“Perdido
por um, perdido por mil” é uma expressão simplificada do provérbio popular
“perdido por cem, perdido por mil”, uma exclamação que se usa quando um mal
está feito e outro nada agrava pelo irremediável da situação, um desabafo de
impotência que usamos para não nos culpabilizarmos, como se fossemos
ultrapassados pelas situações, vítimas delas, doutros ou da nossa natureza, até
porque errar é humano! Esta forma de auto-consolo, típica de quem se conforma, reincide nos erros e não procura alteração é fatal e imprópria no adestramento,
porque os cães necessitam de mestres, seguem-nos cegamente e aprendem pela
experiência e pelo condicionamento, possuindo inclusive uma memória mecânica
que os leva a reproduzir automaticamente os exercícios ou figuras que apreenderam
por repetição, o que obriga os adestradores ao acerto e à procura de soluções.
Quando “perdido por um, perdido por mil” serve para justificar um erro, nada
pior do que acrescentar-lhe outro, procedimento próprio de quem perde as
estribeiras com facilidade e é parco de engenho, deméritos que atentam contra a
constância e progresso exigidos pelo treino canino. E como o provérbio é em si
mesmo hedonista, importa esclarecer que um adestrador veio para servir. Ser um
adestrador capaz não dispensa o auto-controlo que induz à solução adequada, o
estudo pormenorizado das situações que possibilita o encontro das melhores
respostas, tarefas que não dispensam o aperfeiçoamento pessoal e o desejo de ir
mais além. Jamais deverá ser um homem de cabeça perdida mas alguém que a mantém no lugar. Como dizia um velho prático desta arte: “isto de ensinar cães dá cabo
da cabeça a qualquer um!”.
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