Se
porventura procura um cão que não o incomode muito e não o meta em trabalhos,
saiba que há muitas raças caninas assim, mas por favor, não escolha um Jack
Russell Terrier, porque carece de muito exercício, nunca dá mostras de cansaço,
adora caçar e fazer buracos, capaz de transformar um orifício de toupeira numa
cratera, o que diga-se de passagem não é o mais indicado para o seu jardim.
Depois que Charles Darwin deu ao mundo a sua obra “A
ORIGEM DAS ESPÉCIES” (1859), os criadores de raças caninas
receberam um novo e decisivo alento, na sua maioria de classe alta e
endinheirada, donde não podemos excluir os militares e até teólogos, como foi o
caso do Rev. John "Jack" Russell (21 de dezembro de 1795 -
28 de abril de 1883), um pároco inglês que serviu como vigário de Swimbridge de
1832 a 1872, um entusiasta caçador de raposas e criador de cães, que
desenvolveu o Jack Russell Terrier e o Parson Russell Terrier a partir do Fox
Terrier. Segundo reza a lenda local, o Rev. Russell avistou no Exeter College um
pequeno terrier branco com manchas castanhas escuras nos olhos, orelhas e na
ponta da cauda, que pertencia a um leiteiro local de um pequeno vilarejo
próximo. O teólogo comprou imediatamente o cão que curiosamente (digo eu) se
chamava “TRUMP”
e que veio a ser a base de uma linha de terriers caçadores de raposas ainda
hoje conhecida como Jack Russell Terriers, cães adequados, devido ao seu curto
comprimento e à força das suas pernas, para desenterrar as raposas que escondem
debaixo do chão depois de serem caçadas no solo pelos cães de caça.
Depois
deste sumário apontamento histórico, eis-nos finalmente chegados à localidade
francesa de Escoussans, no Département de Gironde, onde na quinta-feira, dia 28
de dezembro de2023, uma cadela Jack Russell chamada “Princess”, com 3 anos de
idade, decidiu perseguir uma raposa a partir do jardim dos seus donos. Como a
pequena cadela sempre voltava das suas incursões, os seus donos não se
preocuparam, mas passada uma hora, o seu dono decidiu ir procurá-la até que
ouviu uns gemidos vindos do subsolo – ela tinha caído num buraco com 3 metros
de profundidade e estava atolada no barro! Junto com o filho e um vizinho, o
dono da cadela tentou tirar a cadelinha daquele buraco. Impotentes para o
fazer, acabaram por chamar, que apesar de várias horas no local não conseguiram
resgatar o animal. A solução veio da Prefeita da localidade, Catherine Bertin,
que decidiu chamar um morador, membro de um clube de espeleologia, que contou
com a ajuda de mais dois espeleólogos numa operação que durou a noite toda. “No
início intervimos com um cinzel, com um pé-de-cabra, tentámos partir a rocha e
limpá-la o melhor que podemos”, explicou o espeleólogo amador a um diário
regional. A cadela estava presa nas pedras à sua volta. De manhã foi mais
tranquilo. Consegui atacar com as duas mãos e apanhei o focinho dela, agarrei depois
as suas duas patas dianteiras e puxei-a.” Apesar de 10 horas presa no buraco, a
Princess escapou quase ilesa, apenas com alguns arranhões e um bom susto. “É o
meu maior presente ”, reagiu, aliviado, o seu dono.
Tão certo como um Husky se pôr em fuga, caso encontre ocasião, é um Jack Russell irar parar a algum buraco, donde poderá sair ou não. Com um Jack Russell em campo aberto e à falta de melhor, nem os grilos poderão cantar descansados dentro das suas tocas. Como se depreende, este não deverá ser o cão indicado para viver nos limites de parques e reservas naturais, porque é para todos os efeitos um “exterminador”, não poupando, entre outros, ouriços; doninhas; ginetas; coelhos e, como não poderia deixar de ser, raposas! Fala-se muito da impropriedade e do “crime” que é ter um cão grande dentro de uma apartamento, mas não será uma violência bem maior pendurar por horas infindas um cão de caça numa janela ou varanda, independentemente do seu tamanho? Eu adoro Jack Russells, vibro com a sua tenacidade, combatividade e resiliência, mas sei que não tenho hoje reunidas as condições para ter um, por isso inspiro-me ao vê-los passar por mim. Se você tem um, mantenha-o sempre “debaixo de olho”, porque ele é um cão típico de aventuras e desventuras!
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