quarta-feira, 3 de janeiro de 2024

HÁ GENTE QUE PARECE IGNORAR OS CÃES QUE TEM

 

Se porventura procura um cão que não o incomode muito e não o meta em trabalhos, saiba que há muitas raças caninas assim, mas por favor, não escolha um Jack Russell Terrier, porque carece de muito exercício, nunca dá mostras de cansaço, adora caçar e fazer buracos, capaz de transformar um orifício de toupeira numa cratera, o que diga-se de passagem não é o mais indicado para o seu jardim. Depois que Charles Darwin deu ao mundo a sua obra “A ORIGEM DAS ESPÉCIES” (1859), os criadores de raças caninas receberam um novo e decisivo alento, na sua maioria de classe alta e endinheirada, donde não podemos excluir os militares e até teólogos, como foi o caso do Rev. John "Jack" Russell (21 de dezembro de 1795 - 28 de abril de 1883), um pároco inglês que serviu como vigário de Swimbridge de 1832 a 1872, um entusiasta caçador de raposas e criador de cães, que desenvolveu o Jack Russell Terrier e o Parson Russell Terrier a partir do Fox Terrier. Segundo reza a lenda local, o Rev. Russell avistou no Exeter College um pequeno terrier branco com manchas castanhas escuras nos olhos, orelhas e na ponta da cauda, que pertencia a um leiteiro local de um pequeno vilarejo próximo. O teólogo comprou imediatamente o cão que curiosamente (digo eu) se chamava “TRUMP” e que veio a ser a base de uma linha de terriers caçadores de raposas ainda hoje conhecida como Jack Russell Terriers, cães adequados, devido ao seu curto comprimento e à força das suas pernas, para desenterrar as raposas que escondem debaixo do chão depois de serem caçadas no solo pelos cães de caça.

Depois deste sumário apontamento histórico, eis-nos finalmente chegados à localidade francesa de Escoussans, no Département de Gironde, onde na quinta-feira, dia 28 de dezembro de2023, uma cadela Jack Russell chamada “Princess”, com 3 anos de idade, decidiu perseguir uma raposa a partir do jardim dos seus donos. Como a pequena cadela sempre voltava das suas incursões, os seus donos não se preocuparam, mas passada uma hora, o seu dono decidiu ir procurá-la até que ouviu uns gemidos vindos do subsolo – ela tinha caído num buraco com 3 metros de profundidade e estava atolada no barro! Junto com o filho e um vizinho, o dono da cadela tentou tirar a cadelinha daquele buraco. Impotentes para o fazer, acabaram por chamar, que apesar de várias horas no local não conseguiram resgatar o animal. A solução veio da Prefeita da localidade, Catherine Bertin, que decidiu chamar um morador, membro de um clube de espeleologia, que contou com a ajuda de mais dois espeleólogos numa operação que durou a noite toda. “No início intervimos com um cinzel, com um pé-de-cabra, tentámos partir a rocha e limpá-la o melhor que podemos”, explicou o espeleólogo amador a um diário regional. A cadela estava presa nas pedras à sua volta. De manhã foi mais tranquilo. Consegui atacar com as duas mãos e apanhei o focinho dela, agarrei depois as suas duas patas dianteiras e puxei-a.” Apesar de 10 horas presa no buraco, a Princess escapou quase ilesa, apenas com alguns arranhões e um bom susto. “É o meu maior presente ”, reagiu, aliviado, o seu dono.

Tão certo como um Husky se pôr em fuga, caso encontre ocasião, é um Jack Russell irar parar a algum buraco, donde poderá sair ou não. Com um Jack Russell em campo aberto e à falta de melhor, nem os grilos poderão cantar descansados dentro das suas tocas. Como se depreende, este não deverá ser o cão indicado para viver nos limites de parques e reservas naturais, porque é para todos os efeitos um “exterminador”, não poupando, entre outros, ouriços; doninhas; ginetas; coelhos e, como não poderia deixar de ser, raposas! Fala-se muito da impropriedade e do “crime” que é ter um cão grande dentro de uma apartamento, mas não será uma violência bem maior pendurar por horas infindas um cão de caça numa janela ou varanda, independentemente do seu tamanho? Eu adoro Jack Russells, vibro com a sua tenacidade, combatividade e resiliência, mas sei que não tenho hoje reunidas as condições para ter um, por isso inspiro-me ao vê-los passar por mim. Se você tem um, mantenha-o sempre “debaixo de olho”, porque ele é um cão típico de aventuras e desventuras!  

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