aluno que veio em nosso auxílio: o Chico, azáfama impossível de realizar sem o contributo de todos e em particular da Maria Duarte, que à frente da daquela bicharada e no meio da confusão, os levou estrada fora para lugar seguro (já em miúda era rija e decidida). Com o tempo a correr contra nós e com os coelhos bravos a arder, que espalhavam o fogo por toda a parte, tivemos que acelerar a evacuação. No meio da atrapalhação, reforçada ainda pelo facto de termos cães capazes de morder nas estrelas, o bom do Kolumbos entrou em choque e desmaiou. Temeu-se o pior mas passados escassos segundos lá se levantou, sendo salvo como os demais.
Nunca me esqueci dele e ainda parece que o vejo, humilde e a abanar a cauda, empoleirado na porta da box à espera de festas, contrastando com os outros, que se jogam contra as portas e intentam saltar os muros, quando algum estranho se acerca delas, um camarada único com quem tivemos o privilégio de privar.

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