terça-feira, 23 de janeiro de 2024

PANDEMIA E COMPORTAMENTO CANINO

 

O Royal Veterinary College em Londres, através de uma das suas conferencistas, a Dra. Rowena Packer (na foto seguinte), divulgou um estudo onde conclui que os cães comprados durante a pandemia têm maior probabilidade de serem afectados pela ansiedade da separação e mais agressivos para os outros cães. Por ocasião do Covid-19 e graças ao isolamento a que obrigou, ao número dos cães já existente nos lares britânicos foi acrescentado mais um milhão, com muita gente a ter um cão pela primeira vez. Packer afirma que os cães comprados nessa ocasião parecem apresentar altos índices de problemas de comportamento, como ansiedade de separação e agressão a outros animais, o que tem feito com que muitos proprietários ao lidar com a situação possam “chegar ao limite” e tentar entregar os seus cães para adopção. A conferencista faz saber também que os maus comportamentos dos cães “são, em muitos casos, potencialmente exacerbados pelos proprietários que usam técnicas de treino baseadas na punição” (até onde vai o desespero!).

Quatro em cada cinco proprietários pesquisados, financiados pela instituição de caridade Battersea, e que compraram os seus animais de estimação em 2019 e 2020, relataram o uso de treino aversivo, como gritar, que pode aumentar o medo e a ansiedade. Apenas 18% utilizaram técnicas menos abrasivas, como brinquedos e guloseimas como indução ao bom comportamento. Battersea também afirma ter observado um aumento no número de cães com comportamentos problemáticos ligados à pandemia. Isto seguiu-se a um boom relatado no comércio ilegal de filhotes. Denise Mariner-Chappell, 53 anos, de perto de Wakefield, West Yorks, adquiriu o seu Labrador Ted em 2020. Devido ao confinamento, ela teve dificuldades com “o treino e a socialização”. Ela disse: “Ele é um cachorro louco quando está fora. Ele é simplesmente maníaco. Ele só quer brincar, cheirar e tudo mais, mas não com humanos.” O Ted não pôde frequentar aulas para cachorros durante a pandemia, mas mais tarde veio a ter um treinador. As lesões causadas por cães aumentaram pouco mais de um terço entre 2018 e 2022, segundo foi relatado.

O presente estudo não aparenta ter acrescentado nada dos pontos de vista académico e científico, porque não passa de uma constatação, é generalista, pouco abrangente e pouco rigoroso, evidenciando conceitos científicos há muito aceites e dispensando-se de análises específicas que só enriqueceriam o estudo e que levariam a uma reflexão mais séria e objectiva. Estamos perante uma pseudopesquisa feita a pensar no grande público, que apenas veio reafirmar aquilo que já se sabia.

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