Desde a década de 80 que
temos denunciado os males infligidos ao Cão de Pastor Alemão, tanto estruturais
quanto psicológicos, e não nos calaremos até que a situação se altere, doa a
quem doer, porque a raça está moribunda, em profunda agonia e a morrer para o
trabalho, flagelos que não aceitamos pelo amor que nos liga aos cães em geral e
pela predilecção que mantemos pela raça, outrora muito admirada e hoje
gradualmente desleixada, por se encontrar doente, frágil e ter perdido a sua
tradicional aptidão, achaques que vão contra os propósitos da sua formação e
que só envergonham quem a desrespeitou, malbaratou e a transformou na
abominação que hoje vemos, criadores que impropriamente se apossaram duma herança
que nunca lhes pertenceu e que a derretem nas passarelas para cúmulo das suas
vaidades.
Ainda que criadores,
adestradores e juízes pactuem com este descalabro, por manifesta conveniência que
não esconde um profundo desrespeito pelo bem-estar deste cão de trabalho, a
opinião pública, hoje mais esclarecida pelo empenho dos media, manifesta-se e
insurge-se contra as actuais linhas de criação e seus mentores por toda a parte,
como aconteceu recentemente em Inglaterra no último Sábado, no famoso concurso
canino “Crufts”, onde a cadela CPA “Cruaghaire Catoria” (Tori para os donos),
com 3 anos de idade, ganhou o primeiro lugar na categoria de “Best of Breed”
(Melhor da Raça), título que é atribuído ao cão tido como melhor exemplar
representativo da sua raça num show de conformação. Ao que se consta e disso
faz eco toda a imprensa britânica que tem uma secção dedicada aos animais, a
dita cadela desfilou toda desengonçada e periclitante, evidenciando uma marcha
dolorosa, desequilibrada, empinada e desenxabida, por sobrecarregar em demasia
os seus membros traseiros, obrigados a suportar o seu peso corporal por
alteração do seu ponto de equilíbrio. O desagrado da opinião pública que
transpirou e se estendeu aos jornais, deixou a proprietária da cadela abatida
num dia em que tinha tudo para ficar feliz. Chocada com a oposição, a Sr.ª Susan
Cuthbert apressou-se a apresentar um atestado médico comprovativo do bom estado
de saúde do animal, esforço inglório que não conseguiu desmentir o que toda a
gente viu.
Na Capital, lá para as
bandas de Belém, em frente aos Jerónimos e à espera de turistas, atrelado a uma
carroça, costuma ver-se ali parado um cavalo belga de tiro (julgo que se chama
Flamy), que junta ao atavio dos seus arreios uma bolsa de oleado para recolha
dos seus dejectos, pormenor que se louva diante da higiene e saúde públicas.
Num dia em que não posso precisar, ao passar perto daquele cavalo, caminhando
eu com outro adestrador que muito considero, pessoa frontal e com certa graça,
ouvi dele o seguinte comentário: “ Sabe o que é que me faz lembrar este cavalo?
Os pastores alemães actuais, porque eles também evoluem como se estivessem a
borrar prá saquinha, ainda que não a tenham!”. Humor à parte, caso a razão não
surta efeito, espera-se que o crescente revivalismo alemão, ao invés de
enveredar pelos erros expansionistas e xenófobos do passado, conserte e devolva
ao Pastor Alemão a qualidade de outrora, produto doméstico indissociável do
esmero germânico.
E, enquanto isso não
acontecer, prós “borra na saquinha”, dizemos: não, obrigado! Daqui exortamos os
novos criadores da raça a procurarem reprodutores livres dos exageros visíveis nos
cães de exposição, flâmulas de fogo-fátuo, indivíduos de méritos por comprovar
e filhos ilegítimos duma grandeza que perderam.
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