O
debate sobre a “morte assistida” está lançado: a discussão acerca da Eutanásia
está ao rubro e acontece um pouco por todo o lado. Segundo as sondagens que vão
chegando, a maioria dos portugueses parece inclinado à sua legalização. Os seus
defensores usam termos como “morrer com dignidade” e os seus detractores
alcunham-na de “suicídio assistido”, num País onde o “viver com dignidade” está
cada vez mais difícil e tem contribuído para o aumento dos casos de suicídio. O
extremado das posições não deixa ninguém indiferente e cada um, ainda que o não
queira, é obrigado a tomar posição, a pensar na opção a tomar caso venha a ser
vítima de uma doença terminal, debilitante e dolorosa: se morrer em agonia ou
antecipar a morte. À distância não sei que opção irei tomar, nem tão pouco sei
se estarei em boas condições psicológicas para efectuar uma “livre escolha”,
porque debaixo de grande sofrimento há quem queira morrer e os mais velhos preferem
a morte diante de tal sorte, muito embora eu seja apegado à vida e à esperança,
nada interessado em “entregar a vida aos pontos” e acostumado a zombar da morte.
Há muito que “eutanasiamos”
cães e nem sempre por ausência de outras soluções, primeiro por modo próprio e
depois com o auxílio dos veterinários. Os cães mais vitimados pela injecção
letal são os abandonados, aqueles que assim se viram privados dos seus donos e
lares, mormente os mais velhos, incapacitados e doentes, seguem-se-lhes os
impedidos de concorrer à assistência médico-cirúrgica e por fim os acometidos
de enfermidades irreversíveis, debilitantes e dolorosas, apesar de muitos deles
poderem ter sido poupados pelo cuidado atempado dos seus donos, cuidado
igualmente válido para homens e cães. Não vi nenhum morrer com dignidade mas
creio que morreram com menor sofrimento, porque se apagaram sem tugir nem
mugir. Não vejo e nunca vi qualquer dignidade na morte, seja de quem for e de
que modo aconteça, porque sempre a entendi como injusta e o pior dos castigos,
o que me tem obrigado a reclamar e a valer da medicina preventiva, que não
sendo rentável e não satisfazendo nenhum lobby, tarda em ser adoptada e
generalizada. Como o seu cão não pode fazer uma “livre escolha” e caso pudesse
optaria pela vida, mantenha-o saudável e leve-o regularmente ao veterinário (semestralmente),
mesmo que não indicie qualquer sintoma de doença. Para o manter saudável deve
dar-lhe uma alimentação adequada, mantê-lo limpo, libertá-lo do stress e
convidá-lo para o exercício diário, porque mais vale que viva dignamente do que
morrer sem glória.
Quanto à eutanásia
propriamente dita, oxalá não façam connosco como fazem com os cães, que morrem
sem manifestar essa vontade. Ao falar do tema sempre me lembro dos condenados à
morte norte-americanos por injecção letal, será que também “morrem com
dignidade”, apesar da vingança exigir o seu castigo? Eu não gostava de me decidir
sobre a morte de alguém, não me sinto preparado para isso e não sei se alguma
vez estarei, muito menos dos que me são queridos. Espero que a eutanásia, se
vier a ser aprovada, não venha a suceder às pestes e às guerras, que sempre
fazem vítimas inocentes (digo isto de boa-fé).
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