Esta
semana recebemos um email que nos fez lembrar do Kolumbos, um Pastor Alemão de
pêlo comprido que comprámos, oriundo maioritariamente dos Canis El Tous e Gibraltar,
manso, pequeno, robusto e de aprumos impecáveis, não fora oriundo da linha estética
e de ter averbado no seu pedigree uma ascendência repleta de campeões de
beleza. Segundo o que nos fizeram saber, tanto ele como a cadela que o
acompanhou já morreram e a pessoa que os adoptou pergunta agora se não temos
outros iguais para adopção. A cadela era uma Pastora Alemã branca que nos foi
dada e que durante muitos anos dividiu a box com o cão. Aproveitamos a ocasião
para esclarecer que há 12 anos abandonámos a criação e não temos ao momento
qualquer cão ao nosso encargo. Cedê-lo não foi fácil e demos o Kolumbos
atendendo à sua idade, estado de saúde e menor préstimo, também porque merecia
descansar e encontrar um lar que lhe desse a atenção que reclamava e merecia.
Perguntar-nos-ão
qual a razão que nos levou a adquirir um cão de linha estética, já que sempre
nos dedicámos à criação e treino de cães de trabalho. Segundo todos sabemos,
ainda que alguns façam orelhas moucas e até façam alarde disso, a endogamia e a
consanguinidade são flagelos que a breve trecho comprometerão qualquer linha de
criação, erro em que nunca incorremos e que tornou ainda mais dispendiosa a
nossa opção pela canicultura. Fomos buscar o Kolumbos não só com esse intento
mas com outro que mais cedo ou mais tarde acabará por atormentar os criadores que
se dedicam exclusivamente à criação de cães de trabalho: a descaracterização. É
sabido que os cães de trabalho, quando cruzados consecutivamente entre si,
tendem a selar o dorso, a ter angulações traseiras com menor angulação, a adquirir
aqui e ali uma estrutura côncava e menos convexa, pelo menos nos que se vejam e
não resultem de cocktails milagrosos, porque nos mais pequenos o fenómeno é
pouco visível. Diante desta situação, importa recorrer aos bons ofícios dos
cães da linha estética, pois importa padronizar e foi por isso que fomos buscar
o Kolumbos, função que cumpriu cabalmente, já que para outras era de pouco
préstimo.
Quando
ocorreu o último grande incêndio na Tapada Real de Mafra, com a escola rodeada
de chamas e em vias de ser devorada pelo fogo, não nos sobrou outro remédio do
que evacuar os cães (à volta de 35), também as ovelhas e o burro de que éramos
proprietários (só ficaram a avestruz, os patos e as galinhas), rumo ao quintal
de um aluno que veio em nosso auxílio: o Chico, azáfama impossível de realizar
sem o contributo de todos e em particular da Maria Duarte, que à frente da daquela
bicharada e no meio da confusão, os levou estrada fora para lugar seguro (já em
miúda era rija e decidida). Com o tempo a correr contra nós e com os coelhos
bravos a arder, que espalhavam o fogo por toda a parte, tivemos que acelerar a
evacuação. No meio da atrapalhação, reforçada ainda pelo facto de termos cães
capazes de morder nas estrelas, o bom do Kolumbos entrou em choque e desmaiou.
Temeu-se o pior mas passados escassos segundos lá se levantou, sendo salvo como
os demais.
Nunca
me esqueci dele e ainda parece que o vejo, humilde e a abanar a cauda,
empoleirado na porta da box à espera de festas, contrastando com os outros, que
se jogam contra as portas e intentam saltar os muros, quando algum estranho se
acerca delas, um camarada único com quem tivemos o privilégio de privar.
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