Esta semana recebemos um
email a adiantar-nos uma sugestão. Apesar do seu autor ter optado pelo anonimato
(julgamos tratar-se duma senhora), vamos aqui divulgar o seu conteúdo, razão
primeira deste artigo. Dizia o email: “Uma
sugestão: Para quando um artigo sobre os Pepos (perros de protección) será que
é fácil ter um cão que ataque mas não morda?”. Começamos por responder à
pergunta que nos é feita. É-nos difícil conceber um ataque canino a não ser à
dentada, muito embora a simples presença de um cão seja dissuasão bastante para
uns tantos, particularmente quando se souber que foi treinado, for grande, mal-encarado,
mal-afamado e pertencer a uma raça pouco dada a amizades. No entanto, qualquer
cão devidamente habilitado para isso, pode desenvolver um conjunto de manobras
defensivas a favor do seu dono ou dona, que vão do simples aviso até à procura
de socorro, passando por se interpor entre o agressor e o seu proprietário, reforçar
a defesa do dono, transportar-lhe meios de defesa, desequilibrar e jogar no
chão o atacante, oferecer-lhe resistência, desarmá-lo, accionar mecanismos
eléctricos ou electrónicos de aviso, etc., enquanto as Forças da Lei não chegam.
“PEPOS” é a abreviatura em
castelhano para “perros de protección”, designação e trabalho que pouco diferem
do comum “cão de protecção pessoal”, que são especialmente adestrados para a
defesa do género, mormente o feminino, impedindo assim e de alguma forma, que
os seus donos sejam objecto de violência ou vítimas de agressão, normalmente perpetrados
por ex-cônjuges vingativos e/ou violentos, que descontentes com a sua sorte,
buscam ocasião para causar dolo ou até matar quem os descartou ou desprezou,
como o que aconteceu ontem na Galiza, quando um português que vivia com uma
galega lhe desferiu dois tiros na cabeça (felizmente a dita senhora salvou-se).
E quando se fala em violência de género, é importante relembrar que cresce o
número de homens agredido por mulheres, tanto por companheiras como por
ex-companheiras, facto que normalmente é omisso por força da vergonha dos
agredidos.
Sabemos que a presença de
um cão destes transmite segurança e devolve aos donos o seu valor e auto-estima,
como também sabemos da falibilidade canina perante o engenho, meios e aproveitamento
das circunstâncias a que os agressores recorrem, já que normalmente procuram
situações de surpresa que lhes sejam vantajosas, porque premeditaram e sabem ao
que vão, valendo-se dos momentos em que o cão se encontra inoperacional, quando
se encontra açaimado ou nos locais onde a sua entrada se encontra vetada,
podendo vir a ludibriá-lo pelos seus instintos mais básicos ou a envenená-lo
quando conhecedores das suas rotinas diárias, locais de permanência e passeio.
E se o agressor(a) for treinador de cães? Contudo, o cão é mais uma ajuda, mas se
um por lado ajuda, por outro irá obrigar a abordagens criminosas mais
cautelosas, elaboradas e eficazes, o que deverá levar as possíveis vítimas a maior
atenção, precaução e cautela e… à antevisão dos riscos que poderão correr, pois
lutam contra a insaciabilidade do ódio, força tanto ou mais poderosa quanto o
amor. Nestes casos, porque o perigo ronda, o acto de tirar o açaime ao cão deve
ser amplamente treinado e cronometrado, para que aconteça num máximo de 3
segundos usando uma só mão (há que treinar a esquerda).
Pessoalmente penso que a
violência de género não deverá ser só combatida com a violência (com cães ou
sem eles), porque violência gera violência e só perde quem tem a perder, o que
geralmente não afecta quem está disposto a tudo. O recurso aos cães é mais uma
acha para a fogueira, uma política típica de “casa roubada, trancas na porta”.
Melhor seria que cada um soubesse escolher acertadamente o seu parceiro e o que
nele procura, que se desse em função daquilo que recebe, que não perdesse o
controlo, a clarividência e auto-estima em prole duma aventura ou paixão, que
mais ligasse aos factos que às promessas e desejos, que não pactuasse e
tolerasse com os erros consecutivos do outro (que tendem ao agravamento), e que
estabelecesse desde logo regras de convivência visando o mútuo respeito,
disposições que parecem fáceis mas que em matéria sentimental são bem difíceis
de pôr em prática, permitindo uma separação atempada e menos sofrida para
ambos, pois o mau hábito de perdoar o que não tem remédio sempre acarreta
graves consequências e normalmente vitima quem dele faz uso.
Como atrás dissemos, o
treino dos ditos “PEPOS” em pouco difere do exigido aos cães de protecção
pessoal, todos atacam e todos estão sujeitos ao fracasso, muito embora os
primeiros sejam preparados para situações particulares de acordo com a natureza
e características individuais dos possíveis agressores, pois sabe-se quem é o
inimigo, o seu odor é conhecido e conhecem-se os seus modos de actuação. Graças
à violência de género, até porque há situações na vida que não se repetem, os serviços
dos adestradores são agora mais requisitados, tarefas para que se encontram
preparados há muito e que não os obrigarão a uma nova habilitação e a custos
adicionais. Oxalá as vítimas estejam preparadas para o confronto, não se
compadeçam dos agressores e lamentem o dolo causado pelos cães, coisa que já
aconteceu entre nós no Séc. XIX, quando os franceses invadiram o País, que
atravessando a nossa fronteira exaustos e descalços, apesar de invasores,
receberam da população raiana comida e calçado no caminho para Lisboa, porque
uma coisa é ter uma arma e outra é ser-se capaz de usá-la! Tudo isto seria
evitável se o juízo e o bom senso não nos faltassem nos momentos em que mais
precisamos deles!
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