domingo, 27 de março de 2016

DE SCHUTZHUNDE A PEPOS

Esta semana recebemos um email a adiantar-nos uma sugestão. Apesar do seu autor ter optado pelo anonimato (julgamos tratar-se duma senhora), vamos aqui divulgar o seu conteúdo, razão primeira deste artigo. Dizia o email: “Uma sugestão: Para quando um artigo sobre os Pepos (perros de protección) será que é fácil ter um cão que ataque mas não morda?”. Começamos por responder à pergunta que nos é feita. É-nos difícil conceber um ataque canino a não ser à dentada, muito embora a simples presença de um cão seja dissuasão bastante para uns tantos, particularmente quando se souber que foi treinado, for grande, mal-encarado, mal-afamado e pertencer a uma raça pouco dada a amizades. No entanto, qualquer cão devidamente habilitado para isso, pode desenvolver um conjunto de manobras defensivas a favor do seu dono ou dona, que vão do simples aviso até à procura de socorro, passando por se interpor entre o agressor e o seu proprietário, reforçar a defesa do dono, transportar-lhe meios de defesa, desequilibrar e jogar no chão o atacante, oferecer-lhe resistência, desarmá-lo, accionar mecanismos eléctricos ou electrónicos de aviso, etc., enquanto as Forças da Lei não chegam.
“PEPOS” é a abreviatura em castelhano para “perros de protección”, designação e trabalho que pouco diferem do comum “cão de protecção pessoal”, que são especialmente adestrados para a defesa do género, mormente o feminino, impedindo assim e de alguma forma, que os seus donos sejam objecto de violência ou vítimas de agressão, normalmente perpetrados por ex-cônjuges vingativos e/ou violentos, que descontentes com a sua sorte, buscam ocasião para causar dolo ou até matar quem os descartou ou desprezou, como o que aconteceu ontem na Galiza, quando um português que vivia com uma galega lhe desferiu dois tiros na cabeça (felizmente a dita senhora salvou-se). E quando se fala em violência de género, é importante relembrar que cresce o número de homens agredido por mulheres, tanto por companheiras como por ex-companheiras, facto que normalmente é omisso por força da vergonha dos agredidos.
Sabemos que a presença de um cão destes transmite segurança e devolve aos donos o seu valor e auto-estima, como também sabemos da falibilidade canina perante o engenho, meios e aproveitamento das circunstâncias a que os agressores recorrem, já que normalmente procuram situações de surpresa que lhes sejam vantajosas, porque premeditaram e sabem ao que vão, valendo-se dos momentos em que o cão se encontra inoperacional, quando se encontra açaimado ou nos locais onde a sua entrada se encontra vetada, podendo vir a ludibriá-lo pelos seus instintos mais básicos ou a envenená-lo quando conhecedores das suas rotinas diárias, locais de permanência e passeio. E se o agressor(a) for treinador de cães? Contudo, o cão é mais uma ajuda, mas se um por lado ajuda, por outro irá obrigar a abordagens criminosas mais cautelosas, elaboradas e eficazes, o que deverá levar as possíveis vítimas a maior atenção, precaução e cautela e… à antevisão dos riscos que poderão correr, pois lutam contra a insaciabilidade do ódio, força tanto ou mais poderosa quanto o amor. Nestes casos, porque o perigo ronda, o acto de tirar o açaime ao cão deve ser amplamente treinado e cronometrado, para que aconteça num máximo de 3 segundos usando uma só mão (há que treinar a esquerda).
Pessoalmente penso que a violência de género não deverá ser só combatida com a violência (com cães ou sem eles), porque violência gera violência e só perde quem tem a perder, o que geralmente não afecta quem está disposto a tudo. O recurso aos cães é mais uma acha para a fogueira, uma política típica de “casa roubada, trancas na porta”. Melhor seria que cada um soubesse escolher acertadamente o seu parceiro e o que nele procura, que se desse em função daquilo que recebe, que não perdesse o controlo, a clarividência e auto-estima em prole duma aventura ou paixão, que mais ligasse aos factos que às promessas e desejos, que não pactuasse e tolerasse com os erros consecutivos do outro (que tendem ao agravamento), e que estabelecesse desde logo regras de convivência visando o mútuo respeito, disposições que parecem fáceis mas que em matéria sentimental são bem difíceis de pôr em prática, permitindo uma separação atempada e menos sofrida para ambos, pois o mau hábito de perdoar o que não tem remédio sempre acarreta graves consequências e normalmente vitima quem dele faz uso.
Como atrás dissemos, o treino dos ditos “PEPOS” em pouco difere do exigido aos cães de protecção pessoal, todos atacam e todos estão sujeitos ao fracasso, muito embora os primeiros sejam preparados para situações particulares de acordo com a natureza e características individuais dos possíveis agressores, pois sabe-se quem é o inimigo, o seu odor é conhecido e conhecem-se os seus modos de actuação. Graças à violência de género, até porque há situações na vida que não se repetem, os serviços dos adestradores são agora mais requisitados, tarefas para que se encontram preparados há muito e que não os obrigarão a uma nova habilitação e a custos adicionais. Oxalá as vítimas estejam preparadas para o confronto, não se compadeçam dos agressores e lamentem o dolo causado pelos cães, coisa que já aconteceu entre nós no Séc. XIX, quando os franceses invadiram o País, que atravessando a nossa fronteira exaustos e descalços, apesar de invasores, receberam da população raiana comida e calçado no caminho para Lisboa, porque uma coisa é ter uma arma e outra é ser-se capaz de usá-la! Tudo isto seria evitável se o juízo e o bom senso não nos faltassem nos momentos em que mais precisamos deles! 

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