segunda-feira, 14 de março de 2016

NÓS POR CÁ: MARCELINO PAN Y VINO

O novo Presidente da República Portuguesa, Marcelo Rebelo de Sousa, é um presidente carismático bem ao gosto popular, com um discurso antigo, patriótico e conciliador, não raramente ambíguo, dado a banhos de multidão e profundo conhecedor da sociedade nacional e dos seus valores tradicionais. Num País onde o Presidente da República é rei e o povo mais saudosista ainda não esqueceu essa imagem, Marcelo surge como paladino da pátria e da república, um D. Sebastião que finalmente voltou e foi reconhecido pelos seus, uma lufada de esperança para quem tem a memória curta, acredita que tudo é possível e que no final tudo acaba em bem (“a ver, vamos”, como diz o cego).
O novo hóspede do Palácio de Belém, para além de dar música ao povo e de manifestar uma extraordinária capacidade de adaptação, apela despudoradamente à crendice popular e sustenta a ocorrência de milagres, lembrando amiúde os pretensamente associados à nossa história nas suas intervenções, o que lhe confere também um carácter místico, transformando-o numa versão optimizada de “Marcelino Pan y Vino”, história beata da autoria do falangista espanhol José María Sánchez-Silva y García-Morales que o cinema imortalizou.
Sem grande dificuldade, se continuar como até aqui, virá a ser também venerado como “marabuto”, porque junta o sincretismo político ao religioso, não sendo por isso de estranhar vê-lo rezar pela paz na mesquita de Lisboa, dando assim seguimento a um ecumenismo mais lato e sempre presente na portugalidade, como é o caso relativo a Fátima, onde a crendice popular casou as aparições dos mouros fatimidas com o aparecimento da Virgem, o que melhor serviu o catolicismo.
Marcelo está em estado de graça, é fotogénico e teatral, Marcelo é porreiro e parece atemporal, lembrando um treinador de futebol que é obrigado a dirigir jogadores de várias nacionalidades sem perder a sua identidade. Ele casa o rap com o fado, adapta-se a qualquer circunstância, aparece em locais inesperados e está por todo o lado. Ainda não tem cão, mas caso  se torne imperativo, breve aparecerá com uma matilha! Paternalista e aparentemente apostado em devolver à Nação a sua grandeza, intenta ressuscitar nos portugueses o seu orgulho patriótico. Venha o que vier, que nada nem ninguém apanhará o homem desprevenido – ele é um bicho político! Se um rei é preparado ao longo da vida para reinar, a Marcelo só faltava a oportunidade!

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