quinta-feira, 17 de março de 2016

NÃO GOSTO DE BATER NO CEGUINHO, MUITO MENOS NO COXINHO, MAS…

Desde a década de 80 que temos denunciado os males infligidos ao Cão de Pastor Alemão, tanto estruturais quanto psicológicos, e não nos calaremos até que a situação se altere, doa a quem doer, porque a raça está moribunda, em profunda agonia e a morrer para o trabalho, flagelos que não aceitamos pelo amor que nos liga aos cães em geral e pela predilecção que mantemos pela raça, outrora muito admirada e hoje gradualmente desleixada, por se encontrar doente, frágil e ter perdido a sua tradicional aptidão, achaques que vão contra os propósitos da sua formação e que só envergonham quem a desrespeitou, malbaratou e a transformou na abominação que hoje vemos, criadores que impropriamente se apossaram duma herança que nunca lhes pertenceu e que a derretem nas passarelas para cúmulo das suas vaidades.
Ainda que criadores, adestradores e juízes pactuem com este descalabro, por manifesta conveniência que não esconde um profundo desrespeito pelo bem-estar deste cão de trabalho, a opinião pública, hoje mais esclarecida pelo empenho dos media, manifesta-se e insurge-se contra as actuais linhas de criação e seus mentores por toda a parte, como aconteceu recentemente em Inglaterra no último Sábado, no famoso concurso canino “Crufts”, onde a cadela CPA “Cruaghaire Catoria” (Tori para os donos), com 3 anos de idade, ganhou o primeiro lugar na categoria de “Best of Breed” (Melhor da Raça), título que é atribuído ao cão tido como melhor exemplar representativo da sua raça num show de conformação. Ao que se consta e disso faz eco toda a imprensa britânica que tem uma secção dedicada aos animais, a dita cadela desfilou toda desengonçada e periclitante, evidenciando uma marcha dolorosa, desequilibrada, empinada e desenxabida, por sobrecarregar em demasia os seus membros traseiros, obrigados a suportar o seu peso corporal por alteração do seu ponto de equilíbrio. O desagrado da opinião pública que transpirou e se estendeu aos jornais, deixou a proprietária da cadela abatida num dia em que tinha tudo para ficar feliz. Chocada com a oposição, a Sr.ª Susan Cuthbert apressou-se a apresentar um atestado médico comprovativo do bom estado de saúde do animal, esforço inglório que não conseguiu desmentir o que toda a gente viu.
Na Capital, lá para as bandas de Belém, em frente aos Jerónimos e à espera de turistas, atrelado a uma carroça, costuma ver-se ali parado um cavalo belga de tiro (julgo que se chama Flamy), que junta ao atavio dos seus arreios uma bolsa de oleado para recolha dos seus dejectos, pormenor que se louva diante da higiene e saúde públicas. Num dia em que não posso precisar, ao passar perto daquele cavalo, caminhando eu com outro adestrador que muito considero, pessoa frontal e com certa graça, ouvi dele o seguinte comentário: “ Sabe o que é que me faz lembrar este cavalo? Os pastores alemães actuais, porque eles também evoluem como se estivessem a borrar prá saquinha, ainda que não a tenham!”. Humor à parte, caso a razão não surta efeito, espera-se que o crescente revivalismo alemão, ao invés de enveredar pelos erros expansionistas e xenófobos do passado, conserte e devolva ao Pastor Alemão a qualidade de outrora, produto doméstico indissociável do esmero germânico.
E, enquanto isso não acontecer, prós “borra na saquinha”, dizemos: não, obrigado! Daqui exortamos os novos criadores da raça a procurarem reprodutores livres dos exageros visíveis nos cães de exposição, flâmulas de fogo-fátuo, indivíduos de méritos por comprovar e filhos ilegítimos duma grandeza que perderam. 

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