quarta-feira, 16 de março de 2016

PERDIDO POR UM, PERDIDO POR MIL

“Perdido por um, perdido por mil” é uma expressão simplificada do provérbio popular “perdido por cem, perdido por mil”, uma exclamação que se usa quando um mal está feito e outro nada agrava pelo irremediável da situação, um desabafo de impotência que usamos para não nos culpabilizarmos, como se fossemos ultrapassados pelas situações, vítimas delas, doutros ou da nossa natureza, até porque errar é humano! Esta forma de auto-consolo, típica de quem se conforma, reincide nos erros e não procura alteração é fatal e imprópria no adestramento, porque os cães necessitam de mestres, seguem-nos cegamente e aprendem pela experiência e pelo condicionamento, possuindo inclusive uma memória mecânica que os leva a reproduzir automaticamente os exercícios ou figuras que apreenderam por repetição, o que obriga os adestradores ao acerto e à procura de soluções. 
Quando “perdido por um, perdido por mil” serve para justificar um erro, nada pior do que acrescentar-lhe outro, procedimento próprio de quem perde as estribeiras com facilidade e é parco de engenho, deméritos que atentam contra a constância e progresso exigidos pelo treino canino. E como o provérbio é em si mesmo hedonista, importa esclarecer que um adestrador veio para servir. Ser um adestrador capaz não dispensa o auto-controlo que induz à solução adequada, o estudo pormenorizado das situações que possibilita o encontro das melhores respostas, tarefas que não dispensam o aperfeiçoamento pessoal e o desejo de ir mais além. Jamais deverá ser um homem de cabeça perdida mas alguém que a mantém no lugar. Como dizia um velho prático desta arte: “isto de ensinar cães dá cabo da cabeça a qualquer um!”.

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